No início do ano, o Olhar Digital noticiou que a NASA pretende reduzir gradualmente o financiamento de duas importantes missões: o Observatório de Raio-X Chandra e o Telescópio Espacial Hubble. Mas, ao que parece, isso pode mudar.
A decisão de cortes está ligada à estagnação da verba destinada pelo governo norte-americano ao setor espacial, que para 2025 será mantida em US$25,38 bilhões – mesmo valor dos últimos anos. Embora expressivo, esse montante representa apenas 0,4% do orçamento dos EUA. Em comparação, para cada US$100 gastos pelo governo, apenas 34 centavos são alocados à NASA, enquanto a defesa recebe mais de US$12.
O número de missões espaciais continua crescendo, e com ele, a demanda por investimento. Assim, a agência enfrenta a necessidade de priorizar projetos, o que acaba provocando cortes em algumas de suas missões mais icônicas.
Em relação ao Chandra, a proposta inicial reduz o orçamento de US$41,1 milhões em 2025 para US$26,6 milhões em 2026. No caso do Hubble, uma redução de 5% está prevista para o próximo ano, com novos cortes ao longo dos anos seguintes.
NASA deve aguardar formalização do orçamento de 2025
De acordo com o site Space.com, até agora, nenhuma decisão final foi tomada, e especula-se que a NASA esteja adiando a confirmação oficial do orçamento para 2025. Enquanto isso, tanto o Hubble quanto o Chandra, parte do programa Grandes Observatórios, continuam em plena operação científica, embora tenham sido lançados em 1990 e 1999, respectivamente.
Diante desse cenário, a NASA convocou a Revisão da Mudança de Paradigma das Operações (OPCR), um painel independente de astrônomos que avaliou o impacto dessas reduções. A conclusão foi desanimadora: com o orçamento proposto, o Chandra não conseguiria manter suas operações, encerrando sua missão.
Apesar de outros telescópios de raio-X, como o NuSTAR e o NICER, estarem disponíveis, eles não possuem a mesma resolução e sensibilidade do Chandra. Além disso, não há planos imediatos para uma missão substituta. Há expectativa para uma nova classe de missão de alguns bilhões de dólares para telescópios de raio-X, mas essa iniciativa ainda está em fase embrionária.
Em uma carta aberta, David Pooley, pesquisador da Trinity University, no Texas, e presidente do Comitê de Usuários do Chandra, criticou duramente a decisão de corte de recursos. “O Chandra está desempenhando excepcionalmente bem e continua a produzir ciência de ponta. Ele oferece capacidades únicas que não serão substituídas por outro telescópio americano nas próximas décadas”, afirmou o astrônomo, destacando a importância do observatório para a pesquisa astrofísica.
O futuro dessas missões segue incerto, em parte devido ao cenário eleitoral nos EUA, que trouxe maior cautela nas decisões orçamentárias governamentais. Sem uma definição, a NASA opta por esperar até que seu orçamento seja consolidado.
Redução de investimento pode afetar capacidade científica do Hubble
A operação do Hubble, embora não sob risco imediato, também pode ser fortemente impactada. A proposta de redução de investimento apresentada afetaria sua capacidade científica. Entre as opções para implementar esse corte, o OPCR sugere diminuir o financiamento para astrônomos, limitar até cinco dos nove modos de observação – incluindo as capacidades ultravioleta e infravermelho – ou cortar custos operacionais, o que resultaria em demissões.
Embora o Telescópio Espacial James Webb (JWST) cubra a faixa infravermelha, o Hubble ainda é essencial para a observação ultravioleta, uma vez que a NASA não possui outra missão dedicada ao UV atualmente, com o UltraViolet Explorer (UVEX) previsto apenas para 2030.
Cortes nos modos de observação ou no quadro de funcionários poderiam prejudicar a capacidade do Hubble de responder a eventuais problemas, diminuindo ainda mais o tempo dedicado a pesquisas científicas. No caso do Chandra, caso a operação seja restrita a observar eventos transientes e colaborar com outros observatórios, a economia seria de aproximadamente US$20 milhões, mas o tempo de observação seria reduzido pela metade, comprometendo seu impacto.
A possibilidade de novos recursos para a NASA é incerta, mas ajustes internos no orçamento de outras áreas da agência seriam outra solução – embora improvável, devido aos possíveis conflitos que essa escolha geraria entre as missões.
Em 2025, o Chandra e o Hubble enfrentam uma trajetória obscura, com seu destino ainda indefinido. Pooley ressalta a importância desses observatórios, chamando-os de “tesouros nacionais”, e alertando sobre o risco de perder essas valiosas ferramentas científicas em meio à contenção de gastos.