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O que aconteceria se uma determinada quantidade de dados aleatórios interagisse entre si por milhões de gerações? É o que pesquisadores do Google testaram. E o resultado foi: a vida encontrou um jeito, como diz o matemático Ian Malcolm (Jeff Goldblum) em Jurassic Park. No caso, a vida digital.
Pesquisadores do Google criam ‘sopa primordial’ digital – e a vida aparece
- Pesquisadores do Google realizaram um experimento no qual dados aleatórios foram deixados interagindo por milhões de gerações. O estudo resultou na observação de formas de vida digital auto-replicantes, sugerindo um paralelo com a origem da vida biológica;
- Publicadas num artigo ainda não revisado por pares, essas descobertas podem espelhar ou lançar luz sobre o surgimento da vida biológica. O experimento utilizou a linguagem de programação Brainfuck, conhecida por sua simplicidade, para facilitar a auto-replicação de programas digitais;
- Susan Stepney, da Universidade de York, e Richard Watson, da Universidade de Southampton – ambos não envolvidos no estudo – comentaram sobre a importância e as limitações das descobertas em entrevistas à revista New Scientist. Eles destacaram que, apesar de significativas, a auto-replicação por si só não constitui vida;
- A pesquisa propõe uma versão digital da teoria da sopa primordial, onde a interação aleatória entre “moléculas” digitais sem regras preestabelecidas levou à auto-replicação. Isso sugere mecanismos inerentes que podem permitir o surgimento da vida. Mas auto-replicação não significa vida.
A equipe diz ter testemunhado o surgimento de formas de vida digital auto-replicantes. Suas descobertas, publicadas num artigo ainda não revisado por pares, poderiam espelhar o surgimento da vida biológica no mundo real. Ou ao menos lançar alguma luz sobre esse processo.
Experimento do Google pode ajudar a explicar a origem da vida
Para Susan Stepney, da Universidade de York, no Reino Unido, “conseguir evoluir programas auto-replicantes a partir de pontos de partida aleatórios é uma grande conquista”, conforme disse à revista New Scientist. Ela não participou do estudo do Google.
Este é definitivamente um grande passo em direção à compreensão de rotas potenciais para a origem da vida, aqui em um meio bastante distante do ‘hardware’ padrão da biologia.
Susan Stepney, da Universidade de York (Reino Unido), para a New Scientist
A origem da vida na Terra ainda intriga cientistas de diversas áreas. Apesar de ainda existirem muitas perguntas sem resposta, a teoria mais aceita atualmente é a hipótese de Oparin-Haldane, também conhecida como teoria da sopa primordial.
Sopa primordial digital
A simulação de Ben Laurie, engenheiro de software do Google e coautor do estudo, é uma espécie de sopa primordial digital. Nenhuma regra foi imposta, e nenhum ímpeto foi dado aos dados aleatórios.
Para manter as coisas o mais enxutas possível, eles usaram uma linguagem de programação chamada Brainfuck. Nas palavras dos pesquisadores, ela é conhecida por seu “minimalismo obscuro”. Isso porque permite apenas duas operações matemáticas: adicionar um ou subtrair um.
Resumindo: eles modificaram para permitir apenas que os dados aleatórios (representando moléculas) interagissem entre si, “deixados para executar código e sobrescrever a si mesmos e aos vizinhos com base em suas instruções”.
Apesar dessas condições austeras, programas auto-replicantes foram capazes de se formar. Em última análise, a vida (digital) encontrou um jeito.
Ressalvas importantes
Laurie explicou à revista que as descobertas mostram que existem “mecanismos inerentes” que permitem a formação da vida. Mas a auto-replicação em si não é vida.
É o que aponta Richard Watson, da Universidade de Southampton, no Reino Unido – outro especialista não envolvido no estudo que foi entrevistado pela revista.
“A auto-replicação é importante, mas seria um erro acreditar que é uma solução mágica da qual tudo o que é empolgante sobre a vida segue automaticamente”, explicou Watson. Elementar, meu caro leitor?