O israelense Shany Hershko, de 51 anos, aprendeu que trabalhar com esporte em Israel é algo que vai além da prática do dia a dia. Ele é o técnico da seleção feminina de judô do país.
Nas últimas Olimpíadas e Mundiais, Israel confirmou a fama de ser uma das principais forças da modalidade. Shany esteve no Brasil, nesta semana, ao lado, entre outras, da vice-campeã olímpica Raz Hershko (sua sobrinha), Inbal Lanir (campeã mundial em 2023) e Timna Nelson-Levy (bronze olímpico). Todas acostumadas a enfrentar brasileiros.
Em entrevista a Oeste, ele comentou esse algo a mais que o esporte israelense precisa ter: ajudar na luta, fora do tatame, das quadras ou das piscinas, contra o antissemitismo e pelo desenvolvimento do Estado de Israel, neste momento em que o país está em guerra. “Somos soldados do esporte”, declarou.
Hershko realmente faz um papel de diplomata quando não está treinando as lutadoras. Acompanha, está presente em tudo, passa informações, interage com o público, com uma personalidade aberta e generosa.
Nesta passagem pelo Brasil, ele acompanhou um evento na Hebraica, na capital paulista, no qual as judocas medalhistas e outras que compõem a equipe deram uma aula interativa às crianças praticantes do esporte no clube.
No dia anterior, também na Hebraica, elas haviam participado de palestra em que falaram sobre suas trajetórias, organizada pela Confederação Israelita do Brasil (Conib).
A atividade com as crianças foi marcada pela empolgação, mas também por ensinamentos técnicos. Os pequenos judocas enfrentaram as campeãs, aprendendo e até aplicando (claro que com o consentimento delas…) golpes cheios de estilo.
“O judô em Israel tem se desenvolvido, para nós é muito importante representarmos o país desta maneira”, afirma Hershko. Técnico da seleção desde 2010, foi ele quem lançou a sobrinha Raz para o esporte, estimulando-a a entrar quando ela tinha 4 anos.
Na ocasião, ele era técnico de um clube na cidade de Netanya, próxima de Tel-Aviv, onde a família mora.
Judô e outros esportes em Israel
Para Hershko a importância das competições esportivas, principalmente no patamar de Olimpíada ou Mundial, tem um ingrediente a mais em Israel do que em outros países. Ele ressalta que isso não significa arrogância.
A equipe, por exemplo, tem como treinador da seleção masculina o ex-judoca Oren Smadja, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos de 1992, que é pai de Omer Smadja, soldado morto em Gaza.
Uma das frases mais repetidas entre os judocas israelenses é que eles também lutam pela memória de Omer e para honrar a coragem de Oren, que, mesmo em luto, fez questão de acompanhar o time nos Jogos Olímpicos de Paris.
A relação entre esporte e honra é apenas o retrato de uma realidade israelense. Ainda inserida na guerra e machucada pelos ataques de 7 de outubro, a nação se une em torno do esporte. Como um outro símbolo de sua identidade.
“Em Israel o esporte tem mesmo essa questão a mais do que em outras nações”, observa Hershko. “Lutamos por nós, mas pelo país inteiro, queremos mostrar que o esporte é uma forma de união entre os povos e um importante instrumento contra o antissemitismo.”
Para Raz Hershko, a vinda ao Brasil foi uma novidade. Aos 26 anos, ela reencontrou sua adversária e amiga Bia Souza, que a venceu na disputa olímpica em Paris 2024 e ficou com o ouro. Ambas se encontraram no Clube Pinheiros, onde a delegação israelense também esteve.
“Fora do tatame, somos amigas”, disse Raz a Oeste. “Dentro do tatame, somos adversárias. Isso é o judô, mais do que um esporte, é uma convivência de respeito.”