“Qualquer acordo final deve estabelecer uma estrutura para paz, estabilidade e prosperidade no Oriente Médio, o que significa que o Irã deve parar e eliminar seu programa de enriquecimento e armamento nuclear”, declarou Steve Witkoff, enviado dos Estados Unidos (EUA) para o Oriente Médio, em um comunicado de abril.
“É imperativo para o mundo que criemos um acordo justo e rigoroso que seja duradouro, e é isso que o presidente Trump me pediu para fazer.”
A declaração de Witkoff ecoa a crescente preocupação dos norte-americanos e israelenses com o avanço do programa nuclear e de mísseis balísticos de Teerã.
Dois especialistas muito bem informados sobre o atual estágio do arsenal iraniano endossam esta preocupação. Eles defenderam uma estratégia conjunta para dissuadir o Irã, intensificando a pressão diplomática e econômica. Não descartam, porém, que EUA e Israel optem por uma via de uma ação militar preventiva como último recurso.
Behnam Ben Taleblu, diretor do programa Irã da Foundation for Defense of Democracies (FDD) e Mark Dubowitz, CEO da FDD, realizaram uma live em que esmiuçaram os detalhes do cada vez mais perigoso sistema de armas do país persa, que tem se aproximado de desenvolver uma tecnologia nuclear de caráter bélico.
Dubowitz observa que o Irã mantém uma doutrina militar agressiva. Seus laços de proliferação com Coreia do Norte, China e Rússia formam o que Dubowitz chama de O Eixo da Miséria. O país usa ataques de mísseis contra Estados com armas nucleares.
Taleblu, um iraniano-americano de primeira geração, vai além. E contesta a tese de que o arsenal iraniano é puramente defensivo. Segundo ele, o programa de mísseis e o programa nuclear, inicialmente escudos, desenvolveram capacidade ofensiva.
“Isso [o programa de mísseis e nuclear] é projetado em parte para protegê-los”, explica Taleblu, “mas uma vez que eles se tornaram tão bons em serem protegidos, ele desenvolveu um componente ofensivo.”
O iraniano acrescenta que essa capacidade de dissuasão iraniana “é projetada para ser um escudo para que a espada possa continuar a atacar os adversários do regime, sejam eles árabes, israelenses, ou forças ou interesses dos EUA na região.”
Engana-se, segundo eles, os que pensam que o Irã aguarda para dar início a um conflito em um momento no qual esteja mais preparado. O Irã já está em ação, garantem. Desde 2017, o Irã tem intensificado ataques com mísseis. Isso inclui ações diretas no Iraque e na Síria. Em janeiro de 2020, o Irã retaliou a morte do general Qasem Soleimani.
Lançou o maior ataque de mísseis balísticos contra forças dos EUA na história, atingindo bases americanas. “A moral da história é que os EUA nunca haviam sofrido um ataque assim desde a Segunda Guerra Mundial”, observa Taleblu.
Em 2024, o Irã realizou outra ação inédita. Atacou diretamente o território de um Estado com armas nucleares por três vezes, sem possuir armas nucleares. Isso ocorreu contra o Paquistão em janeiro e Israel em abril e outubro. Os projéteis de médio alcance usados contra Israel, alerta Taleblu, “muitos deles atendem aos limites de alcance e carga útil de um sistema com capacidade nuclear.”
É este o ponto mais preoupante, segundo Dubowitz. Tal proximidade do país persa com tecnologia nuclear está obrigando os inimigos a desenvolverem sistemas de defesa que não sejam apenas de ponta ou com risco mínimo. Eles precisam ser perfeitos, para se blindarem do que ele chama de Doutrina do 1%.
Dubowitz enfatiza a gravidade dessa capacidade: “São mísseis com capacidade nuclear e tinham cargas convencionais, mas poderiam facilmente ter tido cargas nucleares.” O temor é a Doutrina de 1%, onde uma única ogiva pode causar uma catástrofe. “Imagine um dos quatro que aterrissaram em abril ou um dos 32 ou 33 que aterrissaram em outubro, e realmente seria, Deus nos livre, o fim do jogo”, prevê Behnam Taleblu.
“Isso é um ponto incrivelmente importante de se enfatizar”, destaca Dubowitz sobre a capacidade nuclear dos mísseis. “E então basta um [míssil] para passar pelas defesas aéreas israelenses ou americanas para criar uma catástrofe absoluta.”
Apesar do foco no enriquecimento de urânio, o programa de mísseis estratégicos do Irã merece mais atenção. Mísseis de combustível sólido são mais versáteis. Podem ser pré-abastecidos e são móveis. “Você pode abastecê-los… e pode movê-los”, explica Taleblu. O Irã tem depósitos subterrâneos, “selvas de mísseis” ou “cidades de mísseis”.
“Houve alguma discussão, mas não muita, sobre o programa de mísseis estratégicos do Irã e se ele faria parte do acordo nuclear”, ressalta Mark Dubowitz, referindo-se ao Plano de Ação Global Conjunto (JCPOA, na sigla em inglês) de 2015. Ele lembra que uma crítica comum àquele acordo era ser “muito limitado em escopo” e não focar no programa de mísseis iraniano.
A capacidade de produção de mísseis de propelente sólido (combustível químico compacto) sofreu com ataques de retaliação israelenses. A recente explosão no porto de Shahid Rajaee, em Bandar Abbas, pode ter destruído precursores químicos essenciais. Mesmo com reveses, o regime continua a investir no setor.
Estratégia EUA-Israel em relação ao arsenal nuclear do Irã
A política dos EUA e de Israel em relação ao Irã opera em múltiplas frentes. No cerne, está o compromisso mútuo de impedir que Teerã obtenha armas nucleares. Os EUA buscam isso principalmente através de pressão econômica (sanções), diplomacia (com tentativas de renegociação de acordos que incluam o programa de mísseis) e dissuasão militar. A presença militar americana na região serve como um pilar dessa dissuasão.
Israel, por sua vez, adota uma abordagem mais proativa em sua campanha entre guerras, que inclui ataques aéreos ou cibernéticos contra instalações iranianas e carregamentos de armas para proxies, visando atrasar o programa nuclear e o desenvolvimento de mísseis. A coordenação de inteligência entre os dois países é intensa.
Embora as ações militares diretas sejam consideradas o último recurso, ambas as nações têm reiterado que “todas as opções estão na mesa” para proteger seus interesses e a segurança global, caso o Irã cruze a linha vermelha da obtenção de armas nucleares.
Também em abril, à Fox News, o enviado dos EUA, Witkoff, admitiu que o momento é de persuadir o Irã de tentar obter uma bomba atômica.
“Em algumas circunstâncias, eles estão enriquecendo a 60% e, em outras, a 20%. Isso não pode ser possível”, disse ele.
“Não é necessário executar, como eles alegam, um programa nuclear civil em que o enriquecimento ultrapasse 3,67%. Isso dependerá muito da verificação do programa de enriquecimento e, em última análise, da verificação do armamento, isso inclui o tipo de mísseis que eles têm armazenados lá e o gatilho para uma bomba.”
A exigência de Witkoff, a mesma dos EUA e de Israel, pode ser vista, mais do que uma tentativa de conciliação, como um ultimato.