Wolney Queiroz, atual ministro da Previdência Social, participou de uma reunião com o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, dentro do ministério, em janeiro de 2023. O portal Metrópoles revelou, com exclusividade, as informações nesta terça-feira, 3.
O encontro, realizado dias depois do início do governo Lula, reuniu também três ex-dirigentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Atualmente, eles são investigados por participação no esquema bilionário de fraudes envolvendo descontos indevidos em aposentadorias.
À época, Wolney ainda era deputado federal e havia sido indicado para assumir o cargo de secretário-executivo da pasta, o que só ocorreu formalmente em fevereiro.
Apesar disso, participou da reunião presencial, que não aparece em agendas oficiais. A Polícia Federal (PF) cita o lobista como o principal operador do esquema criminoso que movimentou R$ 6,3 bilhões desde 2019.
Além de Antonio, os então diretores do INSS André Fidelis, responsável pela área de Benefícios, e Alexandre Guimarães, da Governança, participaram da reunião.
O procurador-geral do órgão, Virgílio Oliveira Filho, também participou da reunião. As autoridades investigam todos por suspeita de envolvimento direto no esquema.
Segundo a investigação, as entidades beneficiadas pelas fraudes repassaram milhões ao grupo. Apenas do Careca do INSS, as transferências somaram R$ 9,3 milhões entre 2023 e 2024.
A PF indica que Virgílio Oliveira recebeu R$ 11,9 milhões; André Fidelis, R$ 5,1 milhões; e Alexandre Guimarães, R$ 313 mil. O lobista também doou um Porsche, avaliado em R$ 500 mil, à mulher de Virgílio.
O ministro afirma que Virgílio organizou a reunião e não o informou previamente sobre os participantes. A imagem do encontro circula nas redes e mostra Wolney no centro da mesa, ao lado de investigados.
Encontro de ministro fora da agenda reforça tensão no governo
A reunião de janeiro não aparece na agenda oficial de nenhum dos participantes. Como Wolney ainda era parlamentar, a lei não o obrigava a divulgar compromissos.
Mesmo assim, o encontro gerou constrangimento político. Em maio, senadores questionaram o ministro no plenário, e ele declarou que não tem relação com o lobista e não se lembra de tê-lo encontrado.
“Olha, eu posso ter, eventualmente, me encontrado com alguns deles, não me lembro de tê-los recebido, mas eventualmente posso ter recebido”, respondeu ao senador Sergio Moro (União-PR), que o indagou sobre a relação com empresários e lobistas envolvidos no escândalo.
Em nota, Wolney afirmou que a reunião de 12 de janeiro de 2023 teve caráter técnico e serviu para apresentar um panorama da pasta no processo de transição. Segundo ele, Virgílio, então consultor jurídico do ministério, organizou o encontro por conta própria.
“O grupo foi montado por Oliveira Filho, sem anuência prévia de Wolney sobre os participantes”, diz o texto. “O ministro não tem qualquer relação com investigados pela Polícia Federal. Sua longa trajetória na vida pública sempre foi pautada por transparência, integridade e compromisso com o interesse público.”