A Justiça do Rio de Janeiro decretou a prisão de Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, sócio do PCS Lab Saleme, no contexto das investigações sobre o escândalo dos exames de órgãos infectados com HIV.
Na manhã desta quarta-feira, 23, por volta das 8h30, Matheus se apresentou às autoridades na Cidade da Polícia, sem dar declarações à imprensa, e ficou detido.
Ele é primo do ex-secretário estadual de Saúde Doutor Luizinho e está entre os seis denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) na terça-feira 22.
A juíza Aline Abreu Pessanha, da 2ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, aceitou a denúncia, tornando todos réus. A promotora Elisa Ramos Pittaro Neves pediu a prisão de Matheus, que estava em liberdade, e a conversão da prisão temporária em preventiva para os outros acusados.
Matheus Vieira e os outros cinco acusados — Jacqueline Iris Barcellar de Assis, Walter Vieira, Ivanilson Fernandes dos Santos, Cleber de Oliveira Santos e Adriana Vargas dos Anjos — enfrentam acusações de associação criminosa, lesão corporal e falsidade ideológica. Jacqueline ainda é acusada de falsificação de documento particular.
Defesa de sócio de laboratório alega arbitrariedade e busca habeas corpus
A defesa de Matheus sustentou que o pedido de prisão foi “arbitral”, alegando que ele colaborava com as investigações. O advogado Afonso Destri anunciou que buscaria um habeas corpus para seu cliente.
Detalhes da denúncia do MPRJ revelam que as filiais do PCS Lab Saleme operavam sem alvará e licença sanitária, conforme constatado pela Vigilância Sanitária, que identificou 39 irregularidades, incluindo sujeira e presença de insetos mortos nas bancadas.
A Anvisa descobriu que o laboratório não tinha kits para exames de sangue e não apresentou comprovações de compra dos itens, o que levantou suspeitas de que os testes poderiam ter sido falsificados.
O MPRJ também mencionou ações judiciais por “erro de diagnóstico”, incluindo o caso de Tatiane Andrade, que recebeu um falso positivo para HIV durante o parto.
O escândalo dos órgãos com HIV
A irregularidade foi descoberta em 10 de setembro, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo. Ele não tinha o vírus antes.
Esse paciente recebeu um coração no fim de janeiro. As autoridades refizeram todo o processo e chegaram a dois exames feitos pelo PCS Lab Saleme.
A primeira coleta foi feita no dia 23 de janeiro deste ano — foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea. Todos, segundo o laboratório, deram não reagentes para HIV.
Sempre que um órgão é doado, uma amostra é guardada. A SES-RJ, então, fez uma contraprova do material e identificou o HIV. Em paralelo, a pasta rastreou os demais receptores e confirmou que as pessoas que receberam um rim cada também deram positivo para o HIV.
A que recebeu a córnea, que não é tão vascularizada, deu negativo. A que recebeu o fígado morreu pouco depois do transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV.
No dia 3 de outubro, mais um transplantado também apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Essa pessoa também não tinha o vírus antes da cirurgia. Cruzando os dados, chegaram a outro exame errado, o de uma doadora no dia 25 de maio deste ano.