A combinação de altas temperaturas, seca severa, El Niño e desmatamento está assolando a floresta Amazônica, tornando a região propícia para a ocorrência de incêndios de uma forma sem precedentes. Como consequência, esse ecossistema vital para a biodiversidade e estabilização do clima global pode ficar gravemente danificado este ano.
Para quem tem pressa:
- A Amazônia tem sido atingida pela combinação de secas severa, altas temperaturas, El Niño e desmatamento, o que pode aumentar os riscos de incêndio;
- Para combater o fogo, os pesquisadores têm monitorado a floresta e criado modelos que preveem onde e quando os incêndios podem acontecer;
- Acredita-se que a situação de incêndios na Amazônia tende a piorar com as mudanças climáticas, afetando o mundo todo.
A Floresta Amazônica representa cerca de 10% da biodiversidade terrestre do planeta e tem um papel fundamental no controle do aquecimento global, isso porque ela funciona como um grande armazém de carbono. No entanto, a região tem estado sob constantes ameaças como desmatamento e incêndios florestais.
A maioria dos incêndios na região são propositais. De acordo com Dolors Armenteras Pascual, ecologista e professora da Universidade Nacional da Colômbia, em resposta ao WordsSideKick.com, as árvores são cortadas pouco antes da estação da seca, pois isso facilita com que sejam queimadas e a terra seja limpa e seja usada para agricultura.
Segundo Bernardo Flores, pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, isso se torna um problema muito maior quando combinado com as altas temperaturas, seca severa e o El Niño presentes na Amazônia atualmente. Essa união tem deixado especialistas preocupados, porque elas podem secar o solo e a matéria orgânica da floresta e permitir que os incêndios se espalhem pela floresta com mais facilidade.
Monitoramento da Amazônia
A Amazônia é monitorada em tempo real e os dados dessas observações são utilizados para construir modelos capazes de prever quando e onde os incêndios podem acontecer, com semanas e até mesmo meses de antecedência.
Esses modelos usam observações de satélites para medir a temperatura e os índices de precipitação de determinada região, combinados com medições da umidade do solo, das águas subterrâneas e das condições da vegetação. Dois desses modelos são o GEOS S2S (subsazonal a sazonal) da NASA e o Sistema de Assimilação de Dados Terrestres (LDAS), que são utilizados por Benjamin Zaitchik, professor de Ciências da Terra e Planetárias na Universidade Johns Hopkins, e sua equipe.
Os pesquisadores do Centro de Monitoramento e Alerta Precoce de Desastres Naturais (CEMADEN), liderados por Liana Anderson, começaram a usar esses modelos na Amazônia no ano passado. Ao entrar em contato com Zaitchik, eles pediram ajuda para prever os riscos de incêndio na região.
As ferramentas de monitoramento e previsão deixaram claro que havia um risco elevado de incêndio em grande parte da Amazônia durante o outono e inverno (no hemisfério norte). Isso se deveu em parte à baixa pluviosidade em partes da Amazônia, mas foi previsto ainda mais fortemente devido à alta temperatura do ar em toda a região.
Benjamin Zaitchik
Na Amazônia, os incêndios florestais atingem geralmente o pico em março. No entanto, segundo as previsões de Zaitchik, as altas temperaturas e o clima seco devem continuar até abril.
Previsões de incêndios
As previsões feitas pelos modelos já começaram a se materializar. Em comunicado feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em fevereiro foram registrados 2.940 incêndios na Amazônia. Esses modelos acabam desempenhando um papel de apoio para que governos e ações humanitárias combatam o fogo.
De acordo com o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais da Colômbia (IDEAM) as previsões para a região colombiana da Amazônia são bastante parecidas, indicando que o risco de incêndios deve aumentar nos próximos meses. Como medida de combate, bombeiros e aviões têm sido posicionados pelo governo nos locais onde há previsões de fogo.
Flores acredita que a ocorrência e a gravidade dos incêndios devem aumentar devido às mudanças climáticas. Assim, é preciso ações para evitar que o fogo adentre áreas da floresta que ainda estão de pé ou tudo pode virar um grande incêndio em um estado de vegetação aberta persistentemente inflamável.