As negociações para a reestruturação do passivo da InterCement se intensificaram. Isso ocorreu em razão da falta de consenso entre a Mover, controladora da companhia, a CSN e os bancos credores. O impasse surgiu em torno da elaboração de um plano que fosse minimamente aceitável para todas as partes envolvidas. Como consequência, a InterCement ajuizou um pedido de recuperação judicial.
O pedido foi protocolado na noite desta terça-feira, 3, na 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca da Capital do Estado de São Paulo. O valor das dívidas a serem reestruturadas soma R$ 14,2 bilhões, incluindo passivos da própria Mover, controladora da cimenteira.
A empresa informou que a ação foi movida em conjunto com suas controladoras indiretas, InterCement Participações (ICP) e Mover Participações, além de outras sociedades do grupo econômico.
No comunicado oficial, o grupo afirmou que, sob a coordenação da ICP e seus assessores financeiros e jurídicos, a companhia e as outras empresas do grupo tentaram encontrar uma solução para suas obrigações financeiras. No entanto, para que as negociações prosseguissem e a reestruturação da estrutura de capital fosse viabilizada, foi necessário formalizar o pedido de recuperação judicial.
A empresa também esclareceu que o acordo de exclusividade para a venda de ações que representavam 100% do capital da ICP não está mais em vigor
A InterCement destacou que as negociações devem avançar rapidamente, independentemente de um possível processo de venda de ativos. A empresa considera sua robusta capacidade de geração de caixa como um fator que garante a continuidade das operações. Além disso, também esclareceu que o acordo de exclusividade para a venda de ações que representavam 100% do capital da ICP não está mais em vigor.
O grupo já havia solicitado a recuperação extrajudicial em setembro. O prazo para a conclusão do plano e adesão de 50% mais um dos credores estava estabelecido até o dia 16 de dezembro. No entanto, a dificuldade nas negociações, que se arrastam há mais de um ano, tornou a recuperação judicial uma necessidade premente.
InterCement espera mais segurança em negociações com credores
Com a recuperação judicial, a InterCement espera ter mais segurança nas negociações com seus credores. A dívida financeira já ultrapassa R$ 10 bilhões, incluindo debêntures emitidas com os bancos Bradesco, Itaú e Banco do Brasil, além de títulos estrangeiros com bondholders que estão vencidos desde julho.
Para os credores, a recuperação judicial pode representar uma solução mais favorável. Até o momento, esse grupo estava isolado das discussões. Em recuperação judicial, a InterCement continuará a gerar caixa, e os credores terão voz ativa nas novas negociações.
As tensões aumentaram com a pressão para que a CSN assumisse não apenas as dívidas da InterCement, mas também as responsabilidades da Mover. Isso gerou divergências quanto às garantias oferecidas.
As condições para a renovação das dívidas com os bancos tornaram-se cada vez mais difíceis. O valor proposto pela venda da InterCement não foi suficiente para cobrir os créditos dos bancos, que têm uma dívida de R$ 5,9 bilhões. Além disso, as disputas judiciais que envolvem os detentores de mais de R$ 3 bilhões em títulos de dívida no exterior também contribuíram para o impasse.
Empresa solicitou recuperação extrajudicial em tribunais estrangeiros
A InterCement havia solicitado a recuperação extrajudicial em tribunais estrangeiros, incluindo na Holanda. O prazo para apreciação do caso expirou no último sábado, 30. A empresa pediu uma prorrogação de três meses, mas teve o pedido rejeitado. O juiz holandês deve decidir o caso até 5 de dezembro.
O valor das dívidas no plano de recuperação extrajudicial totalizava R$ 22 bilhões, com R$ 12 bilhões envolvem as empresas do grupo. Com a recuperação judicial, a CSN perde a exclusividade nas negociações. Outros interessados podem surgir. A venda da companhia provavelmente ocorrerá de forma fatiada.