A economista e ex-deputada federal Maria da Conceição Tavares (PT) morreu neste sábado, 8, em Nova Friburgo (RJ), aos 94 anos. A notícia foi confirmada pela família, que não divulgou a causa da morte. Ela deixa dois filhos, Laura e Bruno, dois netos, Ivan e Leon, e o bisneto Théo.
Nascida em Portugal, em 24 de abril de 1930, durante a Grande Depressão, Maria da Conceição Tavares foi uma figura central no pensamento desenvolvimentista brasileiro e militante de esquerda. Em 2018, foi homenageada por seus 88 anos.
Em entrevista ao jornal O Globo, expressou pessimismo com a situação do Brasil, mas tinha esperança nos jovens. “Continuo querendo uma democracia multirracial nos trópicos, que era a tese de Darcy Ribeiro”, disse Maria da Conceição. “Isso era realmente o que eu queria ver, mas por enquanto não tem.”
Maria da Conceição chegou ao Brasil em 1954 e se tornou cidadã brasileira em 1957. Foi uma crítica feroz da política econômica do Regime Militar e dos planos liberais de Fernando Henrique Cardoso.
Durante o Regime Militar, exilou-se no Chile, onde trabalhou na Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Foi uma defensora do modelo nacional desenvolvimentista, com foco na substituição de importações.
Em 1974, Maria da Conceição foi presa pelo Regime Militar e passou 48 horas nos porões do Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) no Rio.
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A prisão foi resultado de uma disputa interna de poder no governo de Ernesto Geisel. Seu texto, de 1972, Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações no Brasil, é uma leitura essencial sobre o tema.
A economista foi filiada ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) de 1980 até 1989. Em 1994, Maria da Conceição se filiou ao Partido dos Trabalhadores (PT), pelo qual disputou e foi eleita deputada federal pelo Rio de Janeiro. Ela atuou na Câmara dos Deputados entre 1995 e 1999.
Maria da Conceição criou curso na Unicamp
Maria da Conceição ajudou a criar a pós-graduação em economia no Brasil e o Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), junto com Mário Henrique Simonsen, Delfim Netto e João Paulo dos Reis Velloso. Escreveu mais de dez livros e ganhou o Prêmio Jabuti de Economia em 1998.
A economista foi tema de um filme do cineasta José Mariani, lançado em seu aniversário de 88 anos. O documentário aborda seu pensamento livre.
“O livre pensar, de todos os direitos, tem sido o mais recorrentemente violado”, disse Maria da Conceição. “Sempre provoca, desde a antiguidade, horror nas sociedades estabelecidas.”
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Sua amiga pessoal, Hildete Pereira de Mello, organizou um livro sobre ela, quando destacou sua luta e conquistas. “Conceição cientista e mulher política se confundem”, escreveu Hildete. “Ela rompeu todas as barreiras que ainda hoje relegam às mulheres tanto no cenário político como no científico do mundo atual.”