domingo, novembro 24, 2024
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Minuta de golpe e cerco da PF a Bolsonaro reforçam polarização com Lula em ano eleitoral

O cerco ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após a Operação Tempus Veritatis — autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e deflagrada pela Polícia Federal (PF), na última quinta-feira (8) — reforçou a polarização com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em ano eleitoral.

A ação investiga uma organização criminosa que atuou na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito. Ao todo, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro de prisão preventiva e 48 medidas cautelares.

Como efeito da operação, Bolsonaro teve seu passaporte apreendido e está proibido de deixar o país. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi preso por porte ilegal de arma.

Segundo a PF, o ex-chefe do Executivo teria ajustado a minuta de golpe de Estado apresentado a ele por Filipe Martins e Amauri Feeres Saad, tirando do texto pedidos de prisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e do presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Lula disse em entrevista à Itatiaia que deseja Bolsonaro tenha “a presunção de inocência, que eu não tive”.

“O que eu quero é que seja investigado e que seja apurado. Quem tiver responsabilidade pelos seus erros, que pague pelos seus erros”, afirmou o presidente da República.

 

De acordo com a analista de política da CNN Clarissa Oliveira, a base de Lula estava calada e em clima de apreensão durante a manhã da última quarta-feira, esperando o que surgiria após a execução dos mandados.

Os apoiadores do presidente buscavam entender quais eram as informações e os elementos que subsidiavam a operação. Entretanto, o clima mudaria após a deflagração de fato.

“É claro que, em geral, a gente ainda via alguma ressalva para sapatear mesmo em cima dessa operação, mas uma que gente conversava em reservado, o clima era de absoluta comemoração”, relatou Oliveira.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, pelas redes sociais, endureceu o discurso contra Bolsonaro. Referindo-se ao nome da operação Tempus Veritatis, Gleisi disse que “o tempo da verdade chegou”.

“Jair Bolsonaro comandou uma tentativa de golpe contra Lula e contra a Democracia, em articulação com seus cúmplices civis e militares, inclusive ex-ministros e altas patentes”, escreveu Gleisi.

A partir da consolidação dos fatos, o senador Humberto Costa (PT-PE) encaminhou ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, um pedido de abertura de inquérito contra o PL por financiamento de atividades ilegais para invalidar o resultado das eleições presidenciais de 2022.

Foi apontado pela PF a utilização indevida da estrutura do partido para o planejamento de uma trama golpista, com intenção de reverter a eleição de Lula.

No relatório que baseou a operação, investigadores apontam a sede do PL como o “QG do Golpe”, espécie de núcleo para “assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado”.

No requerimento feito à Procuradoria-Geral da República, Humberto Costa defende ainda a cassação do registro do partido, caso os fatos apurados sejam confirmados.

Para Jairo Pimentel, pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é provável que o núcleo mais ideológico do governo Lula faça coro para que as investigações cheguem as últimas consequências na punição aos envolvidos na tentativa de golpe de Estado.

Já o núcleo mais pragmático, “vai olhar mais para suas bases eleitorais para medir o impacto da tomada de partido neste caso”. Pimentel usa o exemplo do PSD ou Republicanos, que possuem ministérios no governo Lula, mas, ao mesmo tempo, apoiam o governador Tarcísio de Freitas em São Paulo.

“De qualquer forma, ao fazer coro com as punições, o governo tem que ter em mente que a linha de discurso necessita ser mais institucional, para se evitar que a questão passe do campo jurídico para o partidarizado”, expressa o cientista político.

Segundo observa o analista de política da CNN Pedro Venceslau, a oposição ainda não encontrou estratégia para reagir e está acuada no momento.

Em uma entrevista coletiva no fim da tarde, o senador Rogério Marinho (PL-RN), líder da oposição, afirmou que Moraes não pode ser vítima e julgar as ações que estão em curso.

Venceslau cita que há uma reclamação muito grande por parte do PL, “que foi atingido em cheio”. Valdemar e Bolsonaro não podem dialogar, nem por meio de advogados após a decisão de Moraes.

“O PL vai ter que agora fazer uma conversa para achar uma estratégia de redução de danos. Sobretudo redução de danos para os aliados que vão disputar eleições municipais, que estão numa saia justa neste momento”, explica.

Exemplificando a questão, o analista diz que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que costurou um apoio com Bolsonaro, “está numa saia justa”.

“O Guilherme Boulos postou pelo menos quatro mensagens nas redes sociais tripudiando em cima da ação, relembrando a aliança do prefeito Ricardo Nunes com Jair Bolsonaro”, continua Venceslau.

O mesmo acontece no Rio de Janeiro, que tem como pré-candidato pelo PL à prefeita o deputado Alexandre Ramagem, que está sendo investigado na ação que investiga a interferência na Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

“O coordenador da campanha dele é o Carlos Bolsonaro, que também é investigado. Ou seja, uma campanha que também vai entrar no processo eleitoral, já sob os holofotes, tendo que responder sobre uma agenda negativa imediata. Isso vai acontecer em todas as capitais brasileira onde o PL tem candidato”, finaliza o analista da CNN.

Jairo Pimentel observa que a prisão de Valdemar pode deixar um vácuo de liderança dentro do partido, afetando a forma como será distribuído os recursos aos candidatos.

A incerteza, em sua opinião, “pode afetar o desempenho dos mesmos nas disputas locais deste ano. Pode ser uma situação momentânea, mas gera instabilidade interna na legenda”.

Via CNN

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