Funcionários que trabalharam na residência presidencial da Argentina durante o mandato de Alberto Fernández confirmaram ao jornal La Nacion as denúncias de que o ex-presidente agredia fisicamente a então primeira-dama Fabiola Yáñez.
Um dos episódios de violência presenciado por dois ex-funcionários ocorreu quando Alberto Fernández e Fabiola Yáñez já estavam separados. A ex-primeira-dama morava em uma casa de hóspedes próxima à residência principal.
Um dia, Alberto Fernández desceu do helicóptero presidencial e foi até a casa onde Fabiola Yáñez morava com o filho do casal. No local, os funcionários disseram ter ouvido gritos e visto o ex-presidente agarrando a ex-mulher pelo cabelo e segurando-a pelo braço.
O administrador interveio em meio à briga, separando o então presidente da primeira-dama. O peronista precisou ser tirado do local em um carrinho de golfe para se acalmar.
O relato dos ex-funcionários foi publicado pelo La Nacion neste domingo, 11. Ambos trabalharam na Quinta de Olivos, a residência presidencial, quando o ex-presidente vivia lá — um deles era administrador da propriedade, e o outro, um militar ainda na ativa.
Outro ex-empregado de Olivos relatou ao jornal que não testemunhou nenhum episódio de violência contra Yáñez durante seu tempo de serviço. Ele, que preferiu não se identificar, mencionou que muitos funcionários e visitantes provavelmente viram Yáñez machucada, considerando que cerca de 200 pessoas entram e saem da residência diariamente.
Fabiola Yáñez denuncia Alberto Fernández
Em sua primeira entrevista depois de o caso vir à tona, publicada no sábado 10, pelo portal Infobae, Yáñez afirmou que nunca recebeu ajuda, embora “muitas pessoas” soubessem da suposta situação de violência na época em que viviam na Quinta de Olivos, em Vicente López, ao norte de Buenos Aires.
Ela também mencionou ter sofrido “assédio telefônico e terrorismo psicológico” por parte do ex-presidente. “Durante dois meses ele me ameaçou dia sim, dia não, dizendo que se eu fizesse isso, se fizesse aquilo, ele se suicidaria”, contou.
Yáñez apresentou uma denúncia contra o ex-presidente por violência doméstica depois do vazamento de fotos que mostram a ex-primeira-dama com marcas de golpes e hematomas em um braço e no rosto.
“Hoje eu não pude sair de casa, puseram inibidores que faziam com que o carro desligasse”, declarou ao solicitar a investigação na Justiça. O juiz argentino Julián Ercolini, responsável pelo caso, pediu o reforço da segurança de Yáñez na capital espanhola.
A ex-primeira-dama atualmente reside com seu filho de 2 anos em Madri, na Espanha. Ainda ao Infobae, ela expressou temer por sua segurança. “Tenho que me resguardar, tenho medo”, afirmou.
Fernández nega agressões
Alberto Fernández, de 65 anos, negou todas as acusações. “A verdade dos fatos é outra”, declarou em uma publicação nas redes sociais na terça-feira passada, 6. Em entrevista ao jornalista Horacio Verbitsky, na sexta-feira 9, o peronista afirmou que o hematoma no rosto de Yáñez, visível em uma foto vazada, foi causado por um tratamento estético.
No mesmo dia da entrevista, a Justiça realizou buscas na residência do ex-presidente em Buenos Aires. Ele teve o celular apreendido e medidas restritivas impostas, incluindo a proibição de sua saída do país.
O caso gerou repercussão em todo o espectro político argentino, especialmente na oposição peronista, movimento ao qual o ex-presidente pertence. Fernández governou a Argentina entre 2019 e 2023.
A ex-presidente e ex-vice do peronista, Cristina Kirchner, afirmou no Twitter/X que seu ex-companheiro de governo “não foi um bom presidente”. Também declarou que as imagens do caso revelam “os aspectos mais sórdidos e obscuros da condição humana”.