Um estudo publicado no Evolutionary Journal of the Linnean Society revelou que o maior anfíbio do mundo, a salamandra gigante chinesa, não é uma única espécie, como se pensava anteriormente, mas sim um conjunto de várias espécies que habitam rios diferentes.
Essa descoberta tem implicações importantes para os esforços de conservação, especialmente considerando a grave ameaça que esses animais enfrentam em função da exploração excessiva e da perda de habitat.
Em um comunicado, o professor Samuel Turvey, pesquisador do Instituto de Zoologia da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL) e um dos autores do artigo, disse que as salamandras gigantes chinesas estão catalogadas como criticamente ameaçadas, principalmente devido à coleta indiscriminada de indivíduos selvagens para abastecer a indústria de alimentos de luxo na China.
“Todas as espécies que identificamos agora estão em alto risco de desaparecer para sempre”, explicou. “Se quisermos evitar a perda dos maiores anfíbios do mundo, precisamos agir com urgência para que essas espécies recém-reconhecidas sejam formalmente protegidas”.
Suspeita sobre maior anfíbio do mundo é antiga
A possibilidade de que as salamandras gigantes não fossem uma única espécie foi levantada há 20 anos. Com a análise de dados genéticos, Turvey e sua equipe conseguiram confirmar a existência de pelo menos sete espécies distintas, com base em diferenças genéticas observadas nas populações, que são comparáveis às que se encontram entre outras espécies de salamandras.
As salamandras gigantes chinesas podem alcançar até 1,8 metro de comprimento. Sua pele permite que absorvam oxigênio diretamente da água em que vivem. Apesar da visão limitada devido a seus olhos pequenos, elas são altamente adaptadas, com sensores que detectam vibrações de vermes, crustáceos, pequenos peixes e sapos que compõem sua dieta.
A exploração para o mercado de alimentos de luxo resultou na criação de milhões de salamandras em fazendas por toda a China. Desde o início dos anos 2000, essa prática tem gerado uma diminuição drástica das populações selvagens.
Um estudo realizado pela ZSL e parceiros entre 2013 e 2016 encontrou salamandras gigantes em apenas quatro dos 97 locais pesquisados em 16 províncias chinesas, evidenciando a gravidade da situação.
Reconhecidas como uma das espécies mais evolutivamente distintas e globalmente ameaçadas do planeta, as salamandras gigantes têm suas origens que remontam ao período Jurássico, quando dinossauros ainda habitavam a Terra. Esses anfíbios desempenham um papel crucial como predadores em ecossistemas fluviais e são considerados fósseis vivos, com uma morfologia que permaneceu inalterada por milhões de anos.
Melissa Marr, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade de Edimburgo, na Escócia, ressaltou a importância de preservar a diversidade genética das salamandras gigantes. “Embora externamente semelhantes, esses anfíbios, na verdade, divergiram em pelo menos sete espécies distintas. Esses grupos estão em risco de extinção antes mesmo de serem formalmente descritos e protegidos”.
Apesar da confirmação da diversidade entre as espécies de salamandras gigantes, ainda há muito a ser feito para garantir sua proteção. É essencial localizar as populações selvagens remanescentes e identificar representantes das diferentes espécies que possam ser utilizadas em programas de reprodução para conservação.
A suposição de que todas as salamandras eram da mesma espécie complicou a conservação, como explicou Turvey. “As salamandras são frequentemente movidas entre fazendas, o que pode resultar em hibridização indesejada e a introdução de indivíduos em habitats não nativos”.
Para que a conservação dessas espécies ameaçadas seja eficaz, é necessário nomear formalmente as novas espécies. Atualmente, apenas quatro das novas espécies de salamandras gigantes têm nomes reconhecidos, e o processo para atualizar as listas nacionais pode demorar anos, durante os quais as populações ameaçadas podem continuar a declinar. Turvey reiterou a necessidade de descrever essas novas espécies e garantir sua inclusão na legislação de conservação.
Plano de ação para conservação da salamandra gigante chinesa
Recentemente, um novo Plano de Ação para a Conservação da Salamandra Gigante Chinesa foi publicado, coordenado pela organização de conservação Green Camel Bell, pesquisadores do ZSL e o Grupo de Especialistas em Anfíbios da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN).
O plano delineia medidas cruciais para ajudar a salvar essas espécies, como triagens genéticas mais rigorosas de salamandras liberadas de fazendas, atualizações na Lista Vermelha da IUCN e esforços para localizar e monitorar as populações selvagens.
Essas iniciativas fazem parte do esforço contínuo do ZSL para proteger as salamandras gigantes, que incluem resgates no zoológico e avaliações de suas populações em estado selvagem.
Este trabalho é uma pequena parte da missão mais ampla da instituição, que busca proteger espécies em risco e combater o comércio ilegal de vida selvagem, uma indústria que movimenta cerca de US$23 bilhões por ano.