Humberto Piva Campana, 71 anos, é natural de Brotas, interior de São Paulo. Antes de se tornar um designer famoso no mundo inteiro, com criações icônicas, como a poltrona com ursos de pelúcia ou a Cadeira Vermelha, e ganhar diversos prêmios internacionais, ele era irmão de Fernando, que morreu em novembro de 2022, e com quem construiu sua carreira — e o sonho do Parque Campana.
Após rodarem o mundo e o Brasil, ele e o irmão criaram a ideia do parque — que tem 12 pavilhões, com oito construídos até o momento — durante a pandemia. Além de oferecer ao público o contato com a natureza e com os animais, é ali, em Brotas, onde Humberto retoma as memórias da infância.
“Voltar para a minha cidade foi como fazer as pazes com a minha infância”, contou Humberto Campana ao CNN Viagem & Gastronomia.
O parque fica entre o Cerrado e a Mata Atlântica, onde Fernando construiu uma casa para ele mesmo, e também onde Humberto acompanhava o irmão.
A ideia do projeto, segundo ele, era preservar o pedaço herdado de terra, além de aumentar a conscientização ambiental dos moradores de Brotas.
A primeira semente que os irmãos plantaram para o início do Parque Campana foi uma torre de observação das estrelas. “A gente ia todo final do dia para ver os pássaros chegando”, relembra. A construção tem três andares e 12 metros de altura, o que reforça o contato com a natureza.
“Ali, você tinha diferentes níveis de observação da mata, da luz, dos pássaros, das estrelas, e era um lugar sagrado“, conta.
Com a morte de Fernando, Humberto transformou a torre de observação em um altar para o irmão.
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Com a morte de Fernando, Humberto transformou a torre de observação das estrelas em um altar para o irmão • Tuca Reines
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A construção tem três andares e 12 metros de altura, o que reforça o contato com a natureza • Tuca Reines
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O altar conta com entidades de várias religiões • Tuca Reines
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Placa na qual Humberto Campana dedica o altar para seu irmão, Fernando • Tuca Reines
“Fiz um caminho de pedras, sendo que a torre é meio distante da área onde ficam os pavilhões do parque. Criei um altar com Santos da Igreja Católica, do Candomblé. Acredito em energias boas. É um santuário para ele, uma homenagem minha para ele.”
Como são os pavilhões?
Com inspiração na origem familiar na Toscana, na Itália, oito dos doze pavilhões já foram construídos. Por ali, Humberto criou um local de contemplação do silêncio, além de um convite para o público sentir “o odor, o perfume das plantas e o cheiro do solo”.
Um dos pavilhões, segundo Humberto, tem areia, onde os visitantes podem andar descalços. Outro, por sua vez, tem um pequeno lago para refrescar os pés. “É um convite para a cura de você”, diz.
Com monitores preparados para guiar o público, os arredores do espaço são a casa de muitas espécies de animais. “Volta e meia eu vejo macaco, siriema, tucano”, continua.
O investimento para o projeto, que terá restaurante, oficina, visitas guiadas e até um museu com o acervo das criações dos Irmãos Campana, saiu do bolso de Humberto. Atualmente, ele procura investidores para terminar o parque.
Por que um parque em Brotas?
A construção do espaço em Brotas é como se fosse uma volta às raízes, ao antepassado e a uma busca pela cura da alma. Afinal, a infância do designer foi marcada por um sentimento de rejeição dentro da sua comunidade.
“Quando você nasce artista, você é muito confundido com um ser frágil. Eu não gostava de futebol, mas eu gostava de outras coisas: gostava de plantar, de trabalhos manuais e aquilo era visto como esquisito.”
Hoje, ele se sente grato a Brotas porque, caso contrário, não teria se tornado quem é — e parte disso se deve à parceria com o irmão. Apesar de começarem o plano do Parque Campana juntos, Humberto teve que continuar a obra sozinho após a morte súbita de Fernando.
Por incrível que pareça, ele diz, teve mais força para seguir depois da perda, que completou dois anos em novembro do ano passado. “Acho que tive mais garra para não sucumbir com a perda dele”, comenta Humberto.
Os dias de visitação no Parque Campana acontecem na última sexta e sábado de cada mês. Os ingressos custam até R$ 50 e é necessário reservar com antecedência. Em janeiro, os passeios ocorrem no fim de semana dos dias 10 e 11 e dos dias 24 e 25. Em fevereiro, 7 e 8; e 21 e 22.
Parque Campana: Estrada Municipal Edson Valente, s/n – Zona Rural, Brotas–SP, 17380-000 / Horário de visita: última sexta e sábado de cada mês; sextas, das 10h às 12h e das 15h às 17h; sábados, das 10h às 12h e das 15h às 17h.