O ditador venezuelano Nicolás Maduro anunciou nesta segunda-feira, 9, uma parceria entre a Venezuela e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para a produção agrícola em uma área de 10 mil hectares no Estado de Bolívar, que faz fronteira com o Brasil. A apuração é do jornal Folha de S.Paulo.
“Na Venezuela temos o ‘Movimento Com Terra’, não Sem Terra”, disse o ditador, que falava ao lado de membros do MST que estão em Caracas. “Esse é o movimento mais cristão que há”, acrescentou.
O objetivo da parceria é produzir alimentos como milho, soja e feijão, de acordo com os detalhes divulgados. Além disso, Maduro lançou a meta de chegar a 100 mil hectares de produção nos próximos anos.
Procurado pela Folha, o MST disse que vai enviar uma equipe técnica ao país para “estudar as condições da área e propor um projeto de desenvolvimento agroflorestal na região” depois de Maduro ter pedido apoio técnico ao movimento. A ideia seria replicar o modelo de agricultura familiar que na Venezuela foi batizado de conuco.
Maduro tem mantido uma relação estreita com o MST, um dos poucos movimentos sociais brasileiros que ainda mantém laços firmes com a ditadura chavista.
Em outros períodos, essa relação era formada por uma tríade, finalmente composta pelos governos Lula 1 e 2, explica a Folha. Situação bem diferente da observada neste governo Lula 3, que se distanciou de Caracas desde a contestada reeleição de Maduro no final de julho passado.
A parceria foi celebrada pelo ex-vice-presidente da Venezuela Jorge Arreaza, que atualmente é secretário-executivo da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (Alba), grupo ao qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também foi próximo em seus primeiros mandatos.
Arreaza destacou no Telegram que “Maduro cumpre o projeto sonhado pelo comandante Hugo Chávez e o MST”, e acrescentou: “e pelo governo do Brasil de então, diferente do atual”.
Relação de Lula e Maduro está enfraquecida
Embora Lula tenha acolhido Maduro no Palácio do Planalto no início do terceiro mandato e defendido o regime de Caracas em algumas ocasiões, o agravamento da ditadura venezuelana nas últimas eleições causou um afastamento entre os dois. Brasília, no entanto, tenta se posicionar como mediador na crise que atualmente afeta o país vizinho.
Arreaza, em um programa local depois da eleição de 28 de julho, comentou que o Lula “de agora” é diferente do de anos anteriores. “Tem uma aliança com partidos de direita, seu próprio vice é de direita”, disse, referindo-se a Geraldo Alckmin.
Ele também afirmou que “Lula almeja ser um grande líder da América Latina, e que bom se o fosse, mas não como um catalisador das pressões dos Estados Unidos”. As declarações ecoam as críticas do ex-aliado de Lula, o ditador da Nicarágua Daniel Ortega, que recentemente chamou o petista de “puxa saco de Washington” e “representante ianque”.
MST defende regime de Maduro
Enquanto isso, o MST continua a defender Maduro. Em uma formação recente a seus membros, compartilhada pelo próprio MST em seu site, o membro da direção nacional do movimento, João Pedro Stédile, que esteve na Venezuela como observador eleitoral a convite do regime, afirmou que o país “é o centro da luta de classes internacional na América Latina”.