O chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos (Cenipa), brigadeiro Marcelo Moreno, disse, nesta sexta-feira, 9, que os investigadores do órgão, que estão na cidade de Vinhedo, no interior de São Paulo, já estão de posse dos gravadores de áudio e de dados, que fazem parte da caixa-preta do avião que caiu no município nesta tarde. O acidente deixou 61 pessoas mortas.
“Estamos de posse dos dois gravadores”, disse Moreno a jornalistas durante coletiva de imprensa. “Isso é importante para poder reconstruir o acidente. São dois tipos de gravador. Um grava vozes. Tudo o que piloto e o copiloto falam e tudo o que é conversado dentro da cabine. O outro é um gravador de dados, existem vários modelos, mas basicamente eles mostram a velocidade, se o flap estava abaixado.”
O gravador do áudio, conforme o brigadeiro, grava os últimos 30 minutos que antecedem a queda do avião em SP. Já o gravador de dados captura todas as informações do voo no período que antecede a queda, como velocidade, inclinação, os dados da aeronave. “Isso ajuda a reconstruir o acidente”, continuou.
Os gravadores serão enviados a Brasília para que especialistas analisem as condições dos equipamentos. Em alguns casos, os danos nos aparelhos são tamanhos que prejudicam a coleta das informações. Durante a coletiva, o chefe do Cenipa afirmou ainda que, no que se refere ao avião que caiu em SP, não houve comunicação de emergência por parte dos pilotos.
Segundo Moreno, serão levantadas todas as conversas entre os pilotos e “tudo o que for preciso para a investigação”. Existem apenas dois laboratórios no Hemisfério Sul que podem extrair informações da caixa preta, o Cenipa é um deles. Já o outro fica na Austrália.
“Depende do grau de destruição”, continuou. “Temos capacidade de fazer a extração de equipamentos bem danificados. Eventualmente, precisamos levar para o fabricante nos Estados Unidos.” O Cenipa faz a apuração técnica dos acidentes aéreos a fim de entender como aconteceu e como prevenir. A apuração não indicia ninguém, pois não tem cunho criminal
Ele explicou ainda que, quando ocorre um acidente com aeronaves, o órgão possui a obrigação de convidar o país que fabricou o avião para ajudar na investigação. Eles contataram o Bureau D’enquetes Et D’analyses Pour La Securite De L’aviation Civile, France (BEA), da França e o Canadá, que fabricou os motores.
“É uma investigação complexa, nós teremos a obrigação, não é possível agora prever um prazo de emissão de relatório final, mas sempre será o menor prazo possível, nós vamos sempre entregar serviço de excelência para a sociedade no segurança transporte aéreo”, continuou.
O brigadeiro lamentou o “evento catastrófico” e alegou o papel do órgão é fazer a investigação do acidente para emitir recomendações “para a segurança da sociedade brasileira”.
Suposto em gelo no avião que caiu em SP
O chefe divisão de investigação e prevenção do Cenipa, Carlos Henrique Baldin, explicou que a aeronave tinha plenas condições de lidar com a formação de gelo nas asas durante o voo. Além disso, que era “cedo” para afirmar que o acidente foi causado pelo gelo.
“Essa aeronave é certificada para voar nessas condições”, relatou. “Ela tem dispositivos para eliminar [o gelo]. Ela é preparada para voar em condições severas de gelo, inclusive, em outros países. Cedo para afirmar qualquer coisa nesse sentido. Não temos como afirmar nesse momento se isso foi decisivo ou não para a ocorrência.”
Já o diretor da Agência Nacional de Aviação (ANAC), Ricardo Catanant, disse que o avião estava regular e havia 14 anos de uso. “Foi construída em 2010 e entrou no Brasil em 2022. Nesse caso, está tudo de acordo conforme o previsto na nossa regulamentação”, explicou.