A evolução da humanidade ainda guarda alguns segredos. Por exemplo, como os nossos antepassados conseguiram migrar da África para a Europa? A paisagem desértica no nordeste africano e no Oriente Médio, caminhos obrigatórios para se chegar ao continente europeu, é impiedosa, com comida e água sendo escassas na região. Mas pesquisadores da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, podem ter uma resposta para a questão.
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Saída dos nossos antepassados da África
- O Homo erectus é considerado o primeiro ancestral humano a se espalhar pela Eurásia.
- Ele teria migrado para fora da África há cerca de 2,1 milhões de anos.
- No entanto, os historiadores sempre tiveram dúvidas de como essa população conseguiu atravessar vastos desertos durante essa jornada.
- Agora, um estudo publicado na revista Communications Earth & Environment apresenta uma potencial resposta para isso.
O Saara não era um deserto?
Os pesquisadores sugerem que o Homo erectus não precisou viajar pelo deserto.
Sabemos que há períodos recorrentes em que o clima no Saara muda. Chamamos o fenômeno de “Saara Verde” ou “Períodos Úmidos Africanos”. Durante um período verde, o deserto encolhe significativamente e se transforma em uma paisagem que se assemelha às savanas que conhecemos da África Oriental hoje.
Rachel Lupien, uma das autoras do estudo
De acordo com o trabalho, esse fenômeno pode ter atingido o pico justamente há cerca de 2,1 milhões de anos, possibilitando que o Homo erectus viajasse pela região sem maiores problemas.
Os pesquisadores destacam que o Saara experimenta alternâncias significativas de clima a cada 20 mil anos, passando de grandes períodos de seca para estações chuvosas. O grau de umidade na região varia, mas o estudo indica que ele estava bastante alto no período de tempo em que houve a migração dos nossos antepassados.
Clima era diferente e menos hostil
Os autores da pesquisa usaram amostras de núcleo do Mar Mediterrâneo para projetar como era o clima há milhões de anos. Camadas de sedimentos do solo sopradas pelo vento são formadas no fundo do mar com o passar do tempo, oferecendo um verdadeiro mapa das mudanças climáticas no período.
Um desses marcadores de tempo é a cera que as plantas usam para proteger suas folhas. As moléculas de hidrogênio presentes nelas podem ser usadas para determinar os níveis de precipitação na época.
Apesar da quantidade de hidrogênio na cera nos dizer quando e o quanto choveu no passado, ela não revela nada sobre como eram as plantas que prosperaram na época. No entanto, os átomos de carbono contidos nas ceras podem oferecer essa resposta.
Em linhas gerais, existem dois tipos de plantas. Cerca de 90% de todas as plantas são C3. Elas prosperam na maioria das partes do globo, exceto em áreas secas ou muito quentes. As plantas C4, por outro lado, são especializadas para sobreviver em áreas onde a chuva raramente cai e a temperatura é alta.
Rachel Lupien, uma das autoras do estudo
As plantas C3 e C4 produzem cera foliar com diferentes quantidades de carbono pesado, permitindo que os pesquisadores identifiquem quais eram dominantes em uma determinada época. A conclusão foi que que as primeiras eram abundantes no período em que o Homo erectus estava deixando a África. Em outras palavras, havia água suficiente para que essas plantas sobreviessem na região onde hoje está o deserto.
O clima, portanto, provavelmente facilitou essa migração, segundo o estudo. As informações são da IFLScience.