A alta recorde no preço do café tem gerado um medo crescente entre os cafeicultores do interior de Minas Gerais, maior produtor mundial do grão. Se antes os produtores se preocupavam com a perda de máquinas, implementos e fertilizantes, agora a preocupação se estende até mesmo ao furto de café ainda no pé.
Com o valor da saca de 60 quilos acima de R$ 2,5 mil, o café se tornou um alvo fácil tanto para criminosos organizados quanto para pequenos ladrões, em lavouras de todas as dimensões no Estado, segundo a apuração do portal O Tempo.
Nos últimos meses, muitos produtores, principalmente no sul de Minas, mas também no Triângulo Mineiro e na Zona da Mata, expressaram preocupação com perdas na produção e o aumento da violência no campo. A maioria desses produtores é da agricultura familiar, e qualquer prejuízo afeta diretamente o orçamento ao longo do ano.
Na visão de agentes de segurança, dirigentes de associações e produtores, o café passou a ser tão lucrativo para os criminosos que, em muitos casos, o furto do grão se tornou mais vantajoso do que o roubo de outros bens nas propriedades rurais. Os roubos de café têm se repetido nos últimos 12 meses, geralmente cometidos por ladrões solitários durante a noite, para evitar chamar a atenção.
No mês passado, em Ilicínea, no sul de Minas, um homem foi detido furtando café diretamente dos pés, com uma saca cheia de grãos e galhos. Em 2024, em Campestre, criminosos furtaram café no pé durante a noite. Já em São Sebastião do Paraíso, o roubo foi ainda mais ousado: ladrões furtaram pés de café recém-plantados.
“Vocês sabem o preço que está o café, né? Vocês já imaginaram como vai ser a segurança desses produtores nessa próxima safra, com o preço do café lá em cima?”, questionou o prefeito de São Sebastião do Paraíso, Marcelo Morais, em um vídeo sobre o ocorrido.

Embora os furtos já tenham sido registrados desde o ano passado, o problema se intensifica à medida que o preço do café arábica continua a subir. Na última sexta-feira, 21, a saca estava cotada a R$ 2,55 mil.
No início do ano, a cotação era R$ 2,24 mil, enquanto um ano antes o valor era de R$ 1 mil, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Em dólares, o preço passou de US$ 204,34 no início de 2024 para US$ 363,65 no início deste ano. A cotação era de US$ 446,68 na última sexta-feira.
Em Machado, um roubo de café aconteceu quando a saca estava a R$ 1,4 mil. Na ocasião, o furto de cerca de seis sacas causou um prejuízo de R$ 8,4 mil ao cafeicultor, o equivalente a R$ 15 mil com o preço atual.
“A gente vai cercando, tem câmera, porteira, muitos cachorros, mas está difícil. Até roubo de café no pé”, disse o cafeicultor Zuliander Silva, 34, de Alpinópolis. “Acho que eu tenho mais medo de ser roubado no pé do que no barracão, porque a gente mora meio afastado, a estrada é estreita, passa muito vizinho, mas as lavouras ficam longe. Com o café nesse preço, para o cara ir lá e apanhar um saco de café basta meia hora.”
Preocupados com a safra deste ano, ele e seus vizinhos organizaram uma reunião para discutir a segurança no campo. “Se deixar ensacado, adeus, aí que eles [ladrões] acham bom”, explica. “Ensacado já furtaram, não largamos mais, porque aí roubam mesmo.”
Roubos de café incluem ação de quadrilhas
Além dos pequenos furtos, há ações de quadrilhas em algumas regiões. Em Jacutinga, a Polícia Civil recuperou uma carga de café avaliada em R$ 2 milhões, que havia sido furtada no porto de Santos. No mês anterior, sete pessoas foram presas suspeitas de integrar uma quadrilha que roubou uma carga de café em Lavras.

Outros crimes contra produtores rurais foram registrados em cidades como Conceição da Aparecida, onde houve duas tentativas de sequestro nos últimos 30 dias, além de roubos em São José da Barra e Campo do Meio.
O furto de café ainda verde também pode afetar a qualidade do produto no mercado. Esse tema foi debatido também durante a Femagri, uma feira organizada pela Cooxupé, maior cooperativa de café do Brasil, em Guaxupé, que reuniu 42 mil visitantes.
O tema também tem sido discutido pela Associação Pública dos Municípios da Microrregião do Médio Rio Grande (Ameg), que engloba 24 municípios produtores de café, e pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais. No dia 17, a Assembleia fez uma audiência pública com polícias, parlamentares, produtores e prefeitos para planejar ações de segurança e prevenir os roubos de café e crimes contra produtores e trabalhadores rurais.
O deputado estadual professor Cleiton (PV), autor do pedido, afirmou que o objetivo é proteger os produtores e suas famílias, além de preparar o setor para um cenário desafiador, caso o preço do café continue subindo, como é esperado para este ano.
“Nós fomos motivados pelas diversas notícias que já chegam de quadrilhas que estão se formando, sabedores da situação que a gente vive no sul de Minas, na fronteira com o Rio de Janeiro, onde se encontra o Comando Vermelho, na fronteira com São Paulo, onde está o PCC”, disse o parlamentar.