quinta-feira, setembro 19, 2024
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Lapônia: a caça pela Aurora Boreal e o encontro com lobos selvagens

No verão, o Sol nunca se põe. Mas é no inverno, quando as temperaturas atingem congelantes -40ºC, que é a melhor época para testemunhar o espetáculo da Aurora Boreal. Lar de florestas, glaciares, montanhas e de modos de vida ancestrais, a Lapônia é um território arrebatador em todos os sentidos.

Não é à toa que o fim da 7ª temporada do CNN Viagem & Gastronomia se deu aqui. Após uma imersão na cultura e na gastronomia de Estocolmo, decidi me desafiar ainda mais. Bem ao norte da Suécia, acima do Círculo Polar Ártico, a Lapônia Sueca me presenteou com paisagens estonteantes e a realização de ver a emocionante Aurora Boreal.

Protegida por parques e reservas, a Lapônia carrega a fama de ser a “terra do Papai Noel”. Mas ela é mais do que isso: é a casa dos Sami, povos originários com língua, cultura e costumes próprios. Eles têm uma longa tradição na criação de renas, formando uma das maiores – e últimas – áreas do mundo com modo de vida ancestral baseado no movimento sazonal dos rebanhos.

Além desses aprendizados, algumas das vivências durante os dias gelados envolveram hotel totalmente de gelo; céus limpíssimos e estrelados; e uma experiência frente a frente com lobos selvagens.

Onde fica a Lapônia?


Daniela Filomeno na Lapônia Sueca
Daniela Filomeno na região de Abisko, na Suécia, que possui estação de esqui próxima e paisagens pitorescas • CNN Viagem & Gastronomia

Para começar, a Lapônia abrange o norte da Escandinávia em partes da Noruega, Suécia, Finlândia e até da Rússia. A maior parte da Lapônia fica acima do Círculo Polar Ártico.

A região mais falada é a da Finlândia, mas, desta vez, minha estadia se deu entre a Lapônia Sueca (Patrimônio da Unesco) e a Lapônia Norueguesa.

Vale destacar que a Lapônia é rica em depósitos minerais. A cidade de Kiruna, na Suécia, onde comecei minha jornada, tem uma das maiores minas de ferro do mundo, por exemplo.

Icehotel: o hotel de gelo

Alguns hotéis de gelo tornaram-se virais pelo mundo, mas o original está na Lapônia. Na pequena vila de Jukkasjärvi, na área de Kiruna, o Icehotel esculpe sua estrutura anualmente no inverno com blocos de gelo vindos do rio vizinho – tudo isso para operar cerca de três meses. Para erguê-lo são necessários 2.500 blocos, cada um com duas toneladas.

Mas você não precisa vir somente no inverno para experimentá-lo. Desde 2016 há uma versão permanente do hotel que fica aberta o ano todo. Chamada de Icehotel 365, a área tem suítes temáticas, bar e galeria de gelo. A temperatura interior, incluindo nos quartos, é de -5ºC, e uma refrigeração alimentada por painéis solares garante o “friozinho” no verão.

E como sobreviver uma noite abaixo de zero? Os hóspedes fazem check-in em uma estrutura aquecida e dotada de sauna e lareira, que funciona como um centro de convivência 24 horas. Um guia realiza um “curso de sobrevivência” para hóspedes que pernoitam, incluindo explicações sobre o saco de dormir, feito para temperaturas ao redor de -25ºC. Vale dizer que a base da cama é de gelo, mas o colchão possui uma proteção especial.

Segundo o Icehotel, a maioria dos hóspedes passa apenas uma noite nas suítes de gelo, e depois se mudam para um quarto “normal”, com aquecimento, também oferecido por aqui. E se estiver por passagem, a dica é dar uma paradinha no bar e experimentar o gin sueco servido em copo de gelo, um souvenir que podemos levar para casa, mas que dura pouco tempo.

A caça pela Aurora Boreal


Aurora Boreal vista ao norte da Suécia
Aurora Boreal é um fenômeno natural que ocorre nas regiões polares da Terra, principalmente no Hemisfério Norte • CNN Viagem & Gastronomia

De Kiruna segui de carro para Björkliden, estação de esqui em meio a picos nevados. Diferente de outros lugares, não fiquei em um hotel, mas sim em uma cabana na montanha à beira do lago Torne. É uma experiência mais rústica e com outro ritmo. As opções de cabanas podem ser consultadas aqui.

