O apresentador de televisão e dono do SBT, Senor Abravanel (o Silvio Santos), morreu neste sábado, 17, aos 93 anos. Natural do Rio de Janeiro, ele deixa a mulher, Íris, seis filhas e três netos. Silvio estava afastado da TV desde setembro de 2022.
Nas redes sociais, o SBT se manifestou. “Hoje, o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos”, informou a emissora. “Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros. A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria. Para nós, o Senor Abravanel é ainda mais especial e somos muito felizes pelo presente que Deus nos deu e por todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Aquele sorriso largo e voz tão familiar será para sempre lembrada com muita gratidão. Descansa em Paz que vc sempre será eterno em nossos corações.”
A causa da morte de Silvio Santos não foi divulgada. O apresentador estava internado desde o dia 1º de agosto no Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
Filho de um imigrante grego e uma imigrante turca, Silvio começou a trabalhar ainda na adolescência. Aos 14 anos, conforme o Museu Brasileiro de Rádio e Televisão, se virava como camelô no centro da capital fluminense, onde chegou a vender carteirinhas para quem precisasse tirar ou renovar o título de eleitor.
Enquanto camelô, o então jovem Senor Abravanel começou a colocar em prática seu talento para a comunicação. Trabalhando nas barcas da travessia Rio-Niterói, mais do que vendia produtos. Colocava música, contava histórias, distribuía cartelas de bingo e realizava sorteios. Enfim, animava os passageiros.
Surge o comunicador Silvio Santos
Ao se destacar como um animado camelô, ele teve a sua primeira oportunidade na imprensa profissional em 1948, quando foi contratado pela Rádio Guanabara, do Rio de Janeiro. Na sequência, passou por outras três emissoras cariocas, lembra a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão: Mauá, Tupi e Continental.
Já com o nome artístico de Silvio Santos, Abravanel trocou o Rio de Janeiro por São Paulo ao ser contratado pela Rádio Nacional SP. Na emissora, conheceu Marcelo de Nóbrega — criador do programa Praça da Alegria e pai do apresentador Carlos Alberto de Nóbrega —, de quem, anos mais tarde, comprou o Baú da Felicidade.
Silvio permaneceu na Rádio Nacional até 1977. De lá, foi para a Rádio Record, onde apresentou o Programa Silvio Santos, informa Rafael Barbosa Fialho Martins no artigo “Silvio Santos no rádio: uma história a ser contada”, publicado pela Universidade Federal do Piauí. Décadas depois, a atração permanece no ar na televisão com este mesmo nome — apesar de nos últimos meses ser apresentada por Patrícia Abravanel, uma de suas filhas.
Empresário, apresentador e dono de emissora de TV
Em São Paulo, Silvio Santos passou a conciliar trabalhos no rádio e na televisão a partir da década de 1950. Primeiramente, foi apresentador da TV Paulista e deixou a emissora em meados dos anos 1970, depois que ela passou para o controle de Roberto Marinho e se transformou na Rede Globo. Ainda nos anos 70, passou pelas tevês Tupi e Record, onde chegou a deter 40% das ações.
Silvio Santos passou a ser dono de sua própria emissora de TV no início da década de 1981. De acordo com registros do Museu Brasileiro de Rádio e Televisão, às 10 horas de 19 de agosto de 1981, entrou no ar a TVS, que mudou de nome para SBT e, atualmente, conta com sete canais próprios e mais de 70 afiliadas e retransmissoras espalhadas por todo o país.
Dono do SBT, ele seguiu como apresentador e investiu, cada vez mais, em negócios como empresário. Atualmente, a holding criada por ele — o Grupo Silvio Santos — controla o Hotel Jequitimar, a fabricante de cosméticos Jequiti (e que passou a deter a marca Baú da Felicidade), a Liderança Capitalização (responsável pela Tele Sena), a TV Alphaville e a Sisan Empreendimentos Imobiliários. A companhia também controlou o Banco Panamericano, que foi vendido em 2011 ao BTG Pactual, por R$ 450 milhões.
Trabalho eternizado em livros, série e peça
Como mais de sete décadas de carreira no rádio e na televisão, onde sempre se destacou pela audiência, Silvio Santos inspirou obras. Somente em 2017 duas biografias foram lançadas: Silvio Santos — Vida, luta e glória (Avec), escrita por Rubens Francisco Lucchetti e desenhada por Sérgio M. Lima; e Silvio Santos — A trajetória do mito (Matrix), de Fernando Morgado. Em parceria, Marcia Batista e Anna Medeiros lançaram dois livros sobre o apresentador pela editora Universo dos Livros: Silvio Santos — A biografia e Silvio Santos — A biografia definitiva.
Além de livros, a história de Silvio teve vez no teatro em série produzida por serviço de streaming. Lançada em 2020, a comédia musical “Silvio Santos Vem Aí” ganhou vez nos palcos de São Paulo. Já esteve em cartaz, por exemplo, nos teatros 033 Rooftop e Procópio Ferreira.
Ator que já trabalhou em novelas do SBT, Velson D’Souza foi o responsável por interpretar Silvio no teatro. Em 2021, ele falou sobre esse trabalho. Conforme a equipe de comunicação da peça, um dos desafios foi passar, em poucas horas, por diversas fases do apresentador.
“O grande lance é não ficar aquela caricatura do Silvio Santos que todo mundo faz”, disse D’Souza. “Isso também funciona para o gestual. Tem a questão da mão, que é muito presente, toda aquela postura altiva e elegante do Silvio. Eu acho que temos que entender isso e atravessar. Quando ele era jovem, provavelmente não era igual ao que é hoje. Mas temos que fazer algo que lembre como ele é hoje.”
Silvio Santos também é personagem central da série “O Rei da TV”, com o comunicador sendo interpretado pelo experiente ator José Rubens Chacá. Lançada em 2022, a produção é exibida pela plataforma Star Plus e ganhou a segunda temporada neste ano.
Silvio Santos foi candidato a presidente da República
Na apresentação da obra escrita Morgado, que além de escritor é professor universitário, a Matrix Editora reforça que o livro vai além de apresentar a linha do tempo de Silvio enquanto profissional da radiodifusão brasileira.
“Formou um grupo empresarial bilionário, com milhares de empregados em todo o Brasil”, informa a editora em seu site. “Tentou ser prefeito, governador e até presidente. Cercou sua vida pessoal de mistérios, cultivados pela distância que mantém dos repórteres. Mesmo assim, ao longo da carreira, já causou polêmica ao opinar sobre diversos assuntos: de empreendedorismo até homossexualidade, passando por economia, sexo, drogas e política.”
E a parte política de Silvio Santos teve nas eleições presidenciais de 1989 o seu ápice. Na ocasião, o já consagrado apresentador e dono do SBT se lançou pelo Partido Municipalista Brasileiro. A candidatura, contudo, foi indeferida uma semana antes da realização do primeiro turno pelo Tribunal Superior Eleitoral, que também cassou o registro da legenda, que não teria realizado o número necessários de convenções para lançar Silvio à Presidência da República.
Assim, sem nunca ter desempenhado cargo público, o ex-camelô Senor Abravanel deu durante décadas vida ao empresário, apresentador e dono de emissora de televisão conhecido pelo público brasileiro pela alcunha Silvio Santos, um “mito”, segundo as palavras do escritor Fernando Morgado.