Em 10 de outubro do ano passado, as autoridades israelenses confirmaram as mortes de dois civis brasileiros: Bruna Valeanu e Ranani Glazer. Eles haviam sido sequestrados três dias antes por integrantes do Hamas. Ao se posicionar em relação à situação, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil se limitou a indicar “profundo pesar” — e não citou em nenhum momento o grupo terrorista como responsável pelos assassinatos. Nesta quarta-feira, 31, o Itamaraty teve postura diferente ao divulgar nota a respeito de Ismail Haniyeh, líder do Hamas, que foi morto em Teerã, capital do Irã, horas antes. O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de ressaltar que “condena veementemente o assassinato” do terrorista, além de registrar o “flagrante desrespeito à soberania e à integridade territorial” do país islâmico.
Até no tamanho dos comunicados, o MRE deu mais atenção à eliminação do líder de um grupo terrorista do que aos dois brasileiros raptados e, consequentemente, assassinados por membros do movimento extremista que tem como base a Faixa de Gaza. A soma das notas sobre Bruna e Glazer totaliza 136 palavras — sem condenar em momento algum os responsáveis pelos crimes. Sozinha, a manifestação referente a Haniyeh totaliza 208 palavras. Nesse caso, o Itamaraty lamentou o que classificou como “atos de violência”.
“Tais atos dificultam ainda mais as chances de solução política para o conflito em Gaza, ao impactarem negativamente as conversações que vinham ocorrendo para um cessar-fogo e a libertação dos reféns”, afirmou o governo Lula, sobre a morte do líder do Hamas e sem citar que a situação bélica teve início por causa do grupo terrorista, que, em 7 de outubro de 2023, invadiu o sul de Israel para sequestrar, estuprar e matar civis. Até hoje, mais de cem pessoas seguem em cativeiros espalhados por Gaza.
No comunicado em que lamenta a morte de um líder extremista, o Itamaraty cobrou pelo “cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza”. Na nota, o MRE não define o Hamas como grupo terrorista.
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Mauro Vieira é o ministro à frente do Itamaraty desde o início do atual governo Lula, em janeiro de 2023. Ex-chanceler, Celso Amorim também integra o Poder Executivo federal. Ele é o chefe da Assessoria Especial do Presidente da República.
Íntegras das notas do Itamaraty
Leia, abaixo, as íntegras das três notas do MRE.
- Assassinato do brasileiro Ranani Glazer — 10/10/2023, às 8h02
“Falecimento de cidadão brasileiro em Israel
O Governo brasileiro tomou conhecimento, com profundo pesar, do falecimento do cidadão brasileiro Ranani Nidejelski Glazer, natural do Rio Grande do Sul, vítima dos atentados ocorridos no último dia 7 de outubro, em Israel.
Ao solidarizar-se com a família, amigas e amigos de Ranani, o Governo brasileiro reitera seu absoluto repúdio a todos os atos de violência, sobretudo contra civis.”
- Assassinato da brasileira Bruna Valeanu — 10/10/2023, às 15h16
“Morte de cidadã brasileira em Israel
O governo brasileiro lamenta e manifesta seu profundo pesar com a morte da cidadã brasileira Bruna Valeanu, de 24 anos, natural do Rio de Janeiro, segunda vítima dos atentados ocorridos no último dia 7 de outubro em Israel.
Ao solidarizar-se com a família, amigas e amigos de Bruna, o governo brasileiro reitera seu total repúdio a todos os atos de violência contra a população civil.”
- Morte do terrorista palestino Ismail Haniyeh — 31/7/2024, às 13h09
“Assassinato do chefe do Escritório Político do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã
O governo brasileiro condena veementemente o assassinato do chefe do Escritório Político do Hamas, Ismail Haniyeh, ocorrido hoje, 31/7, em Teerã.
O Brasil repudia o flagrante desrespeito à soberania e à integridade territorial do Irã, em clara violação aos princípios da Carta das Nações Unidas, e reafirma que atos de violência, sob qualquer motivação, não contribuem para a busca por estabilidade e paz duradouras no Oriente Médio. Tais atos dificultam ainda mais as chances de solução política para o conflito em Gaza, ao impactarem negativamente as conversações que vinham ocorrendo para um cessar-fogo e a libertação dos reféns.
O Brasil reitera o apelo a todos os atores para que exerçam máxima contenção, de modo a impedir que a região entre em conflito de grandes proporções e consequências imprevisíveis, às custas de vidas civis e inocentes, bem como exorta a comunidade internacional para que envide todos os esforços possíveis com vistas a promover o diálogo e conter o agravamento das hostilidades.
O governo brasileiro reitera que, para interromper a grave escalada de tensões no Oriente Médio, é essencial implementar cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, em cumprimento à Resolução 2735 do Conselho de Segurança das Nações Unidas.”
E mais: “A diplomacia imoral”, por J. R. Guzzo
E ainda: “Amorim é o passarinho de Lula”, por Augusto Nunes