sexta-feira, novembro 22, 2024
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gênio na música, idiota que lucra com seu ideal

Oitenta anos de Chico Buarque. Chico Buarque de Hollanda é um fenômeno paradoxal: é o maior compositor vivo da música popular brasileira. E é também o maior idiota político da realidade. Sua idiotice não apenas reverbera contra si mesmo, mas na influência direta numa realidade ditatorial que ele mesmo combateu décadas atrás. Chico, além de excelente letrista que versava sobre as paixões humanas e defendia a liberdade e combatia a opressão em todas as esferas humanas, combateu a ditadura militar, bem como censuras, perseguições, torturas, prisões indevidas. Pois bem: hoje, há no Brasil torturas, perseguições, prisões indevidas, exílios, massacres a direitos individuais aos moldes da ditadura combatida por Chico no passado. Mas Chico finge que não vê, porque a ditadura de hoje é justamente da ideologia que ele sempre professou. Os ideais de Chico Buarque valem apenas para quem ele queira que esteja ou não esteja no poder. Se o cantor e compositor cantou contra a tirania no passado, hoje ele silencia contra a tirania de sinal trocado porque quem ocupa o lugar do tirano é quem ele sempre quis que estivesse no poder. O curioso é que o espectro de quem está no poder no Brasil hoje é do pessoal que matou cem milhões de pessoas no século 20. Chico, um homem culto, ou desconhece a história, ou tem um caráter turvo, para dizer o mínimo. Se hoje ele deixa de alertar sobre os perseguidos da ditadura contemporânea, é porque os presos, torturados, exilados formam o espectro ideológico de quem ele sempre quis que fossem massacrados. Isto não é um ideal, isso é ideologia que aprisiona o ideal. Millôr Fernandes já disse de Chico que ele era um idealista que lucrava com seu ideal. Chico hoje lucra e recebe aplausos e louros por não só se silenciar sobre a monstruosidade de uma ditadura escancarada no Brasil como ainda louva os carrascos desta ditadura.

Como se deu este contraponto tão aberrante? Como um homem que compôs letras à beira da poesia que versavam sobre a condição feminina, a natureza humana, a opressão, a busca pela liberdade chegou a ponto de esconder um caráter tão mesquinho e tíbio a ponto de fingir que não vê, ou vê e endossa, pessoas sendo massacradas pela ditadura que um dia ele combateu? Chico é o epítome do artista brasileiro contemporâneo, cego à realidade por uma estética ideopata fácil que seduz por seus aspectos mais superficiais. Lula, o homem do povo, operário que chega ao poder, que vem do nada, etc. Um homem que se deixou corromper a ponto de fazer frente com oligopólios do poder para arrancar dinheiro do povo para colocar nas contas de parceiros corruptos. Chico é filho de Sérgio Buarque de Hollanda, o maior historiador do Brasil que fundou o PT nos anos 1980, antes do PT se transformar no partido que comandou os maiores esquemas de corrupção da história. Chico chegou ao final da vida sabendo desses escândalos. Fingiu que não viu, talvez para não trair a memória utópica do pai — que, provavelmente, teria vergonha não só da corrupção petista, como da ditadura brasileira que tem no PT um partido auxiliar, como teria vergonha da posição covarde e pusilânime de seu filho. A memória afetiva do pai se soma a uma vida inteira de engano em relação à esquerda e ao petista de Chico Buarque. É difícil para um homem entrado em anos perceber que passou uma vida inteira equivocada. O PT, bastião da honestidade na década de 80, se transformou no partido mais corrupto da história da República. A liberdade e a democracia apregoadas por Chico deram lugar a uma ditadura de esquerda que ele sempre percebeu como portal para a democracia. Tudo o que Chico acreditava se desmanchou no ar. Hoje, ele vive em negação da realidade. Só que sua negação significa a afirmação de pessoas inocentes morrendo na cadeia por crimes de opinião, sendo censuradas, tendo empregos e contas bancárias esvaziadas por crimes de opinião. A omissão de Chico Buarque faz dele um poeta que não vive a sua poesia. Chico se esconde nas belas letras que escreveu, esconde a sua perda de caráter que finge não ver a injustiça que sua voz hoje promove no Brasil.

É celebre uma briga de Chico com Millôr Fernandes, quando Chico teria cuspido do prato de Millôr num restaurante, justamente quando Millôr disse que Chico lucrava com seu ideal. Chico hoje cospe na própria obra quando se cega à monstruosidade tirânica que tomou conta de um país. Por razões estéticas, preferiu seguir um líder popular e sindicalista que traiu seus ideais roubando bilhões do bolso do trabalhador brasileiro para colocar no bolso de políticos e empreiteiros corruptos. Por razões de uma estética ideológica, criou uma falsa ditadura de um homem que era rude nas palavras, mas nunca perseguiu, torturou, prendeu ninguém por crime de opinião. Por razões estéticas, endossa um governo e um Judiciário que tortura, prende, massacra cidadãos livres por crime de opinião.

Chico é autor de inúmeros poemas musicados, como Construção, Mil Perdões, Roda Viva, João e Maria, Cotidiano, Geni e o Zepelim, além de canções que atacam desde a opressão amorosa até a opressão politica e da luta em torno da liberdade e da soltura das amarras de toda forma de tirania. Chico hoje é vítima da maior tirania que acomete um homem impedido por si mesmo de perceber a realidade: a ideologia cega. A ideologia cega de Chico Buarque cospe na cara do poeta Chico Buarque que não vê as vítimas do regime tirânico que Chico endossa e celebra. Apesar de você, Chico Buarque de Hollanda, amanhã há de ser outro dia. Apesar de você, Chico Buarque de Hollanda, grande poeta e homem sem caráter que traiu sua própria arte, o Brasil há de ser outro um dia.

Via Revista Oeste

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