A policial Gislayne Silva de Deus, de 36 anos, participou da operação da Polícia Civil de Roraima que prendeu o acusado pelo assassinato de seu pai, 25 anos depois do crime. Ao portal g1, a escrivã relatou que o desfecho do caso trouxe alívio para sua família. A prisão ocorreu na quarta-feira 25, encerrando uma longa jornada de busca por justiça.
“Com a prisão dele, lavei minha alma e a de toda minha família”, disse, emocionada. “Foi o encerramento de um ciclo. Hoje temos paz, e o sentimento de que a justiça foi feita.”
Gislayne, a mais velha de cinco filhos de Givaldo José Vicente de Deus, tinha 9 anos quando perdeu o pai, assassinado, aos 35 anos, por Raimundo Alves Gomes, que cobrava uma dívida de R$ 150. O crime ocorreu no dia 16, no bairro Asa Branca, zona oeste de Boa Vista.
Raimundo Gomes foi condenado a 12 anos de prisão pelo homicídio, mas estava foragido desde 2016, depois da emissão do primeiro mandado de prisão. Na quinta-feira 26, ele passou por audiência de custódia, que manteve a prisão, e foi encaminhado ao sistema prisional de Roraima. A defesa de Gomes não se manifestou.
Caso correu na Justiça por quase 15 anos
“A gente finalmente vai ter paz”, disse Gislayne em entrevista ao g1. O crime aconteceu durante uma briga por uma dívida de R$ 150. Depois de atirar, Gomes levou a vítima ao hospital, mas fugiu logo depois.
Gislayne e suas irmãs, então, ficaram órfãs. A mais nova tinha apenas 2 anos e cresceu sem lembranças do pai. O caso transcorreu lentamente na Justiça, resultando na condenação de Gomes em 2013, 14 anos depois do crime.
O crime de homicídio prescreve depois de 20 anos, a partir da sentença condenatória e se a pena for maior que 12 anos.
No caso de Raimundo, que teve a pena de 12 anos, a prescrição seria em 16 anos a contar da conclusão do julgamento, ou seja, em 2031 — faltavam sete anos para que isso acontecesse, explicou Bruno Caciano, advogado e presidente da Anacrim em Roraima.
Aos 18 anos, em 2007, Gislayne começou a cursar Direito e, sete anos depois, formou-se advogada. Embora não planejasse seguir carreira policial, acabou prestando concurso e foi aprovada.
A carreira da policial
Em 2022, ingressou na Polícia Penal de Roraima, atuando na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo e no Departamento do Sistema Prisional (Desipe), inclusive durante a gravidez.
Ela frequentemente imaginava encontrar o assassino do pai preso enquanto trabalhava na unidade prisional. “Quando eu era [policial] penal, eu imaginava sempre ele chegando lá para cumprir a pena dele”, afirmou a policial.
Um ano depois, Gislayne foi aprovada no concurso público da Polícia Civil e, em 19 de julho de 2024, assumiu como escrivã. Ao ingressar na corporação, pediu para ser lotada na Delegacia-Geral de Homicídios (DGH), acreditando que poderia localizar e prender o autor do crime.
Na DGH, ela reuniu informações sobre o paradeiro de Gomes e localizou o último mandado de prisão, expedido em 2019 pela Justiça de Roraima.
Para Gislayne, a condenação só foi possível porque a família nunca desistiu de buscar justiça. Em 2022, um tio dela avistou Raimundo em Boa Vista, mas, na época, ela ainda não fazia parte da Polícia Civil e as tentativas de localizá-lo foram frustradas.
“Essa nossa participação de buscar, ir atrás, não deixar ele ficar impune já tem um bom tempo”, disse. “Se nós não estivéssemos lá, não teria tido júri e o promotor teria pedido absolvição. Então, a condenação foi em razão de a gente não deixar realmente passar impune.”
Agora, para Gislayne, a sensação é de que a justiça foi feita. “Isso não vai trazer nosso pai de volta, mas ele [o assassino] vai cumprir a pena que deveria ter cumprido há muitos anos”, declarou.