Atriz estreante, Helena Kern, de 22 anos, interpreta Maria Eduarda em “Justiça 2”. Escrita por Manuela Dias, a produção se tornou a série mais consumida do Globoplay. Em entrevista à CNN, a artista conversou sobre a construção de sua personagem e a relação dela com Nestor (Marcos Ricca), o grande vilão da trama.
Sem nunca ter feito um trabalho antes, a jovem conseguiu a oportunidade de um teste para interpretar Milena (protagonista que, hoje, é de Nanda Costa). Com a vontade de, ao menos, ter seu nome conhecido pela seleção de elenco, Helena se surpreendeu quando foi chamada para outro personagem.
“Foi uma loucura, eles me chamaram super de última hora. Logo que eu cheguei para passarmos a leitura com a Manuela [Dias], ela me disse: ‘a gente já tinha uma pessoa, mas vimos o seu teste e concluímos que era a cara da Maria Eduarda””, relembra a atriz.
Mesmo sem ter concluído o curso de atuação, Helena decidiu se jogar de cabeça no desafio e contou com o apoio de seus pais. “Isso vai ser a maior faculdade que você vai ter”, relembra artista sobre o conselho que recebeu deles.
Na trama, a personagem é filha de Silvana (Maria Padilha) e Nestor, empresário e político que usa seu poder para manipular, cometer crimes e se beneficiar em cima dos outros.
Durante a terceira leva de episódios disponibilizados, Maria Eduarda deixa seus estudos em São Paulo e retorna para Brasília após descobrir pelos noticiários que sua mãe foi internada por conta de uma suposta esquizofrenia.
De acordo com Helena, a construção da personagem foi baseada neste momento. “Tentamos trabalhar essa ingenuidade de uma personagem que nunca pegou um ônibus na vida e tem que lidar com uma situação de emergência”, explica.
Ainda descrita pela atriz como “filhinha de papai”, Maria Eduarda se torna uma peça-chave para a salvação de Silvana, internada à força em uma clínica psiquiátrica. Sendo a única capaz de confrontar seu pai sem correr grandes perigos, a jovem se une a Balthazar (Juan Paiva) e Cassiano (Luciano Mallmann).
“Eu acho que a Maria Eduarda é a única que tem essa certeza de que não vai morrer”, opina Helena. “Eles [Maria Eduarda e Nestor] estão jogando esse jogo, em que ele manda um motorista atrás dela, ela investiga ele, mas eles se encontram em casa tomar um café da manhã como se nada tivesse acontecendo”.
“Ela tem essa coragem de enfrentar o pai porque é filha dele. Ele [Nestor] pode matar todo mundo, mas será que ele mata a própria filha? Ela tem esse lugar da filha do papai e ele daquele cara que fica quatro para filha”, ainda analisa.
Porém, mesmo que enfrente o vilão da história, os motivos de Maria Eduarda não deixam de ser egoístas. “Acredito muito que, por mais que a Maria Eduarda seja uma pessoa do bem, ela nunca foi atrás de saber as coisas do pai, então não sei ela está muito afim da justiça“, diz Helena.
“Eu acho que ela está afim de salvar a mãe dela”, complementa. “Existe, sim, uma menina justiceira, mas também existe uma menina com interesses pessoais e um medo que perder a mãe“, explica.
Sendo bem diferente da personagem, Helena Kern ainda confessou ter tido um pouco de dificuldade no começo para imprimir certa frieza diante da situação de outros núcleos.
“Durante a preparação de elenco, não tinha muitas regras. Trabalhamos a conversa da Maria Eduarda com Balthazar no barraco, foi meu primeiro contato com o Juan [Paiva]. Eu tinha que pedir ajuda para ele, mas ainda não estava com esse sentimento de urgência no corpo”, conta.
“Sentei para conversar, mas na hora que ele começou a contar a história dele, a falar que os pais da minha personagem tinham feito aquilo, eu, Helena, comecei a chorar”, admitiu.
“Eu comecei a julgar a própria personagem. Como que você pede ajuda para um cara que sua família só acabou com a vida dele?”, explicou a atriz, que após conversar com o preparador de elenco, entendeu qual sentimento deveria resgatar naquela cena: o desespero de perder a mãe.
No entanto, ainda que demonstre mais cuidado com Silvana, de acordo com a atriz, Maria Eduarda também tentará salvar Nestor, sendo essa a cena que mais marcou Helena. “Existe uma conversa dessa filha tentando resgatar esse pai, mas ela vai perceber que realmente não tem jeito”.
“É uma dor que ela vai passar, acho que foi a cena mais marcante tanto para mim quanto para o Marco, nos emocionamos muito. Foi muito legal nossa troca, ele sempre foi muito legal comigo”, afirma.
Relação com o elenco
Já em seu primeiro trabalho, Helena Kern ganhou em Marco Ricca e Maria Padilha uma verdadeira família — com uma relação melhor que a da ficção.
Se descrevendo como a atriz mais inexperiente do elenco, a jovem relembra: “Eu estava muito no lugar de insegurança e todos os atores me deram muita confiança, me dava feedbacks positivos”, disse, destacando Ricca e Padilha.
“Eles construíram uma relação comigo fora de cena que acabou acontecendo naturalmente. Os dois foram muito generosos comigo de passar o texto e dar conselhos. Eles me deram uma abertura de se colocar de igual para igual”.
Impressões do primeiro trabalho
Estreando no audiovisual, Helena ainda conta ter se espantado com a quantidade de pessoas nos bastidores de uma produção. “Na festa de encerramento tinham mais de 200 pessoas e todas trabalharam na série”, conta.
“Tinha a galera da caracterização, os motoristas, figurantes, figurinistas, produção, diretor, assistente de direção, os responsáveis pelos microfones, os câmeras”, listou.
“O que mais me impressionou era um cara que carregava uma câmera de 42 kg. Ele vive para preparar o corpo dele, tipo um atleta de crossfit. Então é muita gente esforçada envolvida nesse processo”.
O que é justiça?
Se demonstrando muito grata pela oportunidade que teve com “Justiça 2”, a atriz ainda analisou o enredo da série. “Tem um conceito muito legal que a Manuela [Dias] fala, de que pessoas como Nestor não acreditam no conceito de justiça”.
“Só segue as regras sociais quem acredita que a justiça exige que sejamos penalizados. Quando você acredita na justiça é quando você respeita mais o próximo. Pra mim, a justiça vem nesse lugar de respeito, muito mais do que a justiça penitenciária, já que isso não existe no Brasil”, opina Helena.
“Essa série é sobre isso, muito mais sobre a justiça da vida real, de fazer por onde. Eu acredito de que coisas boas acontecem para pessoas boas e que temos que acreditar nessa justiça, se não nos deixamos corromper”, finaliza a atriz.
Planos profissionais
Com planos de focar em seus estudos, Helena Kern não descarta realizar novos testes e, quem sabe, encarar outros desafios. “Estou aberta, mas o meu foco é estudar sempre”.
Após encarar sua primeira personagem carregada de tensão, a atriz confessa a vontade de um trabalho em que possa explorar um lado mais divertido, leve e espontâneo. “Estou louca para fazer uma personagem maluquinha, fora da casinha, sabe?”, explica.