sexta-feira, novembro 22, 2024
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Galvão Bueno diz que morte de Senna quase o fez parar de narrar

Um dos maiores comunicadores da TV brasileira, Galvão Bueno revelou que pensou em parar de narrar após a morte de Ayrton Senna, em 1994, na Itália. Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Galvão disse que só não deixou de exercer a função porque o piloto tricampeão mundial ficaria chateado.

Na noite desta segunda-feira (1º), Galvão Bueno detalhou os bastidores da emocionante transmissão da TV Globo. Ao vivo, o narrador teve que conter a emoção mesmo ciente da gravidade do acidente na curva Tamburello. Mais de 30 anos depois da morte do piloto, milhões de brasileiros ainda se lembram da frase “Senna bateu forte”.

“O acidente aconteceu quando estava abrindo a sétima volta. Não me sai da cabeça um erro que cometi. Era uma vontade que tinha, assim como milhões de brasileiros, que ele pudesse sair bem. A primeira sensação que tive era: vão tirar ele do carro, ele vai bater a poeira e vai embora. Mas aquela demora para tirar do carro, aquela coisa mais séria, não deixa ninguém ver, vem a ambulância, o helicóptero”, contou.

“Tem um momento em que ele mexe a cabeça. E eu digo: ‘Senna mexeu a cabeça, está voltando’. Depois de todas as conversas que tive com o Sid Watkins, que era o médico da Fórmula 1, aquele foi o estertor da morte. Depois ficamos sabendo que a barra da suspensão quebrou, entrou e saiu.”

Na entrevista, Galvão Bueno também falou sobre o momento em que recebeu a informação da morte de Senna, já no Hospital Maggiore, em Bolonha. O jornalista estava acompanhado do austríaco Gerhald Berger, ex-piloto de Fórmula 1, e de Antônio Carlos de Almeida Braga (Braguinha), empresário e também amigo de Ayrton.

“Eu não tive coragem de vê-lo. Quando chegamos eu, Berger e Braguinha, fomos no helicóptero do Berger, o Sid Watkins veio na sala falar com a gente e disse: ‘A notícia que eu tenho é a pior possível: ele está morto. O coração bate, mas a morte cerebral já foi determinada faz tempo. Mas posso garantir a vocês que ele não está sofrendo. Não posso impedir ninguém de vê-lo, mas não aconselho’. Na hora, eu disse que não ia ver, o Braguinha também. O Berger falou que queria entrar para ver pela última vez. Botaram uma roupa para entrar na UTI, ele entrou e eu só fui vê-lo três dias depois no funeral”, completou Galvão.

No Roda Viva, o histórico narrador disse que, diante da aflição pela falta de notícias de Senna, pediu ao comentarista Reginaldo Leme para prosseguir com a transmissão. Naquele momento, Galvão sentiu que precisava respirar fundo.

“Quando ele [Senna] sai e o helicóptero decola, eu me lembro direitinho o que disse: ‘Vá, meu amigo, vá com Deus. Seja forte e lute muito. Estamos todos torcendo e rezando por você, o mundo inteiro. Seja forte’. Pela conversa, ele já tinha tido a morte cerebral. Na hora, o [Roberto] Cabrini já largou a transmissão, foi para Bolonha no hospital e o contato era muito difícil. Por dois ou três momentos, pedi ao Reginaldo para tocar [a transmissão], eu precisava ir lá fora respirar, não estava aguentando. Eu tinha que levar até o fim, era a minha função”, afirmou.

Por fim, Galvão destacou que, nas corridas posteriores à morte de Senna, houve dois graves acidentes na Fórmula 1. As batidas deixaram o narrador assustado, o que, inicialmente, o levou a pensar que era a hora de parar. No entanto, ele seguiu a carreira e narrou a categoria até 2019 na Globo.

“A corrida seguinte foi em Mônaco. A Fórmula 1 fez uma homenagem fantástica, porque o local da pole position ficou vazio, era o lugar dele. O pole largou na segunda posição. Na quinta-feira, no primeiro treino, teve um acidente terrível. Aquilo me assustou muito, eu disse: ‘Não, tudo de novo não’. A corrida seguinte foi na Espanha, teve outro acidente muito forte. Falei: ‘Gente, acho que eu vou parar’. Mas é aquele ‘acho que vou parar’ naquele momento, naquela hora. Eu sabia que muita história ainda teria que ser contada. Na outra dimensão, onde ele continua brilhando muito, ele não gostaria que eu tivesse parado de transmitir. E foram mais 25 anos”, encerrou.

Via CNN

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