Investigações da Polícia Civil revelam que funcionários do Instituto Davi, localizado em Atibaia (SP), maltrataram pessoas autistas que moravam na instituição. Famílias de pacientes denunciaram agressões físicas e psicológicas, além do uso excessivo de medicamentos.
Reportagem da emissora SBT revelou que, mesmo com as investigações em andamento, o instituto recebeu R$ 800 mil em emendas parlamentares em 2024, provenientes de deputados estaduais de São Paulo de diferentes partidos.
Recentemente, a clínica mudou de nome. Passou de Casa de David para Instituto Davi. A instituição não atende mais adultos com autismo severo.
Relatos de mães cujos filhos foram internados na antiga Casa de David revelam situações alarmantes. Damiana Maria Souza Calderini, mãe de um homem autista de 31 anos, afirmou ao SBT que seu filho tinha ferimentos graves.
“Mordidas na barriga, no peito, no ombro”, relatou Damiana. “Ele chegou a ter cortes com pontos no supercílio, na testa e na cabeça. Hematomas no corpo inteiro.”

Ana Pereira, mãe de um paciente de 35 anos, afirmou ao SBT que seu filho frequentemente aparecia ferido. Ela relata ter visto lesões nos joelhos, nos pés e nos cotovelos.
“Diziam que ele caía, porque era agitado, mas ele não estava ali para ser cuidado?”, perguntou Ana Pereira. “As justificativas para os ferimentos eram de que os pacientes se machucavam sozinhos.”
Mais relatos de maus-tratos no instituto para autistas
Outros relatos também incluem episódios de mordidas frequentes e convulsões, que não eram informadas às famílias. Ana Pereira contou que, em uma das visitas, seu filho apresentava cerca de 50 marcas de mordida. Outras mães afirmaram que há suspeitas de superdosagem de calmantes.

Ex-funcionários do Instituto Davi corroboram os relatos de maus-tratos. Uma ex-farmacêutica, cujo nome não foi revelado, afirmou que, depois de episódios de agressividade, os pacientes eram deixados por horas sob o sol sem supervisão. Outra funcionária relatou ter presenciado empurrões e xingamentos dirigidos aos internos.
As famílias afetadas registraram um boletim de ocorrência, e os documentos estão sob análise do Ministério Público, que ainda não tomou uma decisão.
O advogado William de Almeida, que representa pelo menos dez famílias, expressou frustração com a lentidão do processo. “Temos elementos suficientes para as punições”, disse ao SBT. “Há relatórios médicos, prontuários hospitalares que mostram lesões que nem as famílias sabiam.”