Em uma noite limpa, não muito longe dali, jantei no Abisko Mountain Lodge, na localidade de Abisko, que possui um restaurante de comidas típicas da montanha, incluindo rena de todos os jeitos: picadinho de rena, tartar de rena, vitela de rena, ragu e ovas de rena. Na Suécia, os únicos permitidos a criar rena são os Sami, que não só usam a pele para se aquecer como vendem a carne, sendo sua forma de subsistência. Saiba mais sobre o estilo de vida dos Sami nesta matéria.

E foi nesta mesma noite que a caça pela Aurora Boreal começou. Por meio de aplicativo de celular, eu já monitorava seus movimentos e previsões, mas ela pode nos surpreender.

“O Sol tem ciclos. Começa com o Sol estável e calmo. Aí vem o momento que estamos agora, que se chama máximo solar, quando o Sol se torna muito instável e começa a emitir muitos raios, partículas e prótons na atmosfera. É isso que, eventualmente, interage com nossa atmosfera”, explica Sara Brockmann, guia e especialista em Aurora Boreal.

Para vermos o fenômeno, temos que ter basicamente quatro fatores: atividade solar, céu limpo, proximidade dos polos da Terra e, basicamente, sorte. Nesta noite, os fatores estavam a meu favor. Próxima da estação de esqui, ela apareceu: verdejante, linda e dançante. Mesmo que, por vezes, sua aparição seja rápida, é um momento único de comunhão que fazemos com o Universo.

Lapônia Norueguesa

Da Suécia, chegou a hora de me aventurar em outra Lapônia, desta vez na porção norueguesa do território. De carro, a distância entre Abisko e a cidade de Narvik é de cerca de 1h10.

Cercada por altas montanhas e fiordes, Narvik nos oferece incontáveis atividades ao ar livre, assim como é paradinha de cruzeiros e possui uma linha de trem entre as mais cenográficas do mundo. A cidade foi uma localização estratégica na Segunda Guerra Mundial, tanto que é lar do Narvik War Museum, que conta a história da invasão alemã em 1940.

“Narvik é um centro para o envio de minério de ferro para o mundo. Em 1940, o minério de ferro de Kiruna era o mais puro. A Alemanha queria esse minério, mas a Grã-Bretanha não queria que eles colocassem as mãos nisso. Então aqui ocorreu a maior batalha naval do Atlântico durante a 2ª Guerra”, conta Ann Kristin Kristensen, guia do museu.

Entre os artefatos originais há um torpedo de sete metros de comprimento usado pelos alemães contra navios da Noruega e da Grã-Bretanha. É, sem dúvidas, um local que mostra um passado assustador, mas importante para a memória. As entradas para adultos saem por 130 coroas norueguesas (R$ 68).

Em Narvik, minha estadia se deu no Camp 291, moderno lodge com contêineres no topo da montanha. Isso significa que a cama fica de frente para vistas privilegiadas, assim como há uma grande sala com cozinha e varanda, de onde, por sorte, avistei rapidamente a Aurora Boreal, que desapareceu num passe de mágica. São ao todo nove cabines, que acomodam de duas a cinco pessoas.

Encontro com lobos selvagens

Por fim, uma das experiências mais desafiadoras da viagem se deu em Bardu, comuna não muito longe de Narvik. Aqui fica o Polar Park, centro de pesquisas e conservação das espécies do Ártico.

O parque conserva o ambiente natural das redondezas e é lar para ursos, lobos, linces, alces e renas. Aberto todos os dias, a entrada sai a partir de 325 coroas norueguesas (cerca de R$ 170). Rodeado de paisagens pitorescas, o local oferece acomodação rústica para quem quiser pernoitar, em que o cair da noite nos presenteia com o uivo dos lobos como trilha sonora.

Por falar neles, é possível agendar uma experiência cara a cara com estes animais selvagens. Foi o que fiz: com todas as regras de segurança e o máximo respeito, a atividade ajuda na conscientização e na proteção destas espécies.

Junto de profissionais, somos levados à área onde eles moram, em meio à natureza livre. “O principal é se manter calma em todos os movimentos”, diz Stig Sletten, guia do parque. Todos os movimentos devem ser cuidadosos, já que a nossa reação pode afetar o animal. Se eles começarem a rosnar para o outro, brincarem e até brigarem, devemos nos manter parados.

E isso aconteceu comigo. Meu coração acelerado logo se acalmou quando dois lobos gentilmente se aproximaram e lamberam meu rosto. Uma vez que nos aceitam, pedindo carinho, fica fácil seguir os comandos – só é difícil conter a emoção. Entre uivos, brincadeiras e brigas entre eles, vi de perto a verdadeira origem selvagem destes mamíferos.

Com isso, digo que esta temporada do CNN Viagem & Gastronomia foi finalizada da melhor maneira: com a conclusão de novos desafios e a superação de medos.

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Via CNN

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