O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, afirmou nesta quinta-feira, 22, que se expressou mal e que suas recentes declarações sobre mudanças na taxa Selic foram mal interpretadas pelo mercado. Ele disse que precisava estar aberto a críticas.
“Vim agora de uma fala em que me expressei mal e tive uma interpretação inadequada, ainda que tenha repetido várias vezes: estou reafirmando minha fala anterior”, disse o favorito a ser o próximo presidente do Banco Central, durante evento com alunos da Fundação Getulio Vargas (FGV), em São Paulo.
Mais cedo, uma declaração de Galípolo durante evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) impactou o mercado financeiro. Isso contribuiu para a alta de 1,97% do dólar.
Impacto no mercado financeiro da fala de Gabriel Galípolo
Em uma declaração considerada menos “dura” por agentes do mercado, o diretor do Banco Central disse “discordar respeitosamente” das interpretações de que a instituição ficou em situação difícil em relação aos juros depois das declarações recentes de seus diretores — especialmente as dele próprio.
“Na minha interpretação, posição difícil para o BC não é ter que subir juros; posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável”, afirmou no evento automotivo. “Subir juros é uma situação cotidiana para quem está no BC”.
Nas últimas semanas, o mercado financeiro tem analisado de perto as declarações de Galípolo e do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. O setor busca sinalizações sobre a política de juros, de acordo com a Folha de S.Paulo.
Na terça-feira 23, por exemplo, um aparente desencontro entre os dois gerou alta no dólar.
Expectativas e reafirmações
O diretor do BC reconheceu aos estudantes da FGV que havia uma certa expectativa para entender se suas declarações manteriam o mesmo tom — afirmações mais duras contra a inflação têm levado à interpretação de que haverá aumento de juros.
Na fundação, Galípolo reafirmou que o Banco Central usaria as ferramentas necessárias para atingir a meta de inflação.
“Espero que tenhamos conseguido deixar claro que, a partir do cenário que temos hoje, a alta de juros está na mesa”, disse.
O diretor do BC evitou perguntas sobre política fiscal, mas afirmou que “todos estão vendo o tamanho do esforço” feito pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), para atingir o equilíbrio nas contas públicas.
Nos últimos dias, a avaliação de que os juros vão subir pelo menos 0,25 ponto porcentual na próxima reunião do Banco Central em setembro ganhou força entre agentes financeiros.
Expectativas para a Selic
Levantamento feito nesta semana pela Folha com 24 instituições mostra que seis esperam uma primeira elevação da Selic em setembro, quando ocorre o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom). Algumas instituições já projetam alta de 0,5 ponto porcentual nos juros no próximo mês.
Embora esse movimento ainda seja minoritário, com a maioria esperando manutenção da Selic em 10,50% até o fim do ano, e nenhuma das casas esperando corte da taxa, muitas instituições consultadas pela reportagem disseram que estão em processo de reavaliação das projeções.
Meta de inflação
A meta de inflação perseguida pelo BC é de 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão federal ligado ao Ministério da Fazenda), com margem de tolerância de 1,5% para cima e para baixo.