sexta-feira, maio 30, 2025
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Haddad tem falas erradas ou imprecisas ao falar de economia

Em menos de uma semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez pelo menos quatro declarações erradas ou imprecisas ao comparar os números da economia no governo Lula aos da gestão anterior, de Jair Bolsonaro

As falas aconteceram entre 22 e 26 de maio, de acordo com a apuração do portal Poder360. O ministro também já havia feito outra declaração equivocada em abril.

Durante evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI), na última quinta-feira, 26, Haddad afirmou que “hoje, a carga tributária federal, a receita primária federal é menor do que dez anos atrás”. No entanto, a fala está errada.

Fernando Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad | Foto: Divulgação/MF

A começar, o ministro se referiu a dois indicadores diferentes: a carga tributária, referente à soma de todos os tributos arrecadados pelo governo em relação ao PIB, e a receita do governo federal, que mostra quanto o governo federal arrecada em relação ao PIB.

Segundo o Tesouro Nacional, a carga tributária foi de 32,3% do PIB em 2024. A União responde por 21,4 pontos porcentuais desse total — o maior patamar em pelo menos 15 anos. No governo Bolsonaro, o porcentual era de 20,6%. 

Já a receita tributária líquida do governo central, excluídos os repasses a Estados e municípios, foi de 16,8% do PIB em 2024.  Em 2014 e 2022, era 16,2%.

Fonte: Reprodução/Poder360

Haddad erra ao comentar déficit e superávit 

O evento da CNI aconteceu na semana seguinte ao anúncio do aumento das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que deve subir a carga tributária sobre crédito, câmbio, previdência privada e compras no exterior. Em outro dia do fórum, na última segunda-feira, 26, Haddad falou que o governo Lula herdou um déficit estrutural de 2% do PIB. 

O resultado primário estrutural é uma forma de medir o desempenho das contas públicas sem influências não recorrentes — isto é, transitórias. A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda alterou a metodologia de cálculo em janeiro.

A mudança revisa o dado de 2022 de um superávit de 0,71% do PIB para um déficit de 0,6%. No entanto, a Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado estima que o governo Bolsonaro teve um superávit primário estrutural de 0,3% do PIB em 2022.

Fonte: Reprodução/Poder360

No mesmo dia, Haddad também disse que os investimentos em infraestrutura estavam praticamente zerados em 2022, em referência especialmente aos gastos públicos no setor. “Nós retomamos os investimentos que minguaram e chegaram a quase zero até 2022”, afirmou. “Nós não tínhamos mais obras no país de infraestrutura.”

Entretanto, dados da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib) mostram que, embora os aportes públicos tenham caído entre 2019 e 2022, houve compensação com investimento privado. 

Em 2018, último ano do governo de Michel Temer, os investimentos totais foram de R$ 170 bilhões, dos quais R$ 50 bilhões públicos e R$ 120 bilhões privados. Em 2022, último ano de Bolsonaro, foram R$ 188 bilhões, sendo R$ 35 bilhões públicos e R$ 153 bilhões privados. Em 2023, já sob Lula, o total foi de R$ 225 bilhões, dos quais R$ 52 bilhões públicos. Para 2024, a projeção é de R$ 62 bilhões em recursos públicos.

Fonte: Reprodução/Poder360

Haddad também foi impreciso ao dizer, na última quinta-feira, 22, em entrevista a jornalistas, que o Brasil viveu “dez anos de déficit crônico, na casa de 2% do PIB”. O déficit primário acumulado no governo Bolsonaro foi de 2,43% do PIB entre 2019 e 2022, mas esse número inclui as despesas com o enfrentamento da pandemia. 

O ministro da Fazenda também não mencionou que o resultado primário acumulado foi positivo em cerca de R$ 54 bilhões em 2022. Somados os dois últimos anos de Bolsonaro, 2021 e 2022 — posteriores ao pico da pandemia —, o resultado foi superavitário em R$ 10 bilhões.

Ele já questionou anteriormente a condução das contas públicas no governo Bolsonaro, com o argumento de que o superávit foi obtido por meio de um “calote” nos precatórios e subestimação de despesas com a Previdência. Haddad também afirmou ter herdado obrigações com repasses aos Estados devido à queda na arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Fonte: Reprodução/Poder360

Comentário sobre dívida pública foi impreciso

Em 8 de abril, Haddad falou que o aumento da dívida pública não era responsabilidade do atual governo. “É consequência de decisões tomadas no passado, não foram tomadas por nós.” No entanto, o estoque do endividamento do governo central cresceu R$ 1,87 trilhão desde o início do governo Lula, quase os R$ 1,95 trilhão dos quatro anos de Bolsonaro.

Veja o total da dívida pública por governo:

  • Dilma (2011 — maio de 2016): R$ 2,1 trilhões;
  • Temer (maio de 2016 — 2018): R$ 1,2 trilhão;
  • Bolsonaro (2019 — 2022): R$ 1,96 trilhão;
  • Lula 3 (2023 — atual): R$ 1,87 trilhão.

Mesmo com o aumento nominal da dívida sob Bolsonaro, ela caiu de 75,27% para 71,68% em relação ao PIB. Em março de 2025, data dos números mais recentes, o estoque da dívida chegou a R$ 9,10 trilhões, equivalente a 75,91% do PIB.

Fonte: Reprodução/Poder360

Nos dois primeiros anos do governo Lula, o déficit primário foi de R$ 309,9 bilhões, saldo negativo produzido durante a gestão atual e com influência na dívida pública do Brasil. O déficit nominal, que inclui os juros da dívida, totalizou R$ 1,78 trilhão no mesmo período. 

Haddad aponta a alta da taxa Selic, que chegou a 14,75% ao ano em maio, como fator responsável por parte dos gastos com o endividamento. Nos últimos dois anos e meio, o Banco Central manteve os juros altos porque a inflação estava fora da meta.

Desde janeiro de 2025, sob a presidência de Gabriel Galípolo  — indicado por Lula — no Banco Central, o Copom subiu os juros três vezes, de 12,25% para 14,75% ao ano. A próxima reunião está marcada para 17 e 18 de junho.

Via Revista Oeste

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