O Monte Everest – a montanha mais alta do mundo – fica mais (um pouquinho) mais alta a cada ano. Nos últimos 89 mil anos, a altura da montanha cresceu de 15 a 50 metros. Pelo menos, é o que aponta um estudo divulgado nesta semana.
“O maior impacto é provavelmente sobre os alpinistas, que terão que escalar por volta de 20 metros a mais [para chegarem] até o topo”, disse Matthew Fox, coautor do estudo e geólogo do University College London, em entrevista ao jornal Washington Post.
Monte Everest cresce por conta de ‘captura de rio’ que aconteceu há quase 90 mil anos, diz estudo
Esses metros extras no Monte Everest podem ser atribuídos a um evento relativamente raro de “captura de rio” que ocorreu há 89 mil anos, de acordo com os modelos computacionais dos autores.
- Explicando: durante esse tipo de evento, um rio muda seu curso, interage com outro e rouba sua água, segundo Fox.
O que pode ter acontecido, segundo o estudo, é o seguinte:
- A rede de rios Arun — a cerca de 75 quilômetros a leste do Monte Everest — roubou água de um rio que fluía ao norte do Everest;
- A captura pode ter sido iniciada por uma inundação dramática, que redirecionou a água para uma nova rede de drenagem;
- Atualmente, o rio Arun é um dos principais afluentes do rio Kosi ao sul – isto é, o Arun deságua no Kosi.
“Ok, mas e daí?” À medida que mais água começou a fluir no rio Arun, as taxas de erosão aumentaram. E o estudo sugere que o crescimento do Monte Everest ocorre por conta desse aumento da erosão. Isso porque ela empurra a terra para baixo – e isso faz com que o solo sob o Monte Everest se recupere e se eleve.
No cientifiquês: conforme os milênios passaram, o curso d’água esculpiu um grande desfiladeiro ao longo de suas margens e lavou bilhões de toneladas de sedimentos e terra. Essa enorme perda de massa fez com que a terra circundante se elevasse lentamente, num processo conhecido como rebote isostático.
Ressalvas e contrapontos
Como costuma acontecer na ciência, os apontamentos do estudo não convenceram todos os pesquisadores. O geólogo Mike Searle, que não participou da pesquisa, disse ao Washington Post que se considera cético em relação às ditas descobertas do estudo em questão.
Em suma, a discussão é a seguinte:
- Um lado: Para o professor de Oxford, que realizou sua própria pesquisa de campo sobre rochas no Everest e no Makalu, a modelagem se baseia mais em suposições do que em observações. Searle apontou que é difícil relacionar a “captura de rios” à elevação do Monte Everest, especialmente quando ocorre a dezenas de quilômetros de distância;
- Outro lado: Fox disse que a equipe não desconsiderou fatores concorrentes que também poderiam influenciar a elevação do Everest. E acrescentou que a “captura” do rio realmente influencia o crescimento da montanha.