É isso mesmo o que você leu no título. Um grupo de amigos, sem grandes pretensões, chegou no campo de um fazendeiro, em 2019, apenas para testar um novo detector de metais, hobby que Adam Staples, um dos integrantes do grupo, tinha há tempos.
Só que, aos poucos, eles começaram a se animar, pois encontraram, em sequência, algumas moedas de prata medievais. Na época, o dono das terras não acreditou que as peças de metal, frágeis, eram moedas.
Cinco anos se passaram e, agora, o Chew Valley Hoard, como passou a ser conhecido, por conta da região onde foi encontrado, em Somerset (Inglaterra), foi confirmado como o tesouro mais valioso descoberto na Grã-Bretanha.
Agora, ele está sob a tutela da South West Heritage Trust, instituição de caridade independente, que o comprou por £ 4,3 milhões (R$ 31,61 milhões, na conversão direta). O valor será dividido entre Staples, seus amigos e o fazendeiro.
Staples, que hoje é leiloeiro de antiguidades, afirmou, ao The New York Times, que, uma vez que achou a segunda moeda, já pensou que estavam diante de algo importante. “Seja o que for, se for uma moeda de uma libra — o próximo bipe que você ouvir, será que é outra? Você sempre sente que talvez isso seja um tesouro de achados”, disse.
Como é o tesouro encontrado pelos amigos?
- Foram encontradas, ao todo, 2.584 moedas de prata;
- Elas datam de pouco tempo após a Batalha de Hastings, ocorrida em 1066, na qual o rei anglo-saxão Haroldo II perdeu a guerra para os invasores normandos, liderados por Guilherme, o Conquistador;
- O tesouro possui imagens dos dois governantes, o que prova que elas foram cunhadas durante a troca de comando na Inglaterra;
- Ian Richardson, registrador sênior de tesouros do Museu Britânico, afirmou que “elas [moedas] têm informações sobre onde foram produzidas, onde foram cunhadas, mas, também, sobre a pessoa responsável”.
Processo de espera
Os cinco últimos anos foram tediosos e, por que não, angustiantes para Staples e seus amigos, já que aguardaram o longo processo de declaração de tesouros da Grã-Bretanha. Ele exige que pessoas que descobrem possíveis tesouros informem as autoridades. Elas, por sua vez, decidem a quem as descobertas pertencem.
A lei britânica indica que um “tesouro” é qualquer objeto com mais de 300 anos e com, pelo menos, 10% de metal precioso. Uma moeda sozinha não entra na definição, que só abrange quando são encontradas duas em diante.
Staples já sabia de todos os trâmites e leis e, assim que encontraram os itens, entrou em contato com um dos agentes de ligação de achados do país. Este funcionário é encarregado de rastrear possíveis tesouros.
Vale dizer, contundo, que as regras que regem a detecção de metais na Grã-Bretanha são inconstantes, variam sobre cada território britânico e dependem de adesão “ferrenha” dos interessados aos requisitos de relatórios, havendo, inclusive, consequências legais para quem não concordar com os termos.
Na Grã-Bretanha, é permitido o uso de detectores de metais em terras privadas (como foi o caso) mediante autorização do proprietário. Caso as pessoas encontrem algo que possa ser considerado um tesouro (como também foi o caso), elas precisam levar o achado a um legista local ou oficial de ligação.
Uma vez que ele for definitivamente considerado um tesouro, ele vira propriedade do governo britânico, que, então, gerencia uma possível aquisição por museus e divide os lucros entre quem os encontrou e o proprietário das terras onde ele foi achado.
“É reconhecido que, essencialmente, embora, por lei, o objeto não pertença ao descobridor ou proprietário, se você vai citar, ‘tire-o deles’, é parte desse relacionamento fornecer a eles uma recompensa que seja igual ao valor de mercado”, disse Richardson. O profissional salientou, ainda, que é fundamental evitar que os objetos caiam no mercado negro.
O tesouro de moedas de Chew Valley, agora, será exibido em museus de todo o país, antes de ser definitivamente instalado no Museu de Somerset.