quarta-feira, outubro 2, 2024
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‘Governo Lula ignorou produtores de arroz’, afirma Alexandre Velho

O presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Alexandre Velho, disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva “ignorou” a opinião dos produtores do Estado. Ele deu a declaração durante entrevista a Oeste, nesta quarta-feira, 12.

Os produtores gaúchos são contra o leilão de arroz realizado pelo governo federal na última semana. Com a medida, o preço do cereal vai ser vendido abaixo do custo de produção. Nesta terça-feira, 11, depois de denúncias de que as empresas vencedoras não eram do ramo e não tinham capacidade de realizar a importação, a gestão petista decidiu anular o leilão.

Durante entrevista, Alexandre Velho confirmou que não deve faltar arroz no Brasil. Como noticiou Oeste, mesmo com a tragédia que atingiu o Rio Grande do Sul, os agricultores gaúchos devem abastecer cerca de 70% de todo o consumo nacional do grão em 2024.

A Federarroz representa 16 associações de arrozeiros regionais, que reúnem cerca de 6 mil produtores de 205 municípios do Rio Grande do Sul.

Imagem meramente ilustrativa de uma colher de pau com arroz; grão que é tema de artigo sobre intervencionismo estatal
Arroz faz intervencionismo entrar na pauta do agro e da política do país, diz presidente da Federarroz | Foto: Sebastião José de Araújo/Embrapa Arroz e Feijão

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista com Alexandre Velho.

Vai faltar arroz no Brasil em 2024?

Não temos a mínima possibilidade de falta do produto em função de dois motivos principais. Primeiramente, a área brasileira aumentou neste ano, e a própria Companhia Nacional de Abastecimento está colocando que temos 500 mil toneladas a mais de produção no Brasil do que no ano passado. O segundo motivo é que vamos diminuir a exportação em função dos valores do mercado interno. Vamos diminuir a exportação em pelo menos 300 mil toneladas. Então, quando tenho uma diminuição da exportação e um aumento da produção somados, estou falando em pelo menos 800 mil toneladas a mais este ano. E o problema que aconteceu foi somente em 15% da área.

Na visão dos produtores, há a necessidade do leilão? 

Além de não haver necessidade, esse leilão é um grande risco, pois sinaliza um preço de venda do produto que é impossível de se produzir arroz pelo valor de referência. Quando olho o preço que o governo está estipulando em vender, que é de R$ 4 por 1 kg ao consumidor final, isso sinaliza um preço ao produtor em torno de R$ 75 por 50 kg de arroz com casca. O que é, pelo menos, R$ 20 abaixo do custo de produção. Além de desnecessário, o leilão é uma grande ameaça não só ao setor produtivo, como as cooperativas, mas também à área industrial.

Antes de realizar o leilão, o governo federal entrou em contato com a Federarroz? 

Tivemos algumas reuniões com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, porém, tudo que foi falado, pelo visto, foi ignorado. E a decisão, pelo visto, também já estava tomada antes de qualquer contato com o setor produtivo arrozeiro.

Como o senhor vê essa insistência do governo em fazer o leilão, mesmo depois de conversar com o setor?

Fica difícil de entender esta falta de sensibilidade, pois precisamos usar recursos para recuperar áreas de arroz e auxiliar os produtores pequenos, produtores da região central do Rio Grande do Sul, que precisam de auxílio, de linhas de crédito. Também precisamos ajudar os produtores que perderam mais que a produção, mas também máquinas agrícolas. Temos que auxiliar esse pessoal.

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Qual é o auxílio que o poder público tem dado aos produtores de arroz? 

Até o momento, o único auxílio foi uma prorrogação para municípios que estão em estado de calamidade ou de emergência. Uma prorrogação de 90 dias dos financiamentos. Mas, nesse meio tempo, precisamos achar uma solução definitiva, de longo prazo, com taxas de juros baixas, para que esses produtores possam honrar os seus compromissos.

O governo federal pretende destinar cerca de R$ 1 bilhão para o leilão do arroz. Esse valor seria útil para os produtores restabelecerem a produção no Rio Grande do Sul?

Cerca de 20% desse valor seria suficiente para atender os produtores do Rio Grande do Sul. Por isso que não entendemos, primeiro, importar sem necessidade. Segundo, não usar um recurso bem menor do que esse, que é a população que vai pagar. Não é o governo, na verdade, que vai tirar do bolso, pois serão recursos dos impostos, que são pagos por todos.

Qual é a expectativa dos produtores do Estado para a próxima safra? E como está a situação atual deles?

Para as próximas safras, esperamos haver linhas de crédito para recuperar e manter na atividade esses produtores. A área deve se manter. Se tivermos leilões, o preço vai cair muito abaixo do custo de produção. Assim, a área voltará a cair. Consequentemente, teremos uma dependência cada vez maior do mercado externo.


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Via Revista Oeste

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