Um incêndio de grandes proporções se espalha pelo Pantanal do Mato Grosso do Sul depois de um acidente de caminhão em Corumbá (MS) registrado há uma semana. O veículo pegou fogo depois de atolar em uma área de lama e vegetação seca.
Desde então, o fogo atinge diversas fazendas da região. As chamas têm se propagado pela vegetação e se alastraram por cerca de 80 mil hectares, uma área maior que o Distrito Federal, segundo o Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul. A causa do incêndio no caminhão está sob investigação.
Ao jornal Folha de S.Paulo, o coronel Adriano Noleto Rampazo, subcomandante geral do Corpo de Bombeiros, explicou que o incêndio rapidamente se expandiu por causa da seca. Os ventos fortes, que chegam a 60 km/h, têm dificultado o combate direto.
“Tivemos mais focos de calor antes do início da temporada”, disse Rampazo. “Mas, na medida do possível, estamos controlando.”
Entre as áreas afetadas estão um santuário de onças-pintadas e a Estância Caiman, na Reserva Natural Santa Sofia. O incêndio também atinge as fazendas Paraíso, Tupaceretã e Porto do Ciríaco.
Frente fria intensifica fogo no Pantanal
A ONG SOS Pantanal informou que o fogo voltou forte em algumas regiões depois de uma recente frente fria. “Desde o primeiro dia desse incidente com o caminhão, estamos operando em nove frentes”, disse Leonardo Gomes, diretor-executivo da ONG.
A temporada de seca ainda não atingiu seu pico, mas a situação pode piorar nos próximos meses. Historicamente, o auge das queimadas é em setembro, mas, em 2024, a temporada de fogo está adiantada.
Gustavo Figueiroa, biólogo da SOS Pantanal, afirmou à Folha que o acesso às áreas em chamas é um grande desafio por causa do terreno difícil.
“A percepção é que o fogo está espalhando muito rápido”, disse Figueiroa. “Mesmo com várias equipes em campo aqui, é difícil controlar todas as frentes.”
Governo realiza força-tarefa
A força-tarefa de combate aos incêndios inclui o PrevFogo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Exército. Além do Corpo de Bombeiros Militar (de Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná), brigadas voluntárias, ONGs e moradores locais também trabalham no combate às chamas. Maquinários abrem aceiros e aeronaves despejam água para tentar bloquear as chamas.
De janeiro até a quinta-feira 1º, o Pantanal registrou 4.997 focos de calor, um aumento de 1.593% em comparação ao ano passado, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). O índice é o maior desde 1998, quando a série histórica começou.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobrevoou as áreas atingidas na última quarta-feira, 31, e sancionou a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo.
A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, acompanhou a visita e destacou a importância de prevenir incêndios. “Faço um apelo: se não parar de colocar fogo, não tem quantidade de pessoas e equipamento que o vença”, disse Marina.
A ONG WWF-Brasil alertou que o Pantanal pode enfrentar uma das piores secas neste ano. “As queimadas no Pantanal não afetam apenas a biodiversidade e a população local, mas o país e o mundo perdem a maior área úmida do planeta,” disse Cyntia Santos, analista de conservação da ONG.