Nas últimas semanas, a Petrobras passou por uma significativa reestruturação em seu segundo escalão. O movimento tem gerado preocupações entre investidores privados devido ao aumento da influência do governo e dos sindicatos na gestão.
Segundo apuração do jornal Folha de S.Paulo, a estatal alega que a renovação é uma consequência natural depois da chegada de Magda Chambriard à presidência da companhia e de três novos diretores. De acordo com a empresa, todos os indicados foram aprovados pelos controles internos de governança.
Foram substituídas 17 gerências-executivas, posições logo abaixo da diretoria e o último nível técnico na hierarquia da Petrobras. Quatro desses cargos foram ocupados por pessoas de fora da estatal, sendo três ligadas à Federação Única dos Petroleiros (FUP) e uma ao Partido dos Trabalhadores (PT).
As demais posições foram preenchidas por profissionais da própria estatal.
Eduardo Costa Pinto assumiu a gerência-executiva na área de Exploração e Produção, enquanto William Nozaki e Rodrigo Leão ocuparam cargos na diretoria de Transição Energética e Sustentabilidade.
Ambos são do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), criado pela FUP para promover pesquisas no setor.
Costa Pinto e Leão estão na Petrobras desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O primeiro foi assessor da presidência, enquanto o segundo presidiu uma subsidiária.
Nozaki, por sua vez, foi assessor do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante.
Wellington Cesar Silva, ligado ao PT, foi nomeado gerente-executivo. Ele era assessor jurídico da Casa Civil e recentemente assumiu como advogado-geral da Petrobras.
Além disso, Magda trouxe para sua assessoria Giles Azevedo, ex-chefe de gabinete da ex-presidente Dilma Rousseff, que vai atuar no relacionamento da empresa com o poder público.
O Palácio do Planalto já havia indicado Fernando Melgarejo para o cargo de diretor financeiro da companhia. Melgarejo estava na Previ, fundo de previdência dos funcionários do Banco do Brasil.
A indicação de candidatos externos é vista com reservas, mesmo por aliados dos sindicatos, por desvalorizarem quadros internos experientes.
Petrobras diz que trocas fazem parte do processo
Em nota enviada à Folha, a Petrobras afirma que “a formação de equipes, com eventuais trocas de gestores, faz parte da dinâmica do processo de gestão de pessoas”.
Investidores minoritários questionaram o descumprimento de requisitos para candidatos a vagas na estatal. O caso mais notável é o de Melgarejo, cuja indicação esbarrou na falta de proficiência em inglês, exigida para o cargo.
No entanto, o Comitê de Pessoas, responsável por avaliar as indicações, aprovou o nome de Melgarejo e recomendou que o executivo estude o idioma.
Os indicados da FUP, com carreira acadêmica, também estariam em desacordo com a política de indicações da estatal, que exige um mínimo de 36 meses em “posição de chefia superior” para candidatos externos a gerências-executivas.
A Petrobras afirmou que “os indicados passaram por uma série de análises de cumprimento dos requisitos de integridade e de capacidade de gestão, como conhecimento na área de atuação pretendida, experiência em liderança e desempenho em funções anteriores”.
Acrescentou ainda que, embora não seja exigido por lei, as atas do comitê que avalia essas indicações estão sendo disponibilizadas em seu site. Até esta segunda-feira, 19, porém, não havia atas sobre nomeações a gerências-executivas.
O coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar, negou que tenha feito indicações para cargos.
“São pessoas que a gestão reconheceu que têm competências suficientes para estarem nessas três gerências-executivas”, afirmou Bacelar à Folha. “E que podem contribuir com a Petrobras que a gente espera que ajude no desenvolvimento econômico e social do país.”