Com o crescimento do mercado americano no futebol, muitos jogadores têm buscado os Estados Unidos como destino. Na MLS (Major League Soccer), divisão principal do esporte no país, 28 atletas brasileiros se juntam a 45 canadenses, 31 argentinos, 30 colombianos e quase uma centena de jogadores vindos de outras nacionalidades, inclusive europeus, como Lloris, goleiro campeão do mundo com a França.
Messi e Suárez são os maiores expoentes de uma liga que tem evoluído ano após ano.
E a estruturação do futebol norte-americano passa pela base dos clubes. Em Miami, por exemplo, o Inter Miami, time de Messi, forma jogadores desde a categoria sub-12. A equipe sub-13 conta, inclusive, com a presença do filho do craque argentino, Thiago Messi.
Na mesma cidade, outro clube tem focado na base. Trata-se do Miami Dade FC, time que disputa a Liga Independente dos Estados Unidos. Fundado em 2014, o time que tem o brasileiro Roberto Linck como presidente, investe no futebol de base desde a categoria sub-6.
O Miami Dade FC mantém escolinhas de futebol em diversos países, inclusive no Brasil, com sede em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. Os jovens atletas que se destacam nas “filiais”, são convidados a participar de um período de testes no CT do clube, em Miami.
Em excursão pelo continente europeu, o Miami Dade FC disputou torneios na Bélgica, na Holanda e na Alemanha. E foi justamente neste período que dois jovens brasileiros viveram um drama.
Lucas Boaro, meia de 17 anos, morador da cidade gaúcha de Lajeado, foi convocado pela comissão técnica do Miami Dade para participar da viagem do clube à Europa, no último dia 17 de Maio.
Junto com ele, outro garoto de 17 anos. Enzo Garlet, goleiro, nascido e criado em Viamão-RS.
Os dois atletas do Miami Dade BR, por muito pouco, não perderam a chance viajar com o time americano para o velho continente. O motivo: a tragédia climática que devastou o sul do país.
“Minha família é de Mussum, não existe mais cidade lá. A água tomou conta de tudo. Achei que não ia conseguir chegar aqui, pensei que ia perder a viagem e essa grande oportunidade. Foi muito difícil sair do Rio Grande do Sul. A ponte entre Lajeado e Estrela ficou debaixo d’água. Tudo inundado. Meus pais tiveram que ficar em cima do telhado para se proteger da força da água”, disse Lucas, que contou ainda como fazia para manter a forma física durante esse triste período.
“Eu fiquei sem treinar mais de duas semanas, fazia só exercícios em um espaço que a água não atingiu, na lavanderia da minha casa. Não desanimei e nem desisti. Treinava domínio, jogando a bola para o alto, tabelava com a parede. Não é só um sonho meu, é o sonho dos meus pais, do meu avô. Graças a Deus eu consegui chegar a tempo para buscar essa oportunidade tão importante na minha vida”, disse o jovem jogador.
As dificuldades encontradas por Enzo, foram outras. Apesar de não ter a casa invadida pela água, o goleiro ficou impossibilitado de sair de sua cidade.
“Viamão teve todas as principais avenidas destruídas pelas chuvas. Tudo interditado. O aeroporto de Porto Alegre estava fechado, e a única alternativa foi tentar chegar a Florianópolis, para conseguir um voo no aeroporto de lá. O problema é que as estradas estavam bloqueadas e perigosas. Tivemos que passar pela Serra do Rio do Rastro de madrugada. Fiquei com muito medo. Foram quase 24 horas para conseguir chegar lá. Eu rezei muito para que desse tempo, e deu. Valeu a pena. Estar aqui com o Miami Dade é uma chance que eu não quero deixar passar”, afirmou Enzo.
Os dois jovens participaram dos jogos do Miami Dade FC em solo europeu. No último dia 27 de maio, retornaram aos Estados Unidos e permanecem na sede do clube em avaliação para a equipe principal.
Tanto Lucas quanto Enzo, têm como objetivo seguir na MLS ou serem negociados com times da Europa. Tudo para dar conforto e segurança aos familiares que deixaram no Brasil.