(J. R. Guzzo, publicado no jornal O Estado de S. Paulo em 21 de maio de 2025)
De onde menos se espera é justamente de onde não sai nada mesmo. O governo Lula, ou Lula-Janja, parece se esforçar a cada dia para manter viva a grande máxima do Barão de Itararé. Salvo os viciados clínicos em Lula, ninguém esperava que saísse nada de bom, ou de útil, da comédia calamitosa em que os dois se meteram na sua última excursão turística à China — como presidente, Lula já foi para lá cinco vezes. Mas também não era preciso, realmente, que saísse tanta coisa ruim.
O embuste-raiz da “viagem à China” continua dando prejuízo; o último boleto entregue ao público apresenta um prodigioso desmentido, feito pelo próprio ministro nominal do Exterior, à cretinice fora-se-série dita por Lula ao presidente chinês. Não, veio dizer o ministro uma semana depois do incidente, Lula não pediu que Xi Jinping mandasse uma “pessoa de sua confiança” ao Brasil para ajudar o governo a censurar as redes sociais. (O codinome que usam para isso é “regulamentação”.)
Quer dizer que o presidente da República diz uma coisa, confirma que disse, e o seu ministro nominal diz que não disse? Afinal: disse ou não disse? As duas coisas não podem estar certas ao mesmo tempo. Se o governo não consegue decidir se é uma ou é a outra, nem isso, o que o cidadão comum, que trabalha para pagar o passadio de todos eles, pode esperar? Fica todo mundo na dúvida, e cada vez mais: “E aí? Tem alguém em casa?”
Todos os gatos gordos do regime, do STF aos sindicatos que roubam dos aposentados mais pobres, têm hoje uma obsessão: dizer que “isso aqui não é a casa da Maria Joana”. Mas, no mundo dos fatos, nem a própria Maria Joana iria aceitar uma barafunda dessas na sua casa. Lula fez uma barbaridade: pediu, em público, que um governo estrangeiro mandasse um dos seus funcionários ao Brasil para se meter na solução de problemas brasileiros. É entreguismo direto na veia — além de baderna explícita.
“A única coisa certa é que querem censurar as redes — com Xi, sem Xi, mas assim ‘não é possível’ ficar”
O burocrata que responde pelo expediente no Itamaraty, após horas e horas com o cadáver à vista de todos na calçada, percebe enfim que alguma coisa não está certa — e manda dizer que não há cadáver em cima da calçada ou que aquilo que todo mundo está vendo não é um cadáver. O presidente, por sua vez, enrola uns resmungos sobre a história sem explicar se a sua palavra vale ou não vale. A única coisa certa é que querem censurar as redes — com Xi, sem Xi, mas assim “não é possível” ficar.
No balanço final, até o momento, parece que só Janja continua fiel à própria calamidade original: disse ao presidente da China que o TikTok é de “direita”, e por ser de direita e ser chinês tem de ser censurado, no Brasil, pelos chineses. Ouviu de Xi Jinping que ele não tem nada a ver com isso, mas pelo menos engoliu o pito com casca e tudo e não desdisse o que havia dito.
Governo Lula tem Janja sem “se calar”

Ao contrário: fez questão de voltar ao local do crime, ou ao assunto, para dizer que não vai “se calar” por causa de “protocolo nenhum”. Janja, ao que parece, não tem um entendimento claro do significado da palavra “protocolo”. Acha que é alguma coisa ruim, meio de “direita”, provavelmente “machista”, e que está aí para ser enfrentada e vencida pelas “mulheres”. Protocolo, porém, é apenas um conjunto de regras — vale, de maneira neutra, para todo mundo, e não tem nada de feio.
Mas quem é, em volta de Lula, que tem peito para fazer alguma objeção à Janja? Todo mundo, ali, sabe que ela é um desastre serial; só que o grau de frouxidão dessa gente quebrou todos os paradigmas conhecidos até hoje. Um ministro pode até desmentir Lula. Mas não enfrenta Janja nem por ordem do papa.