Um vídeo divulgado nas redes sociais da Marinha do Brasil, no domingo 1º, que faz alusão à comemoração do Dia do Marinheiro, em 13 de dezembro, chamou a atenção quando ao final da peça publicitária é lançado o convite “privilégios? Vem para a Marinha!”.
Depois da repercussão do vídeo, os supersalários de servidores da Marinha levantaram questionamentos.
De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, em agosto deste ano, o irmão do contra-almirante Alexandre Taumaturgo Pavoni recebeu uma remuneração líquida equivalente a R$ 216,3 mil. Pavoni é o responsável pelo Centro de Comunicação Social da Marinha (CCSM), órgão que produziu o vídeo. A Marinha explicou que os pagamentos seguem o que determina a legislação. Segundo a instituição, a peça exalta o esforço constante de seus integrantes.
Departamento comandado por irmão de contra-almirante é responsável por divulgar ações da Força
Desde abril de 2023, Taumaturgo Pavoni comanda o CCSM. Esse departamento tem como função divulgar as ações da Marinha. Seu irmão, o capitão-de-mar-e-guerra Leonardo Pavoni, ocupou o cargo de assessor junto à missão permanente do Brasil na ONU.
Ao chegarmos em dezembro, homenageamos os Marinheiros e Fuzileiros, que abdicam de suas famílias e dos momentos de lazer para proteger as riquezas do Brasil no mar. #DiaDoMarinheiro #VemPraMarinha pic.twitter.com/ItibdCLh3j
— Marinha do Brasil (@marmilbr) December 1, 2024
Em agosto, Leonardo recebeu US$ 14,1 mil de salário líquido. Além disso, acumulou US$ 21,5 mil em verbas indenizatórias. Ele foi nomeado em 12 de maio de 2021 e exerceu a função entre setembro de 2022 e setembro de 2024.
No mesmo mês, o militar Alexandre Nonato Nogueira recebeu o maior contracheque no exterior. O valor somou o equivalente a R$ 220,8 mil. Ao todo, 821 militares da Marinha receberam salários em dólares em agosto.
Os pagamentos totalizaram US$ 7,2 milhões, ou cerca de R$ 44 milhões. Entre esses militares, 41 oficiais acumulam remunerações que ultrapassam R$ 100 mil. Marcelo Maza Quadros, atualmente adido militar na Arábia Saudita, e Christian Drummond Hingst, que representa a Marinha em Londres, estão entre eles.
A peça publicitária também gerou críticas. No governo, foi considerada inadequada. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou-a como “grave erro”. A Marinha, por outro lado, afirmou que o vídeo homenageia seus profissionais e busca inspirar jovens para a carreira naval. A instituição destacou que não utilizou recursos externos nem inteligência artificial na produção.
O vídeo divulgado pela Marinha é um grave erro. Ninguém duvida que o serviço militar exige esforço e sacrifícios pessoais, especialmente da tropa que se arrisca nos treinamentos e faz o serviço pesado. Isso não faz dos militares cidadãos mais merecedores de respeito do que a…
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) December 2, 2024
Marinha destaca militares para postos de combate em outros países
A Marinha, além de destacar militares para postos de combate em outros países, também designa adidos militares para atuarem em embaixadas brasileiras ao redor do mundo.
Entre os maiores salários em dólares pagos em agosto, o terceiro lugar foi ocupado pelo capitão-de-mar-e-guerra Marcelo Maza Quadros. Ele atualmente exerce a função de adido militar na embaixada brasileira na Arábia Saudita. Neste mês, seu salário líquido, já considerando os descontos, foi de US$ 16,4 mil. Além disso, ele recebeu US$ 7,7 mil em verbas indenizatórias.
Na sequência, em quarto lugar, está Christian Drummond Hingst. Ele representa a Marinha na capital do Reino Unido, Londres, também ocupando o cargo de adido militar.
O vídeo divulgado pela Marinha surge logo depois do Ministério da Fazenda, sob a liderança do ministro Fernando Haddad, firmar um acordo com o Ministério da Defesa para endurecer as regras da previdência dos militares.
O acordo inclui quatro medidas principais, entre elas a criação de uma idade mínima de 55 anos para a aposentadoria. Além disso, a nova normativa prevê o fim da chamada “morte ficta”, que permitia o pagamento de pensão às famílias de militares expulsos por mau comportamento, e o término da transferência de pensões.
