terça-feira, maio 20, 2025
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Macacos sequestram filhotes de outra espécie e intrigam cientistas; entenda

Esse comportamento é estranho para primatas machos, disse Pedro Dias, primatólogo da Universidade Veracruzana, no México, que estuda os bugios-de-cara-preta mexicanos e não participou da pesquisa. Na primatologia, é bastante comum que fêmeas adotem ou sequestram filhotes para cuidar deles por instinto materno, explicou. Mas em Jicarón, os machos não estavam oferecendo cuidados maternos.

Quando a ecóloga comportamental Corinna Most leu pela primeira vez sobre os sequestros de macacos em Jicarón, ela suspeitou de outra coisa. “Provavelmente eles estão comendo esses filhotes”, disse Most, professora associada adjunta da Iowa State University que estuda babuínos, referindo-se ao seu primeiro pensamento sobre o caso.

O sequestro com fins de predação não é incomum no mundo animal, acrescentou Most, que também não participou da pesquisa. Mas, conforme ela soube mais sobre as observações da equipe, surpreendeu-se ao perceber que isso também não estava acontecendo nesse caso.

Em vez disso, os macacos-prego carregavam os filhotes de bugio por dias, com poucas interações — sem brincadeiras, agressões mínimas e pouco interesse. Por que eles gastariam energia para roubar filhotes ainda é, em grande parte, um mistério, disse Brendan Barrett, coautor do estudo, ecólogo comportamental e orientador de Goldsborough.

No entanto, é importante destacar que esses macacos-prego da ilha evoluíram em um ambiente diferente dos seus parentes do continente, explicou Barrett. Os macacos-prego são “agentes destrutivos e exploratórios do caos”, afirmou ele. Mesmo no continente, eles destroem coisas, atacam ninhos de vespas, brigam entre si, perturbam outras espécies e mexem em tudo só para ver o que acontece.

Em uma ilha sem predadores, “isso torna menos arriscado fazer coisas idiotas”, disse Barrett. Os macacos-prego da ilha também podem se espalhar mais porque não precisam da força do grupo para proteção, o que lhes permite explorar mais livremente.

Com essa relativa segurança e liberdade, os macacos-prego de Jicarón podem estar um pouco entediados, sugeriram os pesquisadores.

A influência do tédio

O tédio, ao que parece, pode ser um fator chave para a inovação — especialmente em ilhas e particularmente entre os indivíduos mais jovens de uma espécie. Essa ideia é o foco da pesquisa de tese de Goldsborough sobre os macacos-prego de Jicarón e Coiba, as únicas populações de macacos dessas áreas que foram observadas usando pedras como ferramentas para quebrar nozes. Consistente com os sequestros, somente os machos usam ferramentas em Jicarón, o que ainda é um mistério para os pesquisadores.

“Sabemos que a inovação cultural, em vários casos, está ligada aos mais jovens e não aos mais velhos”, disse Dias.

Por exemplo, o comportamento de lavar batatas observado em macacos-prego na Ilha Koshima, no Japão, foi descoberto pela primeira vez em uma jovem fêmea apelidada de Imo.

Existem algumas possíveis explicações para isso, explicou Dias. A adolescência é uma fase na qual os primatas se tornam independentes das mães, começando a buscar alimento e explorar por conta própria. Nessa etapa, os macacos ainda não estão totalmente integrados à sociedade do grupo.

Além disso, a “superimitação” — uma tendência em crianças humanas de imitar comportamentos alheios mesmo sem compreendê-los — pode estar envolvida, sugeriu Most.

Essa superimitação não é encontrada em outros animais, destacou Most, mas “quase sinto que é isso que esses outros macacos-prego estão fazendo,” talvez como uma forma de se conectar socialmente com o Joker, observou ela.

Most comentou que, geralmente, acredita-se que a necessidade, e não o tempo livre, seja a mãe da invenção na natureza. Mas “esse artigo apresenta um bom argumento para a ideia de que, às vezes, animais realmente inteligentes, como os macacos-prego, simplesmente ficam entediados,” acrescentou.

Pessoas e outros primatas compartilham um certo nível de inteligência, definido pelo uso de ferramentas e outras métricas, mas alguns traços compartilhados podem ser menos desejáveis, disse Goldsborough.

“Uma das maneiras pelas quais somos diferentes de muitos animais é que temos muitas dessas tradições culturais arbitrárias, quase sem função, que realmente prejudicam outros animais,” completou ela.

Quando criança, crescendo no nordeste dos Estados Unidos, Barrett disse que costumava pegar sapos e vaga-lumes em potes de vidro enquanto explorava a natureza. Embora nunca tenha tido a intenção de machucá-los, ele sabe que essas atividades geralmente não são agradáveis para os animais.

É possível que o comportamento de sequestro dos macacos-prego seja igualmente arbitrário — senão, para eles, moderadamente divertido. Barrett e Goldsborough disseram que esperam que esse novo comportamento desapareça, assim como modismos entre humanos vão e vêm. Ou talvez os bugios percebam o que está acontecendo e adaptem seu comportamento para proteger melhor seus filhotes, acrescentou Goldsborough.

“É meio que um espelho que reflete sobre nós mesmos,” disse Barrett, “de nós aparentemente fazendo coisas a outras espécies que podem prejudicá-las e parecem atrozes, mas que não têm um propósito real.”

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Via CNN

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