quarta-feira, dezembro 4, 2024
InícioEconomiaGoverno Lula não entregou solidez fiscal e afastou investidores, afirma Marcos Lisboa

Governo Lula não entregou solidez fiscal e afastou investidores, afirma Marcos Lisboa

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica no governo Lula 1 e atual presidente do Insper, criticou o pacote de ajuste fiscal anunciado na semana passada pela gestão petista. A conversa foi divulgada neste domingo, 1º.

Para Lisboa, o novo conjunto de medidas do governo Lula falha em oferecer a solidez fiscal necessária para atrair e manter investidores no Brasil. “Essa foi a aposta pesada dos investidores no começo do governo”, afirmou o economista, referindo-se à expectativa que Lula garantisse estabilidade fiscal a longo prazo, o que não se concretizou. “Os números estão aí. Só que deu errado.”

De acordo com o economista, a reação negativa do mercado, refletida na alta do dólar, não é um reflexo de especulação. Trata-se, sim, de um autoboicote causado por um pacote fiscal tímido e mal estruturado.

Os erros do governo Lula

Lisboa diz que o pacote anunciado, em vez de corrigir as distorções estruturais do sistema tributário e resolver o problema da Previdência Social, trouxe medidas genéricas e sem impacto real no controle das despesas. “Em vez de enfrentar os problemas de forma clara, o governo tenta criar uma narrativa maniqueísta, como se estivesse lutando contra o mal”, afirmou.

Segundo o economista, a isenção de Imposto de Renda para rendas até R$ 5 mil, combinada à criação de um imposto para tributar os super-ricos, apenas aumentou a incerteza e não endereçou as questões fiscais fundamentais.

Lisboa também questiona a viabilidade do novo imposto mínimo sobre os milionários, ao alegar que a medida, embora pareça acertada em termos de intenção, acaba por preservar distorções tributárias ao invés de corrigi-las. “O governo propôs uma solução simples para problemas complexos, sem enfrentar as distorções com a profundidade necessária”, criticou o economista, referindo-se aos regimes tributários especiais, como o Simples Nacional, que permitem que empresas e pessoas de alta renda paguem menos impostos.

Por que os investidores estão fugindo

O economista é cético em relação à eficácia das medidas para reduzir o rombo fiscal do país, estimado em R$ 350 bilhões. Ele alerta que, sem ajustes adequados nas despesas, como as associadas ao crescimento do número de beneficiários da Previdência, o governo pode enfrentar sérias dificuldades no futuro — incluindo a paralisia da máquina pública.

Lisboa enfatiza que o governo perdeu uma grande oportunidade de realizar ajustes significativos enquanto a economia estava em um momento relativamente favorável. “Em vez de aproveitar o bom momento da economia para fazer reformas profundas, o governo expandiu gastos e agora tenta fazer ajustes em um cenário mais difícil”, observou. Ele acredita que, ao não realizar uma reforma fiscal robusta, o governo desperdiçou uma chance crucial de estabilizar as finanças públicas a longo prazo.

Na visão do economista, o grande problema do Brasil é a falta de uma visão clara e de longo prazo sobre as contas públicas. Apesar dos bons números da economia no curto prazo, como o baixo índice de desemprego e o consumo elevado, Lisboa diz que o país está caminhando para um futuro incerto. A instabilidade fiscal e a falta de medidas efetivas para corrigir os problemas estruturais da economia estão fazendo com que investidores, que apostaram na solidez fiscal prometida, agora optem por desinvestir no Brasil.

Cautela sobre a economia brasileira

“Os investidores perderam muito dinheiro”, afirmou. “Eles acreditaram que o governo entregaria o que prometeu, mas a realidade tem sido bem diferente.” O economista destacou que a falta de uma política fiscal clara e consistente tem gerado incerteza, o que levou a uma fuga de investidores e à alta do dólar.

Em relação ao futuro da economia brasileira, Lisboa é cauteloso. Ele acredita que ainda há uma oportunidade de corrigir os equívocos do pacote fiscal, mas ressalta que isso depende da disposição do governo em enfrentar os problemas de forma estruturada. “O governo precisa ter um diagnóstico claro e transparente dos problemas”, observou. “Caso contrário, os investimentos continuarão a minguar, e a economia brasileira ficará cada vez mais vulnerável.”

Via Revista Oeste

MAIS DO AUTOR

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui