terça-feira, julho 2, 2024
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Ilhabela vai ter primeira usina de dessalinização da Sabesp em SP

A partir de 2026, cerca de 8 mil moradores dos pontos mais remotos de Ilhabela, no litoral norte de São Paulo, poderão beber água do mar. A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) publicou um edital para convocar empresas interessadas em construir no município a primeira usina de dessalinização do Estado.

Ilhabela é uma das poucas cidades-arquipélago brasileiras, pois está assentada sobre um conjunto de 19 ilhas. Em muitos núcleos urbanos, a água tratada não chega. A cidade tem baixo índice de abastecimento. Segundo o Instituto Água e Saneamento, 69,6% da população é atendida com abastecimento de água, enquanto a média do Estado é de 96,6%.

De acordo com a Sabesp, responsável pelo serviço de água e esgoto de Ilhabela, a usina deverá captar água do mar, fazer a dessalinização e produzir 30 litros por segundo de água potável para a população. O volume representa acréscimo de 22% na oferta atual de água tratada no município.

De acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a previsão é de que o sistema comece a operar em 2026. O local previsto para a usina é próximo à foz do Ribeirão Água Branca, que sofre a invasão das marés e, nesse ponto, tem água salgada.

A usina deverá empregar a tecnologia de osmose reversa, pela qual a água é submetida à alta pressão e passa por membranas que retêm as partículas de sal. Antes, a água do mar passa por processo de ultrafiltração para retirar partículas e impurezas.

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Depois de retirado o sal, o líquido passa por tratamento que devolve os componentes minerais retirados no processo. Para ser distribuída, a água recebe cloração. A salmoura resultante do processo é diluída e devolvida para o mar.

Já a água dessalinizada será transportada para um reservatório na própria Água Branca, estação tratamento de agua da Sabesp em Ilhabela, de onde será distribuída para consumo da população.

Sabesp pretende aumentar a oferta de água na região

Segundo a companhia, o projeto vai melhorar a oferta de água, não só para os moradores, mas também para turistas. Ilhabela é uma das principais cidades turísticas do litoral paulista. A cidade tem pouco mais de 35 mil habitantes, mas chega a receber 100 mil turistas na alta temporada. O prazo para a apresentação das propostas dos interessados na obra vai até o dia 25 deste mês.

A Prefeitura de Ilhabela informou que o projeto é fruto de parceria entre o município e a Sabesp, em busca de “soluções inovadoras e sustentáveis”. Uma área foi adquirida pela cidade para receber o empreendimento.

Apesar de ter citado a parceria com a companhia para viabilizar a usina, a administração municipal comunicou que está empenhada em municipalizar o serviço de saneamento de Ilhabela.

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A Sabesp informou que a dessalinização por osmose reversa é um processo usado internacionalmente e a tecnologia é amplamente empregada em locais como Dubai, Israel e Califórnia. Em Israel, de 60% a 80% da água potável provêm do mar e as usinas de dessalinização operam desde 1997.

No Brasil, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) anunciou o projeto da maior usina de dessalinização da América Latina. A usina terá a capacidade para produzir mil litros de água por segundo, mas a iniciativa foi contestada por empresas de telecomunicações.

No mesmo local passam cabos de transmissão de internet que atendem todo o país, e as empresas alegam que a usina pode interferir na operação dos cabos. A localização da usina está sendo reavaliada pela Cagece, o que atrasou o projeto.

No arquipélago de Fernando de Noronha, um projeto iniciado há 20 anos já garante o abastecimento da população com água do mar. O conjunto inicial de dessalinizadores produz 27 m³ de água por hora, distribuída por caminhões-pipas, onde a rede de distribuição não chega. Em 2014, a iniciativa foi ampliada com a construção de uma nova usina, que aumentou a capacidade para 80 m³ por hora.

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Ilhabela deve receber água de boa qualidade com o projeto

Kepler Borges França, coordenador dos Laboratórios de Referência Nacional em Dessalinização e de Membranas Cerâmicas da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, disse que o projeto a ser instalado em Ilhabela é importante para servir água de boa qualidade à população.

“O sistema de membranas para dessalinização pode ser usado não apenas nas ilhas, mas nas cidades do litoral que têm problemas de abastecimento”, explicou França ao Estadão. “Entendo que toda a rede hoteleira da costa deveria ser abastecida com água do mar dessalinizada. É um processo barato, e que hoje vem sendo usado com mais frequência.”

França lembra que, dentro do sistema de reaproveitamento de água, é importante usar um processo semelhante ao da dessalinização para usar as águas de rios poluídos. No Nordeste, ele desenvolveu o programa Água Doce, que atende comunidades onde os poços são de água salobra — salgada, mas com salinidade inferior à do mar.

“No contexto Ilhabela, é preciso fazer um estudo do potencial hídrico que é oferecido em períodos sazonais, como a época de chuvas, para somar com a ideia da dessalinização”, afirmou França. “Para toda população, é preciso ter 180 m³ de água por hora, o que implica em aproveitar também água de chuva. Nossos laboratórios estão à disposição para colaborar com esse projeto.”

Via Revista Oeste

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