“Morte ao socialismo!”, gritou Javier Milei ao entrar no palco do Madrid Economic Forum. O hino libertário Yo soy el león vibrava nos alto-falantes. A frase soou como uma crítica ao atual establishment espanhol. Na capital da Espanha governada por um socialista, Pedro Sanchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), conforme relata o Clarin. O presidente argentino não pediu licença. Chegou afiado e saiu ovacionado.
Ao fundo, quando já deixava o palco, tocava Vamos por la gloria, da banda argentina La Berisso. Mas antes disso, Milei, que participou do evento realizado neste domingo, 8, despejou uma saraivada de mensagens, planos econômicos e provocações diretas. Deixou claro que, se depender dele, “contra os socialistas de m…, eu sempre vou estar do seu lado.”
A atmosfera era de show de rock. Não por acaso, foi tratado como um Rolling Stone no Palácio Vistalegre, palco onde, há pouco mais de um ano, também havia se apresentado no festival do partido espanhol Vox.
Naquela ocasião, sem citar nomes, chamou de corrupta a mulher do primeiro-ministro Pedro Sánchez, o que, lembra o jornal, detonou uma crise diplomática que durou cinco meses e resultou na retirada da embaixadora espanhola de Buenos Aires.
Neste retorno a Madri, Milei foi a estrela máxima do fórum. O evento privado é organizado por empresas de Andorra e patrocinado por uma cripto que, aliás, já havia criticado o argentino por promover a memecoin $LIBRA, em fevereiro último.
Cerca de 7,5 mil pessoas desembolsaram entre 150 e 7,5 mil euros para ver, ouvir e aplaudir Milei ao vivo. Ele não apenas discursou. Tomou conta do evento, conforme relata o jornal.
O público, inflamado, chegou a entoar cânticos como “Pedro Sánchez, hijo de p…”, enquanto Milei ironizava: “Enquanto vocês detonavam o bandido local, eu recuperava o ar.”
Mesmo sendo um fórum de perfil internacional, Milei tratou de temas domésticos. Deixou escapar planos para um eventual segundo mandato, ao dizer que pretende “implementar uma reforma tributária que permita a competição entre os estados provinciais para que também possam reduzir impostos.”
Ele ainda citou Diego Valenzuela, único prefeito libertário da Grande Buenos Aires: “As empresas estão se mudando dos municípios kirchneristas asfixiantes para Tres de Febrero.”
Com ares de campanha antecipada, cravou: “Estamos trabalhando em uma reforma tributária”, adiantou MIlei. “Se a economia argentina continuar nesse ritmo até 2031 e eu for reeleito, poderíamos estar devolvendo aos argentinos mais de US$ 500 bilhões.”
No campo fiscal, falou em tom de rompimento: “O Estado é uma organização criminosa”, disse. “Os impostos são um roubo. No ano passado, não apenas paramos de enganar os argentinos, como também reduzimos os tributos em dois pontos do PIB. Nunca se fez isso antes.”
Milei exalta política liberal
Ao defender o corte de gastos públicos, afirmou: “O ajuste tinha que ser feito pelo parasita, tinha que recair sobre o setor público.” O discurso também contou, em meio a aplausos, com a exposição de dados. “Não só não houve queda do PIB, como subiu 6% em relação ao mesmo período de 2023.”
E exaltou sua política liberal ao ressaltar que a Argentina hoje é “um dos cinco países do mundo que não tem déficit fiscal”.
A imprensa também foi alvo das impetuosas palavras do presidente:
“Diziam que eu não me atreveria a abrir o controle cambial em um ano eleitoral”, lembrou Milei, com eloquência. “A mídia lixo e os jornalistas corruptos espalhavam notícias imundas. Não odiamos o suficiente os jornalistas.”
Ele não paro de elogiar o governo. Ou melhor, de se autoelogiar.
“Mesmo estando em ano eleitoral, abrimos o controle cambial e hoje o câmbio está muito mais próximo do piso da banda de flutuação”. E emendou. “De novo, ponto para o governo.”
Também não deixou de cutucar aqueles que não viam solução para a hiperinflação que estava se tornando sinônimo de Argentina.
“Diziam que ia ficar entre 5% e 7%”, observou o presidente do país. “Este mês deve romper os 2%. No ano que vem, a inflação na Argentina será coisa do passado.”
Ao encerrar, ainda rebateu as previsões de impopularidade:
“Ao contrário do que todos pensavam, a imagem do governo não caiu”, garantiu. “Pelo contrário: está mais alta do que quando assumimos. Se o ajuste recai sobre a casta política, a popularidade sobe. Porque é devolver recursos ao povo.”
Aplaudido, ovacionado, Milei deixou Madri do jeito que gosta: em alta e em embate com a esquerda. Um último grito, no entanto, prevaleceu sobre todo o alarido. Era como um lamento, direcionado ao atual governo espanhol. Uma mistura de desabafo e sonho foi dirigida ao libertário. Da plateia, ele ouviu: “Te necesitamos aquí!”