domingo, novembro 24, 2024
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Golfe ainda luta para se afirmar como esporte olímpico

Enquanto outros esportes fazem de tudo para permanecer ou ingressar nas Olimpíadas, o golfe parece seguir na direção oposta. Em sua terceira participação olímpica desde seu retorno ao maior evento esportivo do mundo, após 112 anos de ausência, ainda é difícil reunir todos os melhores jogadores possíveis.

No Rio 2016, o problema foi o vírus Zika. Em Tóquio 2020, a epidemia de Covid-19 atrapalhou a competição, que acabou sendo disputada em 2021. Agora, há menos de um mês da Olimpíada de Paris, são os dirigentes que causam obstáculos.

Na verdade, o desentendimento entre os dirigentes foi o principal motivo para o golfe ter deixado de competir nos Jogos de 1908, em Londres, após duas edições bem-sucedidas.

Na estreia, em 1900, em Paris, na 2ª Olimpíada da Era Moderna, o golfe chamou a atenção por ser um dos primeiros esportes a ter também uma competição feminina.

Em 1904, em Saint Louis, nos Estados Unidos, foi elogiado por agregar uma competição por equipes. No entanto, os problemas surgiram nas edições seguintes, previstos para Roma, em 1908.

O Vesúvio, vulcão localizado na cidade de Nápoles, desempenhou um papel nessa história. Uma forte erupção, em 1906, causou grandes transtornos em toda a região central da Itália, atrasando os preparativos para os Jogos. Roma desistiu de sua candidatura, e Londres assumiu a organização. Mas os novos organizadores, “inventores do golfe”, discordaram sobre o formato da competição: os britânicos preferiam o “Match Play” (jogos em chaves eliminatórias, como no tênis), enquanto os americanos queriam o “Stroke Play” (soma de tacadas). Como não chegaram a um acordo, a competição foi cancelada.

Antes de retornar como esporte olímpico no Rio de Janeiro, em 2016, o golfe desperdiçou duas grandes oportunidades de voltas aos Jogos Olímpicos.

Nos final dos anos 60, o World Amateur Golf Council entidade que representou o esporte mundialmente antes da criação da Federação Internacional de Golfe (IGF), recusou, por apenas um voto, o convite para voltar à competição.

Outra oportunidade de ouro para o golfe voltar ao circuito olímpico aconteceu antes dos Jogos de Atlanta, em 1996. Foi oferecido ao Comitê Organizador, a indicação de um novo esporte para ser incluso na competição.

Billy Payne, golfista apaixonado e presidente da entidade, não hesitou em apontar o golfe, que seria jogado no Augusta National, sede do Masters e o mais importante campo de golfe do mundo.

Mas o Atlanta City Council, pressionado por entidades antirracistas e feministas, barrou a entrada do golfe nos Jogos de 1996 alegando que o Augusta National tinha apenas um negro em seus quadros e nenhuma mulher, o que contrariava todo o discurso olímpico.

Dez anos depois, Payne se tornou presidente do Augusta National, de 2006 a 2017, período em que modernizou e entidade, sendo o principal responsável por seu clube admitir as primeiras mulheres como sócias, entre elas Condoleezza Rice, a primeira Secretária de Estado afro-americana e a primeira mulher a servir como conselheira de segurança nacional dos Estados Unidos.

Quando o golfe foi finalmente readmitido nas Olimpíadas, no Rio de Janeiro, a epidemia de Zica vírus, iniciada um ano antes, foi a principal alegação para muitos dos melhores do mundo desistirem de vir para o Brasil.

Alguns simplesmente não se entusiasmaram em competir por medalhas, o que significava abrir mão dos milhões de dólares de outras competições do calendário regular do golfe.

No masculino, dos 60 golfistas classificados para o Rio-2016, 21 desistiram, incluindo os top-4 do ranking mundial da época: Jason Day, Dustin Johnson, Jordan Spieth e Rory McIlroy.

Houve ainda complicações por causa do calendário, uma vez que os Jogos do Rio ficaram muito próximos do PGA Championship, um dos quatro torneios do Grand Slam do golfe.

O golfe precisava responder à altura em 2020, já que havia sido admitido apenas para duas edições dos Jogos Olímpicos, e necessitaria de nova aprovação para continuar. Mas veio a epidemia de Covid-19 e os Jogos de Tóquio foram adiados para 2021. Tão logo saiu a lista oficial dos 60 classificados, começaram as desistências de muitos dos melhores do mundo.

Os ingleses Tyrrell Hatton, Matthew Fitzpatrick e Lee Westwood, passaram a vaga para Tommy Fleetwood, o terceiro reserva.

Com os espanhóis aconteceu o mesmo. Sergio Garcia e Rafa Cabrera-Bello desistiram. O mesmo com o sul-africano Louis Oosthuizen, que já não tinha ido ao Rio, e com o alemão Martin Kaymer, que jogou no Brasil. E mais uma vez Dustin Johnson desistiu, todos alegando medo da pandemia.

O estrago ficou ainda maior quando começaram os testes obrigatórios para Covid, que deram positivo e tiraram de Tóquio o espanhol Jon Rahm, então número 1 do mundo, e o americano Bryson DeChambeau, 6º do ranking.

Sem vulcões ou epidemias, o golfe tinha tudo para se apresentar com força máxima na Olimpíada de Paris, com todas as mulheres e a imensa maioria dos homens fazendo questão de competir.

Pelo regulamento olímpico, a modalidade é jogada por 60 homens e 60 mulheres, em quatro dias, em competição individual, por soma de tacadas, como nos maiores eventos do mundo, incluindo os Majors, os torneios do Grand Slam.

Classificam-se os 15 primeiros do ranking mundial, com limite de quatro atletas por pais, e depois completam-se os 60, seguindo a ordem do ranking, com limite de dois golfistas por nação.

No entanto, o ranking que serve de classificação deixou de merecer a utilização do termo “mundial”. Os dirigentes excluíram da lista todas as competições do LIV Golf, milionário circuito criado em 2021 com patrocínio do fundo de investimentos estatal da Arábia Saudita. Uma “guerra” comercial não declarada contra o “concorrente”, onde jogam 15 ex-campeões de Majors.

Sem pontuar no ranking, a não ser em Majors, onde conseguem jogar por conta própria, e em outras raras ocasiões, todos membros do LIV foram perdendo posições no ranking, causando uma grande distorção na sistema olímpico de classificação.

A situação ficou tão absurda, que o americano Bryson DeChambeau, que acaba de ganhar o US Open, depois de ter ficado em sexto no Masters e de ter sido vice-campeão do PGA Championship, todos torneios do Grand Slam de 2024, não conseguiu se classificar para Paris. Ele aparece em 10º lugar do ranking mundial, mas apenas como o quinto melhor americano, perdendo a vaga para os quatro à sua frente.

Bryson DeChambeau, golfista americano
Bryson DeChambeau venceu o último US Open de golfe / Foto: David Cannon/Getty Images

Outro estrago importante foi feito pelos dirigentes da NOC*NSF (Nederlands Olympic Committee* Nederlands Sports Federation), que colocaram seus próprios limites para enviar golfistas a Paris.

Apesar de a Holanda ter classificado dois homens e duas mulheres, três deles foram impedidos de aceitar o convite, porque “não foi demonstrada qualquer possibilidade razoável de uma classificação entre os oito primeiros nos Jogos Olímpicos”.

Para a NOC*NSF só poderiam participar seus golfistas entre os Top 100 do mundo ou que tivessem terminado entre os oito primeiros em torneios específicos. Com isso, apenas Anne Van Dam, poderá representar o país. Ela é a 108º do ranking mundial, mas foi vice-campeã num dos torneios “classificatórios” da entidade.

Já Dewi Weber (302ª do ranking feminino), Joost Luiten (147º) e Darius van Driel (237º), no masculino, foram barrados. O maior argumento contra o envio dos atletas foram as medalhas masculinas de Tóquio: o eslovaco Rory Sabbatini (161º) ficou com a prata e o taiwanês C.T. Pan (181º) levou o bronze.

Na Olimpíada de Paris, os dirigentes acabam sendo o grande obstáculo do golfe.


Via CNN

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