Um levantamento da consultoria Ativaweb revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta significativa perda de apoio em suas redes sociais, com impacto direto nas plataformas Instagram e Facebook.
Entre dezembro do ano passado e junho deste ano, aproximadamente 1 milhão de seguidores deixaram de acompanhar as contas oficiais do presidente, segundo o estudo. O cenário foi agravado por crises que envolvem descontos irregulares do INSS e o anúncio de elevação do IOF, além de episódios marcados por falas da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja.
Os dados mostram que Lula conta atualmente com 5,6 milhões de seguidores no Facebook e 13,3 milhões no Instagram — um total de 18,9 milhões. A crise do INSS, exposta depois da operação da Polícia Federal que revelou fraudes, provocou, em abril, a maior redução do semestre, com 240 mil seguidores a menos.
Na ocasião, o assunto gerou 2,88 milhões de menções em apenas 24 horas, sendo que 79% tinham teor negativo. Expressões como “roubo”, “despreparo” e “governo omisso” dominaram as postagens monitoradas, conforme divulgado pelo portal PlatôBR.
Falta de estratégia e impacto das crises nas redes de Lula

De acordo com Alek Maracajá, professor da ESPM e CEO da Ativaweb, a repercussão do caso do INSS representou o ápice de um desgaste acumulado desde o início do ano.
“Houve uma falha grave de antecipação e preparo comunicacional”, disse Maracajá. “O governo não possuía uma estrutura capaz de fazer escuta ativa, identificar os sinais de crise e agir com agilidade. A demora em responder deu espaço para a viralização de desinformação, memes e vídeos emocionais, que amplificaram a indignação popular em um caso como esse, que tem um forte apelo emocional por atingir o cidadão comum.”
O anúncio do aumento do IOF também impulsionou menções negativas ao presidente. Elas chegaram ao maior porcentual do ano: 89% das referências ao caso foram críticas, tanto a Lula quanto ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O recuo do governo, que revogou parte da medida no mesmo dia, não impediu o avanço da insatisfação entre usuários das redes sociais.
Além disso, o levantamento da Ativaweb sugeriu que o Nordeste, tradicionalmente alinhado ao PT, concentrou 28,4% das menções sobre os episódios. Depois, vem o Norte (20,3%), o Sudeste (18,7%), o Centro-Oeste (17,7%) e o Sul (14,9%).
Em maio, Lula perdeu mais 190 mil seguidores. Para Renato Dorgan, cientista político e CEO do Instituto Travessia, “a situação do IOF foi um desastre, porque ratifica a história de que é um governo que aumentou impostos”.
“Isso se soma ao caso do INSS, que também traz de volta e associa o governo à corrupção, martelado pela direita como a marca do PT desde a Lava Jato”, disse. “São vários traumas que vão se juntando.”
O papel das declarações de Janja
Além das questões econômicas, algumas declarações de Janja também geraram repercussão negativa. No mês passado, a primeira-dama criticou o TikTok durante jantar com o presidente chinês, Xi Jinping. O fato resultou em 73% de rejeição em publicações analisadas pela Ativaweb.
Grupos de WhatsApp monitorados pela consultoria Palver, a pedido do jornal O Globo, registraram 456 menções a Janja a cada 100 mil mensagens, sendo 60% negativas.
Outro momento de destaque ocorreu quando Janja defendeu a regulação das redes sociais seguindo modelo chinês, em entrevista à Folha de S.Paulo. Nesse dia, a Palver identificou 154 citações ao nome dela a cada 100 mil mensagens, com 35% negativas, 51,4% neutras e 13,6% positivas. A data coincidiu com o lançamento da campanha #EstouComJanja, pelo PT, que repercutiu de forma semelhante nas redes.
Segundo a Palver, as reações só ficaram mais equilibradas em 12 de fevereiro, quando Janja se encontrou com o papa Francisco. Nessa ocasião, as menções positivas e neutras atingiram 37,8% cada, enquanto as negativas foram 24,4%, com volume total de 111 menções.
O maior pico ocorreu em novembro do ano passado, durante o G20 Social, quando Janja criticou o empresário Elon Musk, dono do X, atingindo mil menções a cada 100 mil publicações.