Com mais de 30 metros de comprimento, pelo menos 300 anos e visível do espaço, o maior coral do mundo acaba de ser descoberto no sudoeste do Oceano Pacífico, anunciaram cientistas na quarta-feira (13).
O mega coral foi avistado durante uma expedição científica lançada pelo programa Pristine Seas da National Geographic em outubro para estudar a saúde dos oceanos nas Ilhas Salomão.
Ele é três vezes maior que o recordista anterior, em Samoa Americana, segundo o Pristine Seas, e mais longo que uma baleia-azul, o maior animal do planeta. Ao contrário de um recife, que consiste em muitas colônias, este coral é um único espécime que cresceu continuamente por séculos.
“Justo quando pensamos que não há mais nada a descobrir no planeta Terra, encontramos um coral enorme feito de quase 1 bilhão de pequenos pólipos, pulsando de vida”, disse Enric Sala, explorador residente da National Geographic e fundador do Pristine Seas.
O coral parece uma enorme rocha marrom ondulada de cima. Alguns na expedição até mesmo inicialmente confundiram com um naufrágio.
O biólogo marinho e cineasta subaquático Manu San Félix mergulhou para olhar. “No primeiro segundo, percebi que estava olhando para algo único”, disse ele. É “quase do tamanho de uma catedral”.
Visível do espaço
Cientistas mais tarde verificaram imagens de satélite e descobriram que o coral é tão colossal que era possível vê-lo do espaço.
De perto, o coral se transforma em algo espetacular, com sua complexa rede de pólipos — pequenas criaturas individuais que cresceram ao longo dos séculos para formar esse enorme coral — e respingos de vibrantes purpurinas, amarelos, azuis e vermelhos quebrando sua tonalidade marrom.
O coral abriga uma variedade de vida marinha, incluindo peixes, caranguejos e camarões. É também como uma enciclopédia viva, disse San Féliz, contendo informações sobre as condições oceânicas há centenas de anos.
Seu tamanho enorme causou alguns problemas, pois as fitas métricas dos cientistas não eram longas o suficiente. Eles tiveram que trabalhar em equipes de dois, esticando a fita entre eles. Quando terminava, uma pessoa ficava naquele lugar enquanto a outra enrolava a fita, antes de nadar até eles para continuar o processo.
Corais estão em risco
A descoberta é uma rara boa notícia em um oceano de más notícias.
Os corais são vitais para as criaturas marinhas que dependem deles para alimentação e abrigo, mas também para os humanos. São uma fonte indireta de alimento para cerca de 1 bilhão de pessoas, ajudando a sustentar a pesca, e fornecem um amortecedor contra tempestades e a subida do nível do mar.
Para os cientistas, é o destaque da carreira. “Fazer uma descoberta dessa importância é o sonho final”, disse Paul Rose, líder da expedição Pristine Seas da National Geographic.
Para as Ilhas Salomão, o mega coral poderia atrair pesquisadores, turistas e impulsionar o financiamento da conservação, disse Dennis Marita, diretor de cultura no Ministério da Cultura e Turismo do país. “Isso é algo enorme para nossa comunidade”, disse ele.
Mas também há “motivo de alarme”, disse Sala, fundador do Pristine Sea. “Apesar de sua localização remota, esse coral não está seguro do aquecimento global e outras ameaças humanas.”
Os corais estão em risco de uma série de fatores locais, incluindo a pesca excessiva, que pode danificar e perturbar o delicado equilíbrio de seus ecossistemas, poluição industrial e esgoto. A maior ameaça, no entanto, é global: a crise climática impulsionada pelos combustíveis fósseis.
No mês passado, cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica confirmaram que o branqueamento em massa global dos recifes de coral foi o mais extenso já registrado devido às temperaturas oceânicas sem precedentes.
Mais de 40% das espécies de corais construtores de recifes de água quente agora enfrentam a extinção, principalmente por causa das mudanças climáticas, segundo a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza, publicada na quarta-feira.
“A sobrevivência contínua dos corais está em perigo”, disse Derek Manzello, coordenador do Coral Reef Watch da NOAA.
Longevidade do coral gigante dá esperanças
Ainda que o mega coral permaneça vulnerável, ele acredita que sua saúde e longevidade oferecem um raio de esperança. “A sobrevivência desse coral, que tem centenas de anos, ilustra que nem tudo está perdido para os recifes de coral”, disse Manzello à CNN. “É realmente incrível ouvir sobre isso!”, acrescentou.
Seus sentimentos foram ecoados por Emily Darling, diretora de recifes de coral da Wildlife Conservation Society, que chamou a descoberta de “um ponto brilhante para a sobrevivência dos recifes de coral”.
“Isso mostra que ainda existem condições ambientais onde os corais podem sobreviver e prosperar, mesmo potencialmente através dos impactos acelerados das mudanças climáticas”, disse ela à CNN.
Cientistas encontraram evidências de que o “Triângulo do Coral” — uma área de oceano tropical que inclui as Ilhas Salomão, bem como partes de países como Indonésia e Filipinas — pode ser mais resistente ao branqueamento de corais, acrescentou Darling.
A descoberta foi anunciada enquanto líderes mundiais se reúnem em Baku, Azerbaijão, para a COP29, a cúpula climática apoiada pela ONU, onde o foco este ano está em mobilizar fundos para ajudar países mais pobres a enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas.
Encontrar esse novo coral, que já está em risco, é mais um forte lembrete da “necessidade dos países ricos de gastar muito mais recursos na redução de nossas emissões de carbono”, disse Sala.
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