quinta-feira, fevereiro 6, 2025
InícioDestaqueJornal revela fraude em programa de marmitas do governo Lula

Jornal revela fraude em programa de marmitas do governo Lula

Em reportagem publicada nesta quinta-feira, 6, o jornal O Globo revela que ONGs contratadas pelo programa Cozinha Solidária, lançado em novembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não forneceram as marmitas previstas em contrato, mas, mesmo assim, prestaram contas como se tivessem entregado as refeições.

O jornal visitou os endereços de três ONGs onde deveriam funcionar as cozinhas, mas não encontrou sinais de preparo de refeições.

ONG Madre Teresa de Calcutá

O programa Cozinha Solidária foi contratado para 12 Estados. Em São Paulo, a ONG Mover Helipa, comandada por José Renato Varjão, venceu um edital público. Varjão, que já trabalhou no gabinete do deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), subcontratou uma rede de ONGs ligadas a atuais ou ex-integrantes de gabinetes petistas. A ONG Mover Helipa atua em uma área de bairros de baixa renda em São Paulo conhecida como “Tattolândia”, reduto da família Tatto.

Uma dessas ONGs subcontratadas é a Cozinha Solidária Madre Teresa de Calcutá, localizada no bairro Jardim Varginha, na zona sul da capital paulista. O contrato estabelece a entrega de 4.583 refeições por mês durante um ano.

Na tarde da última quinta-feira, 30, a reportagem de O Globo esteve no endereço designado para a distribuição das refeições, mas o local estava fechado. Moradores próximos relataram desconhecer a distribuição de marmitas no local.

Paula Souza Costa, responsável pela ONG e ex-assessora do ex-vereador de São Paulo Arselino Tatto (PT), declarou ter entregado 250 marmitas em janeiro, em parceria com o projeto ONG Sueli, que opera no endereço visitado. Essa quantidade representa apenas 5% do valor mensal estipulado em contrato. Apesar de não ter ocorrido entrega em dezembro de 2024, um recibo assinado por Paula Costa informa o recebimento de R$ 11 mil por serviços de produção e oferta de 4.583 marmitas naquele mês.

Segunda visita: ONG Unidos Pela Fé não entregou marmitas

A Cozinha Solidária Unidos Pela Fé, localizada em Parelheiros, também na zona sul de São Paulo, deveria entregar a mesma quantidade de refeições mensais. Claudinei Florêncio, ex-assessor de Arselino Tatto, reconheceu que, apesar de o contrato ter sido assinado em dezembro de 2024 para a entrega imediata, nenhuma refeição havia sido distribuída.

Ele afirmou que as operações começariam a todo vapor no dia 3 de fevereiro. Porém, apesar de não ter entregado nada, em prestação de contas apresentada ao governo, Florêncio alegou que entregou 4.583 marmitas entre 1º e 31 de dezembro do ano anterior. Quando questionado pelo Globo sobre a divergência de informações, ele não se manifestou.

ONG Instituto Rosa dos Ventos

A verba federal do programa de marmitas também beneficiou outras entidades próximas ao grupo político do PT, como a Cozinha Solidária Instituto Rosa dos Ventos, de Anderson Clayton Rosa, que ainda trabalha como assessor do deputado Nilto Tatto.

A ONG, que deveria entregar 4.583 marmitas, afirma que produziu 400 pratos em janeiro, conforme a prestação de contas. O parlamentar não se manifestou, enquanto o assessor afirmou que pode ter ocorrido “algum erro” na documentação enviada ao governo.

Cozinha solidária
Primeiro Encontro Nacional do Programa Cozinha Solidária, do qual participaram organizações ligadas à esquerda – 13/11/2024 | Foto: Thiago Souza

Outras ONGs envolvidas na entrega de marmitas

Além da família Tatto, a verba também foi direcionada a ONGs geridas por ex-assessores de outros políticos do PT. No caso da Cozinha Solidária Divino Espírito Santo, a entidade está registrada em nome de um ex-auxiliar do deputado estadual Luiz Fernando Teixeira (PT-SP). O contrato previa a entrega de 4.583 marmitas por mês na região de Sapopemba, na zona leste de São Paulo. O parlamentar declarou não ter relação com a contratação das ONGs.

No endereço informado ao ministério, funciona uma igreja, e vizinhos mencionaram um ponto de distribuição de marmitas em frente ao local. Na sexta-feira 31, quando a reportagem esteve no local, funcionários já aguardavam a visita dos jornalistas. Eles relataram que 70 refeições são produzidas diariamente, totalizando 2,1 mil por mês, número inferior ao contratado.

Subcontratação

José Renato Varjão, responsável pela ONG que firmou o acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social, comandado por Wellington Dias, e que subcontratou outras entidades, assegurou que visitaria os locais para confirmar se as entregas estavam sendo realizadas.

Ele tratou como coincidência a participação de petistas nas ONGs e afirmou: “Quem não estiver fazendo as entregas vai ter que devolver os recursos. Mas não teve influência de parlamentares. Foi mera coincidência.”

Quatro dias depois da visita da reportagem, Varjão enviou um vídeo indicando que a Cozinha Unidos Pela Fé estava sendo inaugurada.

Dados idênticos na prestação de contas do programa de marmitas

Por obrigação contratual, as entidades precisam apresentar relatórios de prestação de contas ao Ministério do Desenvolvimento Social. O Globo informa que analisou os documentos e encontrou 13 relatórios com semelhanças, como termos idênticos e rubricas semelhantes.

Os metadados desses relatórios indicam que foram criados na última semana de dezembro por um mesmo usuário, Fábio Rubson da Silva, advogado que presta serviços para a Mover Helipa.

Wellington Dias
Wellington Dias, durante o Primeiro Encontro Nacional do Programa Cozinha Solidária – 12/11/2024 | Foto: Thiago Souza

O ministério de Wellington Dias anunciou que vai visitar os locais e monitorar o andamento do projeto. Se forem identificadas irregularidades na execução ou no uso dos recursos, medidas como suspensão do repasse de verbas e a exigência de devolução dos valores à União poderão ser tomadas.

Via Revista Oeste

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui