A lutadora argelina Imane Khelif, que tem cromossomos XY e testículos, virou capa da revista Vogue Arábia, na edição de novembro. A boxeadora conquistou a medalha de ouro, na categoria até 66 kg, nas Olimpíadas de Paris 2024. Na disputa, superou a adversária chinesa Liu Yang.
Durante os Jogos, a lutadora enfrentou uma polêmica depois de golpear uma das adversárias. Imane foi acusada de ser transgênero. Ela, porém, sofre de uma deficiência de 5-alfa redutase, de acordo com o Hospital Kremlin-Bicêtre, em Paris. Essa anomalia genética afeta o desenvolvimento dos órgãos sexuais.
Imane foi capa da edição 11 da Vogue Arábia, que contou a trajetória e conquistas da lutadora. Em entrevista à revista, a boxeadora compartilhou sua experiência nos Jogos Olímpicos. A boxeadora comentou a vitória contra a chinesa e a polêmica em que se envolveu por causa das suas condições hormonais.
Depois da vitória em Paris, Imane Khelif anunciou sua transição para o boxe profissional na categoria meio-médio. Embora não tenha especificado a data de estreia, afirmou que a mudança ocorrerá “em breve”.
A atleta se viu no centro de uma controvérsia iniciada pela Associação Internacional de Boxe (IBA), que a baniu do Mundial Amador de 2023. A IBA afirmou que a atleta não cumpria requisitos de elegibilidade para competir entre mulheres.
Associação realiza teste de gênero
A IBA realizou um teste de gênero em Imane, e o presidente da organização, Umar Kremlev, disse que ela possuía cromossomos XY, que foi confirmado recentemente. A associação também mencionou níveis elevados de testosterona em Imane e na chinesa Lin Yu-ting, como justificativa para questionar sua elegibilidade.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) permitiu que Imane competisse nas Olimpíadas. O órgão afirmou que a atleta é mulher biológica e que ela e Lin não são atletas transgênero.
Na Olímpiada de 2024, Imane participou de uma polêmica depois da desistência da boxeadora italiana Angela Carini. Depois de receber golpes da argelina, a italiana pediu para finalizar a luta por dores no nariz.
O episódio repercutiu nas redes sociais, em que internautas e especialistas discutiram sobre a condição de Imane. Na época, o COI lamentou a discussão e afirmou que Imane foi reconhecida como mulher biológica.
A condição de Imane Khelif
Em junho, um documento elaborado em uma parceria entre o Hospital Kremlin-Bicêtre, em Paris, e o Hospital Mohamed Lamine Debaghine, na Argélia, explicou a condição de Imane.
De acordo com os endocrinologistas Soumaya Fadala e Jacques Young, responsáveis pelo documento, a Imane tem a deficiência de 5-alfa redutase. O transtorno ocorre em homens biológicos.
Essa anomalia afeta o desenvolvimento de órgãos sexuais. No nascimento, meninos com essa condição são, geralmente, designados como do sexo feminino por causa da genitália deformada.
Porém, durante a puberdade, há sinais de masculinizarão, como o crescimento muscular e ausência de seios. Um exame físico, obtivo pelo jornalista Djaffar Ait Aoudia, mostra que Imane Khelif não possui útero. A ressonância magnética ainda encontrou testículos internos e um “micropênis”.