O deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) se reuniu com o procurador-geral da República, Paulo Gonet, para discutir uma investigação em curso na Polícia Federal (PF) por uma fala sua na tribuna da Câmara dos Deputados.
Além de Marcel van Hattem, o encontro, realizado nesta quinta-feira, 7, contou com a presença do segundo vice-presidente da Casa Baixa, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), do senador Rogério Marinho (PL-RN) e do seu advogado, Alexandre Wunderlich.
Em live depois da reunião, Marcel van Hattem disse esperar um posicionamento de Gonet sobre o caso. O parlamentar também declarou que, embora seja “vítima no processo principal” em que fere a imunidade parlamentar, não realiza uma defesa só sua, “mas em prol da democracia”.
“Viso a defender a última trincheira de um parlamentar, que é uso da tribuna sem receio de retaliação”, destacou. “Esse é um dos principais papéis de um parlamentar e não vamos permitir a perda dessa prerrogativa.”
Alexandre Wunderlich afirmou que a reunião com Paulo Gonet simboliza um “passo bastante importante e significativo”, não só pela defesa da imunidade do deputado do Novo, mas “mas do parlamento e de toda a sociedade brasileira”.
“A população também precisa saber do risco que significa esse processo, que é o direito de fala de um parlamentar. Não é um direito individual, mas da democracia brasileira. A posição da defesa é muito clara, não há ilegalidade na declaração de Marcel van Hattem”, ressaltou.
Parlamentares saem em defesa de Marcel van Hattem
O segundo vice-presidente da Câmara, Sóstenes Cavalcante, também saiu em defesa de Marcel van Hattem. Ao representar o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) na reunião, disse ver o caso com “muita preocupação”.
“É um caso seríssimo, mas sabemos do bom senso do procurador-geral da República, Paulo Gonet”, destacou.
O ex-ministro de Jair Bolsonaro, o senador Rogério Marinho, avaliou a investigação como um caso “que parece orquestrado contra a imunidade parlamentar”. Afirmou que a prerrogativa é “um privilégio é da instituição que representa a sociedade brasileira”.
“E deixo claro nosso comprometimento com a causa, pois o privilégio da inviabilidade é da Constituição, justamente para permitir que o parlamentar exerça a prerrogativa do voto popular”, afirmou.
Rogério Marinho sinalizou que, quando esse direito é “questionado, estamos colocando em risco a democracia, a qual prevê o direito da crítica, da fiscalização e do contraditório, independente do espectro ideológico”.
“O [ex] presidente Bolsonaro era chamado de genocida em seu mandato, e não lembro dele entrar com ação contra nenhum parlamentar por críticas sofridas na tribuna. A crítica é rebatida com a verdade”, acrescentou.
Entenda a investigação
O inquérito contra Marcel Van Hattem (nº 4978) foi instaurado depois de uma notícia-crime apresentada pela Polícia Federal, que acusou o deputado de calúnia e difamação. Em 14 de agosto, o parlamentar acusou o delegado Fabio Alvarez Shor de abuso de autoridade, alegando que ele teria falsificado relatórios em investigações.
As declarações do deputado, que foram feitas no plenário da Câmara dos Deputados, levaram à abertura de um inquérito sob a relatoria do ministro de Flávio Dino.
O delegado alvo das acusações apoiou a abertura da investigação, que também recebeu parecer favorável do delegado Marco Bontempo, responsável pela representação formal. A apuração está sendo realizada sob sigilo, e Van Hattem já foi intimado a prestar depoimento.
Diante do inquérito, o Partido Novo se uniu em torno de Van Hattem, enxergando no caso uma ameaça à autonomia do Legislativo e ao equilíbrio entre os poderes. A bancada prometeu apoiar o deputado tanto juridicamente quanto politicamente, e já estuda estratégias para pressionar o STF a reavaliar a condução do processo.
Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente e um dos nomes mais influentes dentro do Novo, foi categórico ao classificar a ação como uma tentativa de intimidar aqueles que se opõem às investigações e decisões controversas do Judiciário.
“Não vamos nos calar diante de uma clara violação aos direitos de um parlamentar eleito democraticamente para representar seus eleitores”, declarou Salles.
O deputado Gilson Marques sinalizou que a investigação na Suprema Corte “não é apenas contra Marcel Van Hattem, é um ataque direto a todos que se dedicam a denunciar abusos e a expor o que está errado no país”.