Na manhã de sábado, 7 de outubro, que prometia ser tranquila, o enfermeiro Dolev Yehud, 35 anos, teve uma surpresa. Nos jardins do kibutz Nir Oz, ouviu gritos e tiros muito próximos à casa onde mora.
Os quatro só não foram pegos porque os terroristas não conseguiram arrombar a porta, apesar de terem tentado de todas as maneiras.
“Minha filha e os meus netos ficaram trancados por nove horas, sem comida nem água e em meio a uma tensão sobre-humana”, conta a Oeste o pai dela, Marcelo Aloni, 62 anos, que mora em Israel desde 1977.
Desde então, não há mais notícias de Dolev.
Naquele dia, Sigal estava na 37ª semana de gravidez, junto com o marido. Vivia, segundo Marcelo, a expectativa de receber a quarta filha, Dor. A criança nasceu em 16 de outubro, nove dias depois da invasão, sem a presença do pai.
“Minha filha deu à luz sozinha, não estava com o marido”, lamenta Marcelo, que vive em Eshkol, no kibutz Gvulot, com a mulher, Débora, 63 anos, brasileira nascida em São Paulo, que imigrou para Israel em 1978.
“O pai da criança não estava junto, como sempre deve ocorrer em um momento maravilhoso como esse, quando uma mulher dá à luz.”
Marcelo acrescenta que, para os familiares, o fato de o marido de Sigal, a irmã, o namorado e seus familiares ainda estarem com os sequestradores é uma maneira de perpetuar o drama. Para a família, 7 de outubro está presente a cada dia, enquanto eles não retornarem.
“Aquele massacre para nós não acabou”, diz ele. “Estamos completamente exaustos para saber algo, não recebemos uma notícia sequer sobre como eles estão, não sabemos se estão bem ou não, é terrível viver com tanta incerteza, angústia.”
Sigal e Dolev se conhecem desde os 12 anos. Passaram a infância juntos, pelas trilhas do kibutz, aproveitando a vida comunitária, as brincadeiras entre amigos, conforme conta o sogro.
“Viveram desde cedo um clima de harmonia”, lembra Marcelo, diretor de produção de uma empresa de embalagens, em Eshkol.
“Foram educados em um clima de gentileza, solidariedade. Dolev é um ser humano educado para ajudar os outros e assim se tornou um pai e um marido íntegro.”
Neste momento, Sigal está morando em um hotel em Eilat, com os quatro filhos, financiados pelo governo. Eles perderam tudo em Nir Oz. O Hamas destruiu e incendiou casas e carros.
“Não sobrou nada para eles”, destaca o pai de Sigal. “Mas minha filha está forte, ela é determinada e não perde a esperança.”
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Marcelo afirma que, na família, há uma preocupação de evitar que todo o clima de apreensão contamine o ânimo das crianças. Principalmente da recém-nascida, Dor, que ainda não teve contato com o pai.
“Minha filha é professora, o que ela gosta e sabe fazer é educar”, observa ele.
“Neste momento está se desdobrando para colocar as coisas no devido lugar, educando e mantendo as crianças animadas o máximo de tempo possível.”
A mãe de Sigal está ao lado da filha o tempo inteiro em Eilat. Marcelo teve de, três semanas depois dos ataques, voltar a trabalhar. Vê a família nos finais de semana.
Nem por isso, o drama ficou mais distante para ele. O pai de Sigal revela que encontrou nos pensamentos positivos um calmante para encarar cada dia que se inicia.