Enquanto líderes se preparam para participar da Cúpula da Amazônia hoje, dados confirmam que o mundo registrou em julho o mês mais quente desde que a medição começou a ser realizada. De acordo com o Serviço de Mudanças Climáticas da UE Copernicus, a média global para os dias de julho bateu a marca de 1,5ºC acima da era pré-industrial.
Para os cientistas, julho foi uma espécie de apresentação do que será, em breve a realidade para o mundo e de forma permanente.
O que dizem os dados:
O mês foi 0,72°C mais quente do que a média de julho de 1991-2020 e 0,33°C mais quente do que o mês mais quente anterior, julho de 2019.
Ondas de calor foram registradas em várias regiões do Hemisfério Norte, incluindo o sul da Europa.
Temperaturas bem acima da média ocorreram em vários países da América do Sul e em grande parte da Antártica.
A extensão do gelo marinho da Antártica continuou a quebrar recordes para a época do ano, com um valor mensal 15% abaixo da média, de longe a menor extensão de julho desde o início das observações por satélite.
As regiões extra tropicais mais secas do que a média incluíram o México e o sudoeste dos Estados Unidos, o centro e o sudeste da Ásia, o sudoeste da Austrália e partes do sul do Brasil e do Paraguai.
Temperatura do oceano foi 0,51ºC acima da média entre 1991 e 2020
Esses registros têm consequências terríveis tanto para as pessoas quanto para o planeta, exposto a eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos
– Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus
Temperatura mais elevada em 120 mil anos
Segundo ela, a média de temperatura do planeta foi de 16,95ºC em julho. A especialista aponta que, extrapolando para os dados coletados e analisados pelos cientistas, pode-se dizer que a temperatura é a maior em 120 mil anos.
O anúncio realizado nesta terça-feira ocorre depois de semanas de registros de recordes absolutos de temperaturas sendo identificados em várias partes do hemisfério Norte, que atravessa seu verão. Nos últimos dias, cientistas também anunciaram um calor sem precedentes nas águas dos oceanos.
Chris Hewitt, também do serviço europeu, insistiu que os dados não podem ser considerados como uma surpresa. Segundo ele, os últimos oito anos foram os oito anos mais quentes já registrados. “Os cientistas estão nos avisando sobre isso há um bom tempo”, insistiu.
De acordo com ele, um dos próximos cinco anos sera o mais quentes já registrados. Para a ONU, a única “surpresa” é o fato de que esses fenômenos estão ocorrendo antes de qualquer previsão mais pessimista.
Para o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, a marca de 1,5ºC de elevação da temperatura é estratégica. Acima desse índice, o risco é de que eventos extremos sejam o “novo normal” do planeta, com um impacto sobre a vida de milhões de pessoas.
Não por acaso, a meta do Acordo de Paris é para que, ao longo das próximas décadas, governos tomem medidas necessárias para reduzir as emissões de CO2 e, assim, conter o aumento da temperatura do planeta para abaixo de 1,5 grau.
Para o serviço europeu, o temor é de que o comportamento registrado pelos termômetros em julho sejam mais frequentes e, em algum momento, permanentes.
Para o Instituto Berkeley Earth, ultrapassar essa marca num mês de julho deve ser considerado como um “momento crítico” para o planeta.
Recorde de 2023 é apenas o começo
Na avaliação dos cientistas, o que o mundo vê é apenas o começo de uma nova fase no planeta. 2023, por enquanto, é o terceiro ano mais quente já registrado.
Mas os dados apontam que, no segundo semestre, os índices podem superar a marca de 2016, o maior já identificado. 2023 deve começar a sentir o impacto do fenômeno do El Niño, e que contribui para o aumento das temperaturas em todo o mundo.
Para a ONU, o momento é de reconhecer a vulnerabilidade do planeta. No final de julho, o secretário-geral da entidade, Antonio Guterres, alertou que “a era da ebulição global” chegou. “Para os cientistas, é inequívoco – a culpa é dos humanos”, completou.