Diante de um cenário político desfavorável, o presidente da Bolívia, Luis Arce, anunciou nesta terça-feira, 13, que não vai disputar a reeleição ao cargo em agosto deste ano.
A decisão ocorre em meio ao colapso da sua popularidade e à pressão crescente dentro do próprio Movimento ao Socialismo (MAS), partido que o havia lançado oficialmente como candidato no fim de abril.
A desistência foi comunicada por meio da emissora estatal, em um discurso em que Arce pediu “a mais ampla unidade da esquerda” para enfrentar a direita boliviana.
O gesto, entretanto, escancarou a divisão interna no campo progressista, que agora se vê fragmentado entre o ex-presidente Evo Morales e o presidente do Senado, Andrónico Rodríguez.
No entanto, a crise de Arce não se limita ao campo político. Desde o ano passado, o país enfrenta uma escassez crônica de dólares e combustíveis, que afetou diretamente a população e gerou protestos em várias regiões.
Com a economia em retração, a popularidade do presidente despencou. Em março, ele apareceu com apenas 1% das intenções de voto, segundo levantamento da consultoria Captura.
Economista de formação, Arce era visto, até recentemente, como herdeiro técnico da bonança econômica vivida na era Evo. Durante seus quase 12 anos à frente do Ministério da Economia, o país triplicou o PIB e reduziu a pobreza de 38% para 15%.
Mas, já como presidente, enfrentou a queda na produção de gás natural, o principal motor da economia boliviana.
Para sustentar os subsídios à gasolina e ao diesel, Arce recorreu às reservas internacionais — uma estratégia que esvaziou o caixa do Estado e aprofundou o desabastecimento de dólares. Em abril deste ano, a inflação anual bateu 15%, a maior desde 2008.
Evo Morales acusa Arce de promover perseguição judicial
Internamente, o presidente vinha sendo acusado por Evo Morales de promover uma perseguição judicial para impedi-lo de concorrer novamente.
Uma decisão da Justiça boliviana proíbe qualquer político de ocupar a Presidência por mais de dois mandatos. Esse cenário tornaria ilegal uma nova candidatura do ex-presidente.
Em tom de ruptura, Arce pediu que Evo desistisse de tentar retornar à Presidência. Ao mesmo tempo, apelou pela união da esquerda. O presidente incluiu Andrónico, que lidera as pesquisas de intenção de voto, com 18%, nos cenários em que o ex-presidente aparece impedido.