A boxeadora argelina Imane Khelif, campeã olímpica no boxe feminino nas Olimpíadas de Paris 2024, não participará da Eindhoven Box Cup, na Holanda, depois da introdução de uma nova política da World Boxing que exige testes genéticos de sexo biológico para todos os atletas.
A atleta de 26 anos não se inscreveu dentro do prazo, encerrado na última quinta-feira, 5, poucos dias depois do anúncio da exigência. A ausência ocorre em meio a um crescente debate sobre a elegibilidade de competidores intersexuais ou transgêneros em competições femininas.
De acordo com a Associated Press, Khelif havia planejado competir no torneio deste fim de semana e retomar sua carreira internacional. A organização do evento, por sua vez, lamentou a ausência.
“A decisão de exclusão de Imane não é nossa”, disse Dirk Renders, diretor de mídia da Eindhoven Box Cup. A World Boxing havia mencionado expressamente que Khelif deveria ser submetida a uma triagem para ser autorizada a lutar.
A decisão faz parte de uma nova diretriz da federação, implementada no dia 30 de maio, com o objetivo de “garantir a segurança de todos os participantes e proporcionar uma competição com igualdade de condições para homens e mulheres”, segundo nota da entidade.
Com base na nova política, todos os atletas maiores de 18 anos devem realizar um teste genético, por meio de amostra de saliva, sangue ou swab nasal, para determinar o sexo biológico — com base na presença ou ausência do cromossomo Y.
O caso reacende um debate iniciado depois de sua medalha de ouro nos Jogos de Paris. Informações vazadas revelaram que Khelif possui cromossomos XY e testículos internos, conforme laudo clínico elaborado por endocrinologistas do Hospital Kremlin-Bicêtre, em Paris, em conjunto com o Hospital Mohamed Lamine Debaghine, na Argélia.
Controvérsia no boxe expõe condição genética rara
O exame descreveu ainda ausência de útero e a presença de um “micropênis”. A condição foi identificada como deficiência de 5-alfa redutase, um distúrbio genético que afeta homens biológicos e pode levar à designação feminina no nascimento, com sinais de masculinização evidentes na puberdade.
O jornalista francês Djaffar Ait Aoudia teve acesso ao exame físico detalhado, realizado no final de outubro. Os médicos recomendaram à atleta cirurgia corretiva, terapia hormonal e apoio psicológico, pois os resultados podem causar impacto neuropsiquiátrico significativo.
Apesar disso, o Comitê Olímpico Internacional (COI) não exigiu exames cromossômicos para os Jogos de Paris. Desde 1999, a organização utiliza apenas a exigência de um marcador de sexo feminino em documentos oficiais.
A decisão permitiu que Khelif competisse normalmente, mesmo diante de alertas da Associação Internacional de Boxe (IBA), que já havia desclassificado a atleta em 2023 depois de ela falhar em múltiplos testes de elegibilidade.

Em 2023, um exame genético realizado por um laboratório certificado em Nova Délhi, na Índia, já havia mostrado a presença de cromossomos masculinos (XY). O laudo foi um dos elementos que embasaram sua exclusão do Campeonato Mundial de Boxe Feminino daquele ano. O COI, porém, rejeitou o laudo e o classificou como “não legítimo”.
A vitória de Khelif nos Jogos de Paris durou apenas 46 segundos contra a italiana Angela Carini. A boxeadora italiana declarou que temeu por sua integridade física durante o combate. A mexicana Brianda Tamara Cruz, que havia enfrentado Khelif em 2023, também relatou: “Nunca tinha me sentido assim em 13 anos de boxe, nem em treinos com homens”.
Khelif, por sua vez, reafirma sua identidade como mulher e declara que pretende disputar os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles. Até o momento, ela não apresentou qualquer documentação médica, genética ou legal que comprove sua elegibilidade sob os novos critérios.