O economista Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda, descreveu como os impasses fiscais do Brasil conduzem a uma tempestade econômica de grandes proporções. Em suas palavras, “há estudos que mostram que, em 2027, toda a margem do arcabouço fiscal será ocupada por gastos obrigatórios”.
A previsão é de que o colapso aconteça antes, visto que já faltam recursos para setores essenciais como ciência, tecnologia, segurança e agricultura. A declaração foi dada em entrevista ao portal Metrópoles nesta segunda-feira, 14.
“O nosso encontro marcado com a crise dificilmente vai passar dos dois próximos anos”, afirmou o economista. A respeito da ministra Simone Tebet, que sugeriu a necessidade de um novo arcabouço fiscal em 2027, Mailson atestou que “o arcabouço é letra morta desde o começo”.
Para o economista, o arcabouço fiscal sofre do mesmo mal que o antigo teto de gastos: é insustentável sem reformas estruturais que contenham os gastos obrigatórios, os quais crescem acima do limite estipulado. “O arcabouço fiscal, por definição, é inviável”, resumiu.
Quanto às chances de reajuste sob Lula, Mailson foi direto: “Esqueçam ajuste fiscal neste governo, não vai ter”. Ele afirma que o Planalto já entrou em “modo sucessão” e que a Secretaria de Comunicação se transformou em “Secretaria da Reeleição do Lula”.
Na prática, isso implica perda de autonomia da equipe econômica, com as decisões sob o crivo político de Sidônio Palmeira. “Se ele disser que não pode, esquece, arquiva a ideia”, criticou.
Mailson da Nóbrega: não é momento para discutir isenção do IR
Sobre a proposta de reforma do Imposto de Renda, que amplia a faixa de isenção para quem recebe até R$ 5 mil mensais, Mailson questionou o timing da iniciativa. “Sempre duvidei se esta era a melhor hora para se apresentar essa proposta”, disse.
Apesar de apoiar a tributação de rendimentos isentos de grandes fortunas, ele avalia que a ampliação da isenção deve ser discutida em outro momento, dada a fragilidade fiscal do país. “Corre-se o risco de haver uma queda líquida de arrecadação”.
Ao ser perguntado sobre a condução do Banco Central por Gabriel Galípolo, Mailson se mostrou confiante de que o presidente da autoridade monetária agirá com responsabilidade técnica, em contraste com os comandantes das demais gestões petistas.

“Seria uma grande surpresa para mim, e acredito que para o mercado, se o Galípolo repetisse o [Alexandre] Tombini [ex-presidente do BC]”. Ele lembrou que Galípolo conhece bem as consequências de ceder à pressão política, como ocorreu na gestão de Dilma Rousseff.
Por fim, Mailson reforçou que a economia segue como um fator decisivo nas eleições, especialmente por causa da inflação. “O efeito corrosivo da inflação sobre o eleitorado está presente em todos os países, com exceção daqueles autoritários”.
Ao comparar Brasil com Estados Unidos, ele citou que tanto Biden quanto Lula enfrentaram queda de popularidade por causa do aumento de preços. “Sim, a economia continua relevante, principalmente na questão da inflação”, encerrou